“Se meu peito fosse o mundo”, eu teria fôlego suficiente pra gritar aos quatro ventos: Rodrigo Lemos, um curitibano, ganhou o Grammy Latino. Poucos veículos de comunicação da mídia tradicional-hegemônica paranaense noticiaram isso – o que é um absurdo diante de tanta grandeza.
Um cantor, compositor, multi-instrumentista, produtor musical, “um artista” (como ele gosta de se definir) – e o que mais for preciso ser –, Lemos fez parte de uma das mais relevantes bandas de rock independente dos anos 2000, a Poléxia.
Se entrelaçou em mil outros projetos, como Naked Girls and Aeroplanes, Lemoskine, Sabonetes, (e eu vou esquecer outros milhares, porque ele fez muita coisa). Depois encabeçou, ao lado de Uyara Torrente e Vinícius Nisi, A Banda Mais Bonita da Cidade. Foi com Lemos que o hit chiclete (e maravilhoso) “Oração” nasceu e ganhou vida, se tornando um dos primeiros casos de vídeo viral do Brasil, em 2011.
Figura conhecida do cenário musical de uma Curitiba que borbulhava cultura e gritava arte no final dos anos 90 e início dos anos 2000, Lemos é um gênio.
Passeou com maestria por diversos mundos musicais, enredou-se por outras áreas, e, em todos os cantos, mostrou uma sensibilidade diferente, uma apuração emocional exacerbada e uma técnica musical impecável, dizem os que já trabalharam com ele.
Por isso, não é surpresa para quem acompanhou sua carreira que, agora, em 2024, ele tenha recebido quatro indicações ao Grammy Latino e, ao final, tenha levado para casa o prêmio de Melhor Álbum de Engenharia de Gravação, em coautoria com outros músicos. São eles: Thiago Baggio, Will Bone, Leonardo Emocija, Felipe Vassão, João Milliet, Felipe Tichauer. O gramofone dourado hoje está na estante que deveria estar.
Lemos brilhou junto com o coletivo dele – aliás, bom lembrar que ele sempre teve esse talento de fazer brotar coletivos culturais. Lemos leva com ele trupes, bandos e junta todo mundo pra tocar, pra fazer música.
Dessa vez, com apenas um mês de lançamento, o álbum “Se meu peito fosse o mundo” do Jota.Pê, atingiu a marca de mais de 2,5 milhões de reproduções no Spotify. Álbum e artista puderam contar com o talento criativo do nosso Rodrigo Lemos. E juntos ganharam os holofotes internacionais.
Como eu já disse anteriormente, é difícil entender como a mídia paranaense pouco falou desse grande trunfo de um artista curitibano (tudo bem que ele nasceu no Rio, mas ele já disse algumas vezes que o coração dele é bem curitibano) em parceria com outros brasileiros.
Onde estão as entrevistas de página inteira, os Questionários Proust, os perfis descritos por grandes jornalistas? Cadê os posters do Lemos para colarmos nas portas do armário ou qualquer outra celebração que mostre que, sim, aqui também se faz música de altíssima qualidade?
Fernanda Torres, em uma entrevista recente, resumiu bem o que eu sinto. Ela disse que o brasileiro tem “pena do mundo não saber o que a gente sabe” sobre o que é nosso, sobre a nossa cultura. Eu tenho pena.
Gosto de pensar que um dia meu povo será celebrado por ele mesmo pelos triunfos vividos. Por isso fiquei tão comovida vendo o Lemos chegar onde ele deve estar.
Em grandes palcos. Celebrado por muitos.