Dados da Pesquisa IOT Snapshot 2024, lançado pela Logicalis em abril desse ano, apontam que 73% das empresas do Brasil não têm equipes dedicadas ao desenvolvimento de Inteligência Artificial (IA), enquanto somente 23% já capacitaram profissionais para o uso dessa tecnologia. A pesquisa ainda aponta que 30% das empresas do país não possuem setores especializados em IA por falta de mão de obra. Dados esses que vão ao encontro de apontamentos feitos em um relatório divulgado pelo Google em 2023, em parceria com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups). O estudo mostrou que, até 2025, o Brasil terá um déficit de 530 mil profissionais da área de tecnologia.
Ainda segundo o relatório do Google, anualmente, 53 mil profissionais irão se formar entre 2021 e 2025, mas a demanda por novos talentos nesse período será de 800 mil. Igor da Penha Natal, Professor Doutor do Programa de Pós-graduação em Gestão do Conhecimento nas Organizações (PPGGCO) da UniCesumar, membro do Learning Analytics Lab (LeAL) e pesquisador científico na área de Inteligência Artificial, aponta que o déficit de profissionais acontece pela rapidez com que a tecnologia e a IA têm evoluído nos últimos anos.
“As habilidades e conhecimentos necessários para atuar nessas áreas mudam constantemente, exigindo que os especialistas se mantenham atualizados e adquiram novas competências com frequência. Isso representa um desafio, especialmente em um mercado de trabalho altamente competitivo”, pontua.
Para tanto, o professor sugere saídas de como as empresas podem contornar a falta de talentos da área. “Existem diversas estratégias para enfrentar esse déficit: as empresas, instituições de ensino e os próprios profissionais precisam trabalhar em conjunto, estarem mais próximos. As empresas devem investir em programas de treinamento e desenvolvimento interno, enquanto as escolas e universidades devem se esforçar para criar cursos e programas que atendam às necessidades do mercado, e, sempre que possível, atualizarem os cursos. Além disso, os profissionais de tecnologia e IA precisam se comprometer com a aprendizagem contínua e a atualização constante de suas habilidades”, diz.
O mercado de IA vem crescendo de maneira exponencial, como apontam os dados da Grand View Research, que trazem uma taxa anual de crescimento de 37,3% entre 2023 e 2030. Esse avanço já é o suficiente para impactar diferentes indústrias da sociedade. Na área de finanças, por exemplo, Natal diz que tarefas como análise de riscos, detecção de fraudes, tomada de decisões de investimento e automação de processos já estão sendo aplicadas, o que permite os profissionais tomarem melhores decisões com base em insights gerados por sistemas de IA.
Até mesmo na saúde a tecnologia está sendo utilizada para apoiar o diagnóstico precoce de doenças, a personalização de tratamentos e a otimização de fluxo de trabalhos em hospitais e clínicas. Já no varejo, a ferramenta é aplicada na recomendação de produtos, previsão de demanda e otimização de estoque.
“Essas são apenas algumas das transformações que a IA está promovendo em diversos setores. À medida em que a tecnologia evolui, é crucial que os profissionais se mantenham atualizados e adquiram novas habilidades para se adaptarem a essa realidade em constante mudança”, completa o especialista.
O especialista diz que as perspectivas para os próximos cinco anos são promissoras. Fatores como a adoção generalizada de IA em diversos setores, investimentos cada vez mais frequentes e a demanda por automação e eficiência devem fazer com que a área de IA esteja cada vez mais presente no cotidiano das pessoas.
“Governos, empresas de capital de risco e grandes corporações estão investindo pesado em pesquisa, desenvolvimento e implementação de soluções de IA, criando um ambiente propício para o crescimento do setor”, informa.
Natal diz que, assim como em toda grande revolução de mercado, profissões deixam de existir para outras surgirem.
“Especialistas em Ética e Governança de IA; Engenheiros de Aprendizado de Máquina; Cientistas de Dados e Designers de Experiência do Usuário (UX) Orientados a IA são alguns exemplos de novas profissões que já estão surgindo no mercado”.
E, mesmo com a automação de tarefas, o professor assegura que a IA também cria a necessidade de habilidades humanas complementares, como criatividade, empatia, liderança e resolução de problemas complexos.
“Com isso, funções que envolvem interação humana, tomada de decisões estratégicas e inovação tendem a se valorizar cada vez mais”, pontua.
A Vitru Educação, maior grupo de educação EAD do Brasil, tem aplicado inovações em IA para transformar a experiência de estudantes, docentes e colaboradores, investindo até 5% da receita em tecnologia. Um dos projetos de destaque é o Entrevistador VirtUAU, que simula entrevistas de emprego e fornece feedback imediato aos alunos usando algoritmos de aprendizado de máquina e análise de sentimentos, preparando-os melhor para o mercado de trabalho.
Outra iniciativa é a assistente virtual SofIA, que venceu o Prêmio Internacional MetaRed TIC 2024 na categoria “Experiência do Aluno”. SofIA responde perguntas dos alunos e os estimula a buscar informações, promovendo um melhor aproveitamento dos conteúdos através de uma metodologia de aprendizagem própria desenvolvida pelo time acadêmico da Vitru. Além disso, a Vitru implementou um bot de atendimento, utilizado por mais de 400 mil alunos, que resolve 76,53% dos casos no primeiro contato e reduziu o tempo de atendimento em 40%.
O Programa Geração IA incentiva colaboradores a propor soluções inovadoras com IA para resolver problemas diários e antecipar oportunidades na educação. Em 2023, 218 ideias foram inscritas e quatro premiadas. A Vitru também estabeleceu um manifesto para o uso ético e responsável da IA, guiando a transformação digital com princípios de inclusão, diversidade, privacidade e segurança da informação.