Poucos negócios conseguem atravessar gerações mantendo sua essência e, ao mesmo tempo, se reinventando. A Carreta da Alegria é um desses casos. Criada há mais de 30 anos em Ponta Grossa, o empreendimento familiar virou um ícone cultural no Paraná, levando animação e encantando públicos de todas as idades em cidades como Foz do Iguaçu, Ponta Grossa e Guaratuba.
Hoje, a história dessa tradição ganha um novo capítulo sob o comando de Maria Antonia Schimaneski, que, aos 25 anos, trocou a advocacia para assumir a gestão do negócio.
Desde que assumiu a liderança, Maria Antonia trouxe inovação e profissionalização para a Carreta da Alegria, sem perder o espírito festivo que a tornou tão querida. Além de modernizar a experiência dos clientes e aprimorar a gestão da equipe, a jovem empreendedora foi além e criou o Mundo Doce da Alegria, uma confeitaria criativa que trouxe ao Paraná: o chuvete – uma irresistível combinação de churros, sorvete e frutas.
Neste Economia PR Drops, ela compartilha os desafios da sucessão familiar, a expansão da marca e seus planos para o futuro. Confira!
Por que você trocou a advocacia para assumir a Carreta da Alegria?
Maria Antonia: Eu me formei na Universidade Estadual de Ponta Grossa em 2022, logo passei na prova da OAB e iniciei minha carreira na advocacia. No entanto, nunca estive realmente fora da Carreta da Alegria. Esse ramo sempre fez parte da minha vida desde pequena, começando pelo trenzinho e depois pela carreta. Minha família paterna trabalha nesse setor há mais de 40 anos, então sempre estive envolvida e sempre gostei muito disso. Apesar de ter seguido um caminho diferente na advocacia, não me encontrei nessa área. Ao mesmo tempo, via meus pais enfrentando dificuldades na gestão do negócio, pois as equipes estavam crescendo e eles precisavam de ajuda, especialmente na parte de redes sociais, marketing e administração das equipes. Enquanto isso, eu me via presa em uma sala, trabalhando em Guaratuba, sabendo que poderia estar ajudando minha família e investindo em algo que tem muito potencial. A experiência que a Carreta da Alegria proporciona para as pessoas é transformadora, e percebi que poderia profissionalizar e expandir ainda mais esse negócio familiar. Foi nesse momento que decidi focar totalmente na Carreta. Ainda assim, não considero que abandonei a advocacia, pois todo o conhecimento que adquiri nesse período me ajuda muito hoje. Tenho uma visão mais ampla dos desafios e oportunidades, e me sinto orgulhosa e feliz de estar trabalhando com algo que realmente amo, sempre buscando novas formas de inovar e crescer.
Qual foi o maior desafio ao assumir a empresa?
Maria Antonia: Acredito que o maior desafio ao assumir a empresa foi a adaptação da antiga gestão para a nova, principalmente na aceitação de novas ideias. Muitos amigos que também passaram por sucessão em empresas familiares enfrentam esse mesmo obstáculo, depois fiquei sabendo. Quando eu queria implementar alguma mudança, ouvia logo um “não vai dar certo”. Então, conquistar credibilidade e convencer as pessoas de que minhas ideias funcionam foi um grande desafio. Por exemplo, quando fiz um curso na Disney, voltei cheia de insights e propostas de inovação, mas encontrei resistência. A geração anterior tem uma forma diferente de pensar, e fazer com que eles aceitassem as novas ideias foi um processo difícil. Além disso, houve resistência dos funcionários, que já estavam acostumados a uma rotina e precisaram se adaptar a novas formas de trabalho. Hoje, meus pais já aceitam muito melhor as mudanças, porque perceberam que as inovações deram certo. Em Guaratuba, por exemplo, implementei novidades no figurino dos personagens, na equipe, no show que acontece durante a carreta, e, quando eles viram o impacto positivo disso, passaram a confiar mais em mim. Acredito que esse é o ponto principal: conquistar a confiança de todos dentro da empresa. Depois que as pessoas percebem que as mudanças fazem diferença e que tenho capacidade de liderar esse processo, tudo se tornou mais fácil.
