Em um cenário global cada vez mais dinâmico e competitivo, as fusões e aquisições (M&A) continuam a desempenhar papel estratégico para empresas que buscam expandir os negócios, diversificar portfólios e enfrentar, e superar, desafios econômicos.
Para entender as tendências emergentes envolvendo essas áreas, os setores mais promissores e as oportunidades estratégicas que podem conduzir os mercados em 2025, os executivos Erich Hüttner, diretor-executivo (CEO) da VSH Partners – boutique de M&A especializada em venda de empresas com faturamento superior a R$ 30 milhões anuais –, e Mário Cardoso, diretor de M&A, compartilham suas visões sobre o que os empresários brasileiros podem esperar do setor de M&A em 2025.
Eles também indicam estratégias, alinhadas aos movimentos globais, que podem fazer a diferença no cenário nacional.
Em 2024, a área de M&A apresentou um desempenho significativo tanto no Brasil quanto no cenário internacional, refletindo uma recuperação significativa após períodos de incertezas econômicas. Globalmente, o mercado de M&A também viveu crescimento em 2024. No segundo trimestre, houve um aumento de 17% no número de operações em comparação ao mesmo período de 2023. Como você enxerga que foi o mercado de M&A no ano que passou?
Erich: Como os dados bem mostram, foi um cenário promissor, um cenário com um somatório de esforços de todo o ecossistema de fusões e aquisições no nosso país, além dos atores internacionais, que têm uma participação, um contexto super importante, porque uma boa parte das transações se deu com investimentos estrangeiros também.
No geral, avalio 2024 como um ano satisfatório. Segundo dados da KPMG, o Brasil registrou 426 operações de fusão e aquisição de empresas no segundo trimestre de 2024, representando um aumento de 17% em comparação ao mesmo período do ano passado.
Foi um ano, portanto, com desafios que as todas as fusões e aquisições, naturalmente, nos impõem, mas, de modo geral, um ano satisfatório para o mercado de M&A.
Quais setores mais se destacaram em 2024 e quais têm tudo para serem protagonistas em 2025?
Erich: Tecnologia foi um setor que nos últimos anos temos observado uma crescente. O agronegócio é outro muito forte, promovendo transações muito relevantes no cenário nacional e, como VSH Partners, percebemos também um crescimento muito significativo no setor de contabilidade.
O setor da indústria também, apesar de questões tributárias e de outras que atrapalham o setor industrial, continua se saindo bem e se mostrando relevante.
Em 2025, a tendência é de que siga na mesma linha, com capacidade de escalonamento. Setores que geram demandas recorrentes sempre vão ter um bom espaço dentro do mercado transacional.
Observamos que critérios de ESG (que envolvem preocupações ambientais, sociais e de governança) foram fatores decisivos em transações internacionais neste ano. Como você percebe que essa tendência vem influenciado as operações de M&A também no Brasil?
Mário: O Brasil precisa sempre cuidar para não ficar isolado do restante do mundo. Isso é uma tendência de negócios e precisamos estar atentos a isso. A força do capital não pode ignorar outros pressupostos que são tão ou mais valiosos do que o capital.
As empresas precisam ter essa consciência, e a tendo, estabelecer planos e ações para estarem alinhadas a essas tendências globais. A preocupação com a área de ESG é uma delas, de enorme importância.
Quando as empresas são fortes na governança, no compliance e na preocupação ambiental, por exemplo, quer seja por política ou experiência acumulada, a transação tende a fluir melhor. As auditorias, as due diligences, tendem a ser mais suaves por ter princípios em comum.
Entretando, a seriedade, a efetividade das ações que são feitas, também precisam ser comprovadas, caso contrário, ainda ficam no campo da intenção e não propriamente da ação em ESG.
O setor de Tecnologia da Informação, TI, liderou as operações de M&A no Brasil em 2024. Quais fatores impulsionaram esse movimento? E você acredita que esse cenário tende a se repetir em 2025?
Erich: Ativos que tem a característica de recorrência (como softwares que geram o pagamento de mensalidades e capacidade de multiplicar esse alcance e pagamento dos usuários, por exemplo) são um prato cheio para os investidores.
O investidor precisa da performance para o seu capital. Os juros estão altos, o dinheiro caro, e quando olhamos privilégios e alguma ineficiência de gestão do governo, percebemos que isso gera um ciclo vicioso dentro do cenário macroeconômico, que acaba tornando os investimentos mais desafiadores, ou seja: está mais confortável deixar o dinheiro em uma renda-fixa porque ele está rendendo.
