Por Weber Radael, Professor de Administração na PUCPR e na UFPR, Professor Orientador no MBA da USP/Esalq, Coordenador do Programa de Liderança Feminina da Cooperativa Cocari e Consultor Empresarial.
Nos últimos anos, a internacionalização das empresas de serviço passou por uma revolução silenciosa, impulsionada pela digitalização e pela necessidade de novas estratégias para competir globalmente.
A tese de doutorado de Weber Henrique Radael defendida em 2024 na Universidade Federal do Paraná, orientado pelo professor Gustavo Abib, analisou os riscos na internacionalização de empresas de serviço e diferentes modos de entrada no mercado internacional, trazendo à tona dois modos de entrada que vêm ganhando força entre as empresas do setor: a presença virtual e o chamado “online IDE”, IDE: Investimento Direto Estrangeiro.
A Internacionalização Sem Fronteiras
A presença virtual está se tornando uma estratégia cada vez mais comum para empresas que desejam expandir seus serviços sem a necessidade de uma estrutura física em outros países.
Essa abordagem permite que as empresas de serviço operem remotamente, usando plataformas digitais para se conectar com clientes estrangeiros. O modelo é particularmente vantajoso para setores de software e consultoria, onde a interação presencial nem sempre é essencial.
O estudo analisou doze empresas de serviço que adotaram essa estratégia e mostrou que, ao evitar altos custos e burocracias associadas ao investimento direto estrangeiro tradicional, elas conseguiram reduzir riscos e acelerar sua entrada em novos mercados.
Para muitas dessas empresas, a internacionalização começou quando passaram a atender clientes que já operavam fora do Brasil, criando um efeito de rede “seguir os seus clientes no mercado internacional”, que ajudou a ampliar sua base de clientes no exterior.
O Avanço do “Online IDE”
Outro resultado identificado na pesquisa é o “online IDE”, uma estratégia intermediária entre a presença virtual e o investimento direto estrangeiro convencional (que se caracteriza na abertura de filiais em outros países).
Nessa modalidade, as empresas abrem um número fiscal em outro país, mas sem uma sede física ou contratação de funcionários locais. Isso facilita questões tributárias, reduz a resistência cultural de clientes estrangeiros e permite maior flexibilidade operacional.
Uma prestadora de serviço, plataforma de software, do Estado do Paraná tem se beneficiado bastante dessa estratégia, a estrutura física e de pessoal da empresa fica em Curitiba, mas eles abriram um número fiscal em Chicago nos Estados Unidos para ter uma maior credibilidade com os clientes internacionais e reduzir o risco do câmbio, já que podem deixar uma quantia de dólares depositado na conta do banco americano e converter para o real no melhor momento possível.
Contudo, essa prestadora de serviço não possui nenhuma estrutura física ou de pessoal em Chicago, tudo é operado por Curitiba, reduzindo ainda mais os custos e riscos.
Benefícios e Desafios
As empresas de serviço que adotam a presença virtual ou o online IDE relatam uma série de vantagens, como redução de custos operacionais, maior alcance de mercado e flexibilidade para lidar com diferentes legislações.
No entanto, também enfrentam desafios, como dificuldades na construção de relações de confiança sem contato presencial e a necessidade de compreender aspectos regulatórios de cada país onde atuam.
Um dos principais pontos de atenção é o impacto da ausência física na percepção de valor dos clientes. Alguns setores ainda valorizam interações presenciais, o que pode ser um obstáculo para empresas que operam exclusivamente de forma remota.
Além disso, a necessidade de adequação às normas fiscais e bancárias dos países de destino requer planejamento e conhecimento especializado.
Uma Nova Era na Expansão Internacional
Os resultados dessa pesquisa mostram que a internacionalização de serviços está passando por uma transformação significativa, impulsionada pela tecnologia e pela busca por modelos mais flexíveis e eficientes.
A presença virtual e o online IDE oferecem alternativas inovadoras para empresas que desejam expandir seus negócios sem os custos e riscos associados à internacionalização tradicional.
Com as barreiras geográficas se tornando menos relevantes, empresas de todos os tamanhos podem acessar mercados globais com mais facilidade. No entanto, o sucesso nessa jornada depende da capacidade de compreender e se adaptar às especificidades culturais, regulatórias e estratégicas de cada mercado.
O futuro da internacionalização dos serviços está sendo moldado agora, e as empresas que souberem aproveitar essas novas oportunidades estarão um passo à frente na corrida global.