Como sua gestão mudou a Carreta nesses três anos?
Maria Antonia: Acredito que minha gestão trouxe mais profissionalismo para a Carreta da Alegria. Em um ramo onde há muitos veículos semelhantes, meu foco foi na profissionalização, investindo no treinamento da equipe e garantindo que todos compartilhassem o mesmo propósito da empresa: levar alegria até para quem não sabe que precisa dela. Implementar essa mentalidade no coração de cada colaborador fez toda a diferença. Além disso, foquei na experiência do cliente e na valorização dos funcionários. Aqui em Guaratuba, por exemplo, padronizamos o figurino, não apenas dos personagens, mas também de toda a equipe de apoio. Agora, o piloto tem traje adequado, a bilheteira usa uniforme, e todos os detalhes são pensados para criar uma identidade visual mais profissional. Antes, não havia essa preocupação com padronização. Essa busca pela profissionalização ainda continua, mas olhando para trás, comparando os últimos três anos, a Carreta evoluiu muito e se diferenciou das demais. Ganhamos autoridade, mais respeito e a admiração dos que já conheciam a Carreta só aumentou.
Como manter a tradição e, ao mesmo tempo, inovar no negócio?
Maria Antonia: Acredito que o segredo para manter a tradição é entender qual é a verdadeira essência do negócio. No caso da Carreta da Alegria, essa essência está na música envolvente, na animação dos personagens e na alegria que levamos ao público. Isso nunca pode mudar. Ao mesmo tempo, é essencial inovar constantemente. Isso significa trazer novos shows, melhorar o atendimento ao cliente e criar uma experiência completa desde o momento em que ele chega até a hora de ir embora. Investir em novas tecnologias, criar roteiros diferenciados e expandir o alcance da Carreta são estratégias que garantem essa renovação. Hoje, meu objetivo é levar a Carreta para além do formato tradicional, explorando novas formas de negócio, especialmente no meio digital. Um exemplo disso – e aqui vai um pequeno spoiler – são vídeos no YouTube com historinhas, músicas próprias e até produtos da Carreta da Alegria – como pelúcias, carrinhos e outros objetos de desejo. Acredito que estamos transformando a Carreta em um verdadeiro ícone cultural do Brasil, algo que faz parte da identidade popular e da memória afetiva das pessoas onde quer que ela passe.
Quais os principais desafios de operar em três cidades?
Maria Antonia: Acredito que um dos maiores desafios de operar em três cidades diferentes é lidar com a burocracia de cada prefeitura. Cada município tem suas próprias exigências e processos, o que pode tornar essa parte da operação bastante complexa. Além disso, as próprias cidades possuem culturas e hábitos diferentes. Algumas têm um público que sai mais à noite, enquanto outras concentram o movimento durante o dia. Adaptar a Carreta da Alegria a esses costumes locais é imprescindível para o sucesso. Outro grande desafio é a gestão das equipes. São três grupos distintos, compostos por pessoas com perfis e costumes diferentes. Algumas se adaptam melhor a um estilo de trabalho, enquanto outras precisam de mais treinamento para entender o propósito da Carreta. Como temos uma alta rotatividade de funcionários, é fundamental garantir que todos estejam bem preparados e, acima de tudo, alinhados com a nossa missão de levar alegria ao público.
Como surgiu a ideia do Mundo Doce da Alegria e do chuvete?
