A inteligência artificial (IA) está transformando o setor de saúde, oferecendo soluções inovadoras para desafios históricos, como a fragmentação de dados, a previsibilidade de piora clínica e a otimização de tratamentos. Com avanços em IA preditiva e generativa, hospitais e operadoras de saúde estão conseguindo melhorar a eficiência operacional, reduzir custos e aprimorar o cuidado com os pacientes.
No entanto, a adoção dessas tecnologias ainda enfrenta barreiras, como resistência à mudança e a necessidade de validação clínica rigorosa.
Mesmo diante desses desafios, algumas healthtechs vêm se destacando ao desenvolver soluções eficazes e escaláveis. Esse é o caso da Munai, uma startup curitibana que se tornou uma das empresas de IA mais relevantes da América Latina. Combinando expertise médica e inteligência artificial, a empresa desenvolveu tecnologias que já monitoram milhares de leitos hospitalares, antecipando riscos e auxiliando profissionais de saúde na tomada de decisões críticas.
Neste Economia PR Drops, Cristian Rocha, CEO da Munai, detalha como a startup superou os desafios iniciais, conquistou reconhecimento global – incluindo uma parceria com a Fundação Bill e Melinda Gates – e como suas inovações estão contribuindo para a construção de um sistema de saúde mais sustentável e eficiente. Confira:
Como surgiu a ideia da Munai e quais foram os desafios iniciais ao aplicar IA no setor de saúde?
Cristian: A Munai nasceu de uma sinergia de pensamentos. Sempre quis investir minha vida em projetos de alto impacto e sabia da importância e das dores da saúde. Ao mesmo tempo, enxergava o potencial da inteligência artificial para transformar o setor, trazendo mais eficiência e qualidade para hospitais e operadoras de saúde. Juntei essa visão com a experiência do Dr. Hugo Morales, médico infectologista com um currículo invejável—mestre pela UFPR e pós-graduado por Harvard—e que compartilha a mesma paixão por inovação e impacto na saúde. Combinamos meu conhecimento em inteligência artificial e tecnologia com a expertise clínica e assistencial dele, criando a base da Munai para desenvolver soluções que realmente fazem a diferença no cuidado com os pacientes. Desde então, formamos um time altamente capacitado e treinado para criar soluções de IA aplicadas à saúde, trabalhando lado a lado com hospitais e operadoras para resolver desafios críticos, como predição de piora clínica, otimização de antibioticoterapia e suporte à decisão médica. No entanto, os desafios iniciais foram significativos. A implementação da IA na saúde esbarra em dois grandes obstáculos: a fragmentação dos dados e a resistência à adoção de novas tecnologias. Diferente de outros setores, onde a digitalização já está consolidada, a saúde ainda sofre com sistemas pouco interoperáveis e informações dispersas. Além disso, há uma necessidade constante de validação clínica e regulação rigorosa, o que exige um compromisso com a segurança e a transparência na construção de soluções de IA. Desde o início, a Munai trabalhou para superar essas barreiras, criando integrações robustas com hospitais e garantindo que nossas soluções fossem validadas e aplicáveis na prática clínica. Hoje, com uma base de dados sólida e modelos altamente especializados, conseguimos entregar inteligência acionável para os profissionais de saúde, tornando a IA uma aliada real no cuidado com os pacientes.
Quais diferenciais tornam as soluções da Munai únicas no mercado de healthtechs?
Cristian: A Munai se diferencia no mercado de healthtechs por algumas razões estratégicas:
1. Parcerias e reconhecimento global – Somos uma das únicas empresas da América Latina com parceria com a Fundação Bill e Melinda Gates para a construção de modelos de IA generativa voltados à automação de protocolos médicos.
2. Tecnologia – Temos algo que é único: uma plataforma que combina algoritmos de IA preditiva, para antecipação de desfechos e apoio à decisão clínica, com algoritmos de IA generativa para apoio a documentação médica.
3. Aplicação real com impacto comprovado – Nossas soluções já monitoram em tempo real mais de 3 mil leitos hospitalares, utilizando IA para prever deterioração clínica, otimizar antibioticoterapia e reduzir o tempo de internação de pacientes. Além disso, recentemente conseguimos integrar nossa IA com equipamentos de microbiologia, permitindo uma atuação ainda mais precisa na gestão da resistência bacteriana.
Através das nossas tecnologias, conseguimos promover um saving mensal de aproximadamente R$2.000 por leito do hospital.
Quais fatores levaram a Munai a ser reconhecida como uma das startups de IA mais relevantes da América Latina?
