Nem Cataratas do Iguaçu, nem hidrelétrica de Itaipu, nem outros atrativos turísticos já consolidados em Foz do Iguaçu. O destino dos visitantes que compram os pacotes turísticos da Associação Fraternidade Aliança (AFA) é a própria entidade.
Quem assume o papel de guias de turismo são os jovens que frequentam atividades oferecidas no horário em que não estão na escola. Duas vezes por semana, eles conduzem passeios preparados com as premissas do turismo criativo, uma visita à realidade local.
A AFA acaba de lançar duas opções turísticas: a oficina de arteterapia e dinâmica de grupo chamada “Sente com a gente” e a experiência “Somos fraternidade, vem sentir”.
Os pacotes inovadores foram desenvolvidos com consultoria do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e com apoio da Itaipu Binacional, a partir do interesse crescente dos turistas em conhecer a fundo o local que visitam, incluindo culinária e cultura, transformando a viagem numa experiência.
O objetivo principal da AFA é propiciar aos jovens atividades terapêuticas que possam ser aliadas à geração de renda e possibilitar vivências de responsabilidade e comunicação, fazendo com que tenham contato com o mercado de turismo, principal atividade econômica de Foz do Iguaçu.
“Percebemos que uma forma de aprendizagem e de consolidação da cidadania é oportunizar que eles sejam os protagonistas”, explica Suzane Amorim, gestora de projetos da AFA.
Foi identificada, ainda, uma potencialidade de que isso pode ajudar no processo de transformação da mentalidade e dos ciclos que as famílias desses jovens vivem.
As atividades promovidas pela AFA se encaixam no perfil de turismo criativo definido pela UNESCO como viagens que valorizam a cultura viva do local e proporcionam uma experiência autêntica, com aprendizagem participativa e conexão com os moradores.
Dessa forma, na oficina “Sente com a gente”, realizada na sede da AFA, os jovens conversam com os visitantes e apresentam as salas de atendimento, a capela, a quadra de esportes e os espaços em que são desenvolvidas atividades de esporte, cultura e lazer.
Juntos, elaboram um suvenir e partilham o lanche afetivo, com produtos preparados e cultivados dentro da própria entidade.
O diretor de Turismo do Itaipu Parquetec, Yuri Benites, participou de uma das primeiras edições da oficina ainda em desenvolvimento. Ele considerou a experiência intensa, porque se lembrou de como era 21 anos atrás, também morador do mesmo bairro onde a AFA está localizada.
“Num momento de introspecção, relembrei de mim mesmo, da minha atual motivação, da linda oportunidade de, por meio do meu trabalho, auxiliar na construção de uma vida melhor para essa meninada cheia de sonhos e aspirações.”
Já a experiência “Somos fraternidade, vem sentir” ocorre em outro espaço mantido pela entidade, o Complexo Terapêutico Infantojuvenil Padre Arturo Paoli, onde são acolhidos crianças, adolescentes e jovens com questões de saúde mental.
O local é considerado referência por oferecer, pelo SUS, práticas integrativas como acupuntura, constelação familiar e aromaterapia (uso de óleos essenciais para promover saúde).
E, justamente, a aromaterapia é o foco desse passeio. Os visitantes participam da semeadura, depois visitam a estufa e acompanham o cultivo de plantas com técnicas de hidroponia, sem uso de terra.
Outra parada é no jardim sensorial, com identificação de plantas medicinais. A experiência termina com uma oficina em que os participantes criam suas próprias combinações de óleos essenciais e desfrutam o café afetivo, levando para casa um buquê de hortaliças!
“Saber que existe um trabalho social com base no conhecimento que a natureza dá me surpreendeu positivamente”, avaliou Lucas Filho, um dos primeiros participantes convidados.
As hortaliças cultivadas na estufa também estão à venda para moradores locais e para empresas como restaurantes e hotéis. O restaurante Sabor do Peixe Petiscaria compra até cem pés de alface por semana, além de tempero verde e hortelã.
A proprietária, Millene Ahmad, conta que sempre mostra o restaurante aos jovens envolvidos no projeto:
“Como sou uma empreendedora jovem, eles ficam felizes em conhecer a minha história, e isso acaba trazendo mais motivação.”
Para os jovens “guias de turismo” da AFA, essas atividades são uma ponte entre os estudos, a capacitação profissional e tudo o que eles possam almejar para o futuro. Aos 14 anos, Kauã Messias estreou numa atividade de ocupação e renda.
“Na primeira vez, eu fiquei até nervoso, mas a nossa coordenadora disse que era só falar o que eu sabia. Aí foi!”, relembra.
A colega dele Tábata Beatriz, de 15 anos, já faz planos:
“Eu sempre gostei da área de turismo e estou me preparando para o mercado de trabalho.”
Guilherme Matheus, de 14 anos, está encantado com a oportunidade de lidar com plantas.
“A parte que eu mais me identifico é a aromaterapia, porque utilizo para tratar minha ansiedade e agradeço, porque me ajudou muito.”
Com apenas 15 anos, Nicholas Leandro já entendeu a importância do cultivo sem agrotóxicos:
“Me identifiquei mais com a hidroponia, é o que eu mais gosto de desenvolver.”
O valor pago pelos turistas e pelas pessoas que compram as hortaliças é dividido entre os jovens que atuam como “guias de turismo” e usado para a manutenção das ações.
Para participar, os interessados devem fazer o agendamento prévio. A responsável pelas vendas, Juliane Ebling, considera que esse tipo de vivência está em expansão:
“Com a AFA, não estamos só buscando conhecer uma sociedade que precisa de apoio, mas estamos entendendo o quanto a gente consegue encontrar inspirações para seguir.”