Maria Antonia: O Chuvete surgiu há três anos, quando percebemos a necessidade de oferecer uma experiência mais completa ao público da Carreta da Alegria. Era a cereja do bolo que faltava. Muitas vezes, as pessoas ficavam na fila sem ter algo para fazer ou, ao descer da carreta, não tinham um destino certo. Queríamos tornar esse momento mais agradável e envolvente. Foi aí que pensamos em uma combinação perfeita para esse público: churros e sorvete. O Chuvete nasceu dessa ideia, unindo dois elementos que remetem diretamente à infância e à alegria. Tanto para quem está esperando, quanto para quem já aproveitou o passeio, poder saborear um doce torna a experiência ainda mais especial. Com o sucesso do Chuvete ao longo desses três anos, criamos uma clientela fiel em Guaratuba. Isso nos levou a perceber a necessidade de ter um espaço fixo na cidade, onde pudéssemos oferecer ainda mais opções. Assim, surgiu o Mundo Doce da Alegria. O nome reflete nosso propósito, já que não se trata apenas do Chuvete, mas de um universo completo de sobremesas. Seguindo a identidade de todos os nossos empreendimentos, o “Alegria” sempre faz parte do nome, pois essa é a nossa essência. Acreditamos que o que fazemos leva felicidade às pessoas—e, afinal, quem não fica feliz com um doce?
Por que Guaratuba foi escolhida para a primeira unidade?
Maria Antonia: Guaratuba é a nossa cidade querida, um lugar pelo qual temos um carinho especial. Operacionalmente, a escolha faz muito sentido, pois, enquanto nossas turnês costumam durar de 15 a 30 dias em cada cidade, em Guaratuba ficamos por um período maior, de dois a quase três meses. Isso nos permite investir mais, testar novas experiências e aprimorar o que oferecemos ao público. Além disso, Guaratuba é a nossa casa. Moramos aqui, vivemos o dia a dia da cidade e queremos contribuir para o seu crescimento.Sempre que enxergamos uma oportunidade de agregar algo positivo à comunidade, abraçamos a ideia de cabeça. Por isso, nada mais natural do que dar esse primeiro passo aqui, criando um espaço fixo que leve ainda mais alegria e sabor para moradores e turistas.
Quais os planos para o futuro da Carreta e do Mundo Doce?
Maria Antonia: O futuro da Carreta da Alegria envolve expansão, tanto para novas cidades quanto para novas formas de negócio. Queremos levar essa experiência para ainda mais pessoas e explorar novas frentes, principalmente no meio digital. Já demos alguns spoilers, e um dos nossos maiores objetivos é criar conteúdos exclusivos, como vídeos para YouTube com historinhas e músicas próprias, fortalecendo ainda mais a identidade da Carreta. Além disso, queremos desenvolver uma turma de personagens próprios, mantendo a essência e a energia que fazem da Carreta um sucesso por onde passa. Já o Mundo Doce da Alegria tem planos ambiciosos de crescimento. Nossa ideia é abrir novas unidades e, quem sabe, até estruturar um modelo de franquia para levar essa experiência doce para outras cidades. Estamos sempre pensando em novas possibilidades e formas de encantar nossos clientes, porque, no fim, o que nos move é proporcionar alegria – seja nos passeios da Carreta, seja em cada doce servido.
Que conselho daria para quem quer transformar um negócio familiar em uma grande empresa?
Maria Antonia: A profissionalização é a chave. Muitas empresas familiares acabam limitadas porque não se adaptam ao mercado ou não estruturam processos eficientes. Para crescer, é essencial tratar o negócio como uma empresa de verdade: investir em marketing, formalizar operações e montar um time estruturado. Além disso, conquistar a confiança da equipe e da gestão anterior é fundamental para implementar mudanças sem perder a essência. Outro ponto crucial é o mindset. Pensar grande desde o início faz toda a diferença. Não basta apenas manter o negócio funcionando, é preciso enxergar oportunidades de crescimento, criar diferenciais competitivos e buscar inovação constantemente. E, acima de tudo, respeitar a trajetória da empresa. O que trouxe o negócio até aqui tem valor, e o segredo está em somar forças – reconhecer o legado da família e, ao mesmo tempo, abrir espaço para o novo. Assim, a empresa pode continuar crescendo de forma sólida e sustentável.