Cristian: O reconhecimento da Munai como uma das startups de IA mais relevantes da América Latina vem da combinação de inovação tecnológica, impacto clínico e escalabilidade do nosso modelo. Hoje, conseguimos monitorar em tempo real milhares de leitos hospitalares, analisando dados do prontuário eletrônico para prever riscos e auxiliar médicos na tomada de decisão. Recentemente, avançamos ainda mais ao integrar a Munai diretamente com equipamentos de microbiologia, permitindo identificar padrões de resistência bacteriana e otimizar a prescrição de antibióticos em hospitais. Essa abordagem inovadora reduz infecções hospitalares, melhora os desfechos clínicos e gera uma economia significativa para as instituições de saúde. Além disso, a chancela da Fundação Bill e Melinda Gates e o reconhecimento do mercado mostram que estamos resolvendo problemas reais da saúde com soluções tecnológicas avançadas. O impacto da Munai vai além da tecnologia: estamos ajudando a construir um sistema de saúde mais sustentável e eficiente.
Como as soluções desenvolvidas contribuem para a eficiência operacional e a redução de custos em hospitais e operadoras de saúde?
Cristian: O desperdício no sistema de saúde brasileiro ultrapassa R$ 30 bilhões por ano, muitas vezes causado por erros evitáveis, como prescrições incorretas, falhas na identificação de deterioração clínica e altas hospitalares tardias. A IA da Munai resolve esse problema ao trazer inteligência preditiva para a jornada do paciente. Nosso sistema identifica, por exemplo, pacientes elegíveis para troca de antibióticos intravenosos para via oral (switch oral), permitindo que a alta hospitalar ocorra mais cedo sem comprometer a segurança do paciente. Isso reduz custos de internação e melhora a eficiência do hospital. Além disso, nossa IA auxilia a equipe médica a priorizar atendimentos, reduzindo o tempo de resposta para pacientes críticos. O resultado é uma combinação de melhor desfecho clínico e redução de custos operacionais, um diferencial essencial para hospitais e operadoras de saúde que buscam sustentabilidade financeira.
Quais desafios ainda precisam ser superados para ampliar a adoção da IA no setor de saúde?
Cristian: Apesar do enorme potencial da IA na saúde, dois desafios ainda limitam sua adoção em larga escala:
1. Modelo de remuneração obsoleto – O setor de saúde ainda opera, em grande parte, no modelo fee-for-service, onde os prestadores são pagos por volume de serviços prestados, e não por eficiência ou desfecho clínico. Isso cria um desalinhamento de incentivos que muitas vezes atrasa a adoção de tecnologias que poderiam reduzir desperdícios e melhorar a qualidade do atendimento.
2. Interoperabilidade e qualidade dos dados – Grande parte dos hospitais ainda trabalha com sistemas fragmentados, dificultando a implementação de soluções de IA que dependem de acesso contínuo e estruturado aos dados clínicos. A padronização e a integração dos dados são desafios críticos para ampliar o impacto da IA na saúde.
Como a inteligência artificial pode contribuir para tornar os sistemas de saúde mais sustentáveis e acessíveis?
Cristian: A IA é um dos pilares para um sistema de saúde sustentável. Nossa visão é que, cada vez mais, os hospitais terão agentes de IA operando 24/7, analisando dados em tempo real e alertando as equipes médicas sobre riscos antes que eles se tornem críticos. Além disso, a IA pode eliminar tarefas administrativas repetitivas, que hoje consomem uma parte significativa do tempo dos profissionais de saúde. Isso permite que médicos e enfermeiros se concentrem no que realmente importa: o atendimento ao paciente. Com o tempo, acredito que a IA se tornará um copiloto indispensável para os médicos, auxiliando na documentação clínica e no suporte à decisão terapêutica. Essa transformação tornará o atendimento mais eficiente e acessível para todos.
Com os avanços da IA generativa, quais novas possibilidades podem surgir para a aplicação da tecnologia na saúde?
Cristian: A IA generativa já está revolucionando o setor de saúde, e vejo dois impactos principais:
1. Automação de processos administrativos e clínicos – A IA poderá se integrar com prontuários eletrônicos e sistemas hospitalares, assumindo tarefas burocráticas e reduzindo significativamente a carga administrativa dos médicos.
2. Suporte avançado à decisão clínica – Modelos de IA generativa poderão analisar prontuários completos e sugerir condutas médicas baseadas em evidências, tornando o suporte à decisão ainda mais preciso e personalizado.
O setor de saúde está no início dessa transformação, e a Munai está posicionada para liderar essa revolução.
Quais os próximos passos da Munai?
Cristian: A Munai nasceu com uma visão global e está acelerando sua expansão pela América Latina. Nossa meta para este ano é chegar a 5.000 leitos monitorados com IA preditiva e escalar nossas soluções de IA generativa para milhares de médicos. Nos próximos meses, lançaremos novas tecnologias para otimizar a documentação clínica e aprimorar o suporte à decisão médica para toda América Latina e também iniciaremos novos modelos de parceria com empresas que são líderes do segmento para alavancarmos nosso crescimento.