Search

Merda: Festival de Curitiba em cena

festival curitiba economiapr
Fotos: Anderson Tozato

Curitiba amanhece diferente quando o Festival de Teatro começa. É assim desde 1992, quando o “Festival de Teatro de Curitiba” se inventou.

Digo se inventou porque, mais do que um evento, ele se tornou uma espécie de personagem da cidade. Um personagem inquieto, curioso, que a cada ano transforma ruas, praças e palcos em território da arte. Nesse meio tempo, o festival se reinventou, e virou “Festival de Curitiba”, simplesmente.

Entre 24 de março e 6 de abril, essa transformação toma forma na 33ª edição do Festival de Curitiba. E serão dias diferentes. É como se a cidade trocasse o figurino cotidiano por trajes de gala, ainda que mantenha seu ar meio blasé.

De repente, as ruas se tornam palcos improvisados, as praças viram plateias, e cada esquina parece esconder um monólogo à espera de aplausos.

O evento é um encontro de olhares, de risos e silêncios carregados — aqueles que só o bom teatro consegue provocar. Mesmo na rua, onde o festival ganha ainda mais poder.

Este ano, a peça In On It promete ser um dos momentos mais aguardados. Estrelada por Emílio de Mello e Fernando Eiras, ela volta aos palcos após 15 anos, como quem reencontra um velho amor.

É um espetáculo sobre memórias e invenções, sobre o que dizemos e o que fica subentendido — temas que, aliás, combinam perfeitamente com a alma curitibana. Em outras cidades em que esteve em cartaz, a obra recebeu críticas e análises profundas de grandes jornalistas.

Imperdível, também, será o espetáculo “Daqui Ninguém Sai”, assinado pelo TCP do Teatro Guaíra. A montagem, inédita, traz ao palco mais de 60 contos e trechos da correspondência de Dalton Trevisan. É uma rara oportunidade de ver a obra do vampiro ganhar corpo, voz e movimento.

Mas o festival vai além dos holofotes tradicionais. Aliás, esta sempre foi a missão do festival: democratizar a arte. Por isso há apresentações nas ruas, intervenções artísticas inesperadas e debates que atravessam a madrugada em cafés. O teatro invade a cidade sem pedir licença, e é assim que deve ser.

Quando as cortinas se fecharem após o último ato, Curitiba voltará ao seu ritmo habitual. Mas levará consigo resquícios dessa magia. Porque, depois do Festival de Curitiba, ninguém sai de cena do mesmo jeito que entrou.

Compartilhe

Jornalista especialista em Mídia e Cultura pela USP

Leia também

dalton trevisan economiapr

Dalton Trevisan: nosso vampiro mais quente

Rodrigo Lemos Grammy Economia PR

Rodrigo Lemos: por que poucos sabem que um curitibano ganhou o Grammy?