Para o empresário escolher retirar esse capital de um campo mais seguro e investir no empreendedorismo, precisa ter segurança de que onde ele estará investindo tem capacidade de multiplicação e geração de mais riqueza por meio do capital. E o setor da tecnologia tem muito dessa característica, dessa capacidade.
No primeiro trimestre de 2024, ocorreram 245 fusões e aquisições globais envolvendo a área de Inteligência Artificial, totalizando mais de 35 bilhões de dólares, o que representa um aumento de 168% em relação ao mesmo período de 2023. Você entende que o Brasil está inserido nesse contexto?
Mário: Sim! O Brasil ainda é deficitário em serviços de qualidade e a tecnologia é capaz de reduzir essa lacuna. O desenvolvimento da inteligência artificial tende a ajudar muito na análise de dados e de mercado, por exemplo, e permite que sejamos mais produtivos.
Ao utilizar a Inteligência Artificial nas empresas, o empresário vai criando um grande diferencial em relação a outras companhias do mesmo setor. Com mais desempenho nesse sentido, ele conquista mais tempo, rentabilidade e, portanto, lucro.
E tudo o que dá resultado no mercado empresarial, tem consequências nas operações de M&A. Quem não utilizar está fora do jogo.
Hoje, mais do que nunca, a Inteligência Artificial precisa fazer parte do dia a dia do empresário, do líder da organização, para que o time possa ser influenciado para um bom uso dessa solução, buscando sempre a inovação, a otimização e a eficiência dos processos e dos recursos.
A queda das taxas de juros nos Estados Unidos pode continuar a influenciar o mercado global de M&A, tornando investimentos em países emergentes, como o Brasil, mais atrativos?
Mário: Sim, influencia. O dólar ele tende a ficar mais caro, mais alto. O Brasil tem uma parte enorme da economia que é exposta ao dólar (desde o tesouro brasileiro, que tem indexação ao dólar, até os mercados de exportações a que o país está exposto).
Aliado a isso, temos uma reforma tributária, que tirou os rastros de confiabilidade do Brasil. Por conta disso, o Brasil, quando for comprar dinheiro no mercado exterior, vai pagar mais caro, porque tem um risco de “calote”. E, ao comprar esse dinheiro mais caro, o país tende a repassar essas taxas, o acesso ao crédito a um valor mais alto.
Isso tudo é um aspiral. Os empresários precisam de linhas de crédito para acompanhar as tendências e modernizar, para gerar riquezas em inovações empresariais. E nesse cenário mencionado, o momento se torna mais desafiador.
É preciso ter ciência disso. Os conflitos armados que vêm ocorrendo em diferentes partes do mundo também tendem a influenciar os negócios, porque tudo o que acontece em um local, naturalmente, influencia em outro. O dinheiro, por outro lado, não desaparece. Ele existe e está aí para boas teses, bons investimentos e boas aquisições.
É importante saber que sempre que enfrenta tempos difíceis, a sociedade tem uma boa resposta em termos de eficiência e essa é uma maneira construtiva de analisarmos o cenário que está diante de nós. Depois de desafios, mais fortes e reinventados tendem a sair a economia e o mercado financeiro.
Que conselhos daria para empresas que planejam realizar operações de M&A em 2025, considerando o cenário econômico e as tendências emergentes?
Erich: É importante lembrar que estabilidade não existe. Hoje vivemos em um mundo em que tudo se modifica o tempo todo. Temos três certezas na vida: a morte, os tributos que teremos que pagar e que as coisas mudam. Não há como fugir dessa realidade.
O empresário tem que ter um movimento de crescimento constante, ter esse apetite, entender os custos de sua organização, rever custos que não geram vantagens e retornos efetivos na organização, e buscar ser eficiente ao máximo. Não há espaço para amadorismo, o mercado não comporta isso.
O empresário tem que se qualificar, tem que estudar, precisa assistir a canais de podcasts como o do VSH Partners que é o maior canal de M&A e operações de investimentos do Brasil, e buscar a inovação sempre por meio da tecnologia e da inteligência artificial, em busca da assertividade e do melhor desempenho.
Mário: A Organização da parte financeira e tributária é essencial, assim como ter os processos delineados, um plano de negócios concreto e objetivo, não intenções somente, e os indicadores bem claros.
Para ir para uma operação de M&A, essas etapas são as básicas e muito importantes. Sem isso, o empresário vai perder dinheiro. Nos trabalhos que fazemos pela VSH Partners, ajudamos nesta “organização da casa”, mas se o empresário conseguir fazer tudo isso em doses homeopáticas, ao longo dos trabalhos.
É mais fácil do que fazer tudo de uma vez somente no momento da oportunidade da venda.