As dinâmicas econômicas regionais acontecem de diversas formas. Por vezes, há a atuação do Estado, por meio de políticas públicas, ou uma região tem localização privilegiada que facilita iniciativas ligadas à logística, ou então características naturais que a destacam em atividades turísticas, enfim, há uma série de possibilidades para a promoção do desenvolvimento econômico.
Foz do Iguaçu (PR), por exemplo, enfrentava sérios problemas relacionados à segurança pública e a própria imagem de cidade violenta na década de 1990 e início dos anos 2000. Hoje, o cenário é completamente diferente. A economia local foi estimulada por meio de uma combinação de fatores, dentre eles, maior fiscalização das forças de segurança e investimentos em turismo, realizado por entes públicos e privados.
Outro exemplo de mudança de perfil e estímulo a atividades econômicas é a região da Campanha Gaúcha, localizada em áreas fronteiriças com a Argentina e o Uruguai, que vem se destacando, há alguns anos, por meio da vitivinicultura: dali tem saído premiados vinhos e espumantes. Mas, além do cultivo da uva e da concepção das bebidas, a região, que até os anos 1980 era mais conhecida pela produção de grãos como arroz e soja e pela pecuária, viu no vinho uma oportunidade de incrementar ainda mais uma cadeia propulsiva que hoje integra passeios, degustações, hoteis, restaurantes e eventos.
O vinho riograndense produzido na fronteira tem influenciado investimentos em atividades turísticas: passeios guiados, hoteis fazenda e lojas de vinhos, estas beneficiadas com a isenção de impostos no modelo de negócio de lojas francas em municípios de fronteira caracterizados como cidades gêmeas, como o Almadén Free Shop, uma loja franca de vinhos que pertence à Miolo Wine Group, com exposição e venda de 120 rótulos, cujos preços praticados são bem abaixo do mercado pois não há impostos embutidos no valor.
Neste movimento, logo surgem spas, cosméticos à base de uva/vinho e uma série de produtos que podem ser beneficiados. Em 20 de julho, entrou em operação o mais novo passeio da região: o Trem do Pampa. Com saídas aos sábados da cidade de Santana do Livramento, durante três horas, os passageiros conhecem mais as paisagens da região, a história do Rio Grande do Sul e podem degustar vinhos e sucos de uvas produzidos lá. Além disso, artistas locais fazem apresentações durante o trajeto.
Clori Giordani Peruzzo, representante da Associação do Pampa Gaúcho de Turismo (APATUR) comenta que a maior parte dos turistas da região, atualmente, é de brasileiros. Mas há fluxo contínuo e crescente de uruguaios e argentinos, principalmente pela proximidade das fronteiras. Sobre o acesso, ela explica que além do trajeto rodoviário, há aeroportos próximos, em Pelotas e em Uruguaiana. Até o final do ano há a expectativa de haver voos também para Bagé. Outra opção é o Aeroporto Internacional de Rivera (Uruguai).
“Além do vinho, temos também uma grande produção de azeite de oliva de alta qualidade. Há degustações em pomares ou nas próprias indústrias nas cidades de Caçapava do Sul, Bagé, Santana do Livramento e Dom Pedrito”.
Com a mobilização da sociedade civil, universidades, produtores, enólogos, organizações públicas e privadas e investidores, a região da Campanha Gaúcha tem dado boas vindas a novas atividades produtivas e a novos perfis de investimentos em regiões de fronteira.
Linha do tempo: momentos marcantes para a Vitivinicultura e o Enoturismo na Campanha Gaúcha
- Anos 1970: Vinícola Almadén instala-se na região.
- Anos 1970 – até hoje: pesquisas realizadas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) relacionadas a uvas viníferas.
- Final dos anos 1990 e início dos anos 2000: criação da maior parte das vinícolas que existem atualmente.
- Anos 2000: estudos e pesquisas da “Embrapa Uva e Vinhos” e da Universidade Federal do Pampa (Unipampa).
- 2020: conquista do selo de Indicação de Procedência (IP) Campanha Gaúcha
- 2024: início da operação “Trem do Pampa”
Mais informações:
