Em um mundo cada vez mais impactado pelos efeitos das mudanças climáticas, projetos voltados à conservação ambiental se tornam cada vez mais fundamentais. Nesse contexto, a Tekoha surge com uma missão clara: proteger a Mata Atlântica, promovendo a educação ambiental e integrando esforços para conservar um dos biomas mais biodiversos, mas também mais ameaçados do planeta.
À frente da iniciativa está Lis Boltão, de 57 anos, moradora de Curitiba. O projeto Tekoha quer criar um espaço para educação ambiental e preservação da Mata Atlântica, inspirando soluções sustentáveis e promovendo a pesquisa científica e a troca de saberes.
A ação utiliza como atrativo o sorteio solidário de uma moto rara, anteriormente pertencente à própria idealizadora. A Yamaha Virago XV250S é considerada uma “raridade” entre colecionadores e a motocicleta mais econômica, resistente e durável da categoria pelos amantes das estradas em duas rodas.
Com os recursos adquiridos pelo sorteio, autorizado pela Loteria Federal, a ideia é construir o centro entre Morretes e Antonina, criando um cinturão de conservação para amortecer os impactos ambientais de atividades humanas sobre a Grande Reserva Mata Atlântica, região conhecida como Vale dos Gigantes.
As participações para o sorteio podem ser feitas até o dia 25 de maio. A apuração acontece no dia 02 de junho deste ano. O sorteio é autorizado pela Loteria Federal, pelo Certificado SPA/ME N°04.035949/2024, o que concede total transparência e conformidade com as regras oficiais.
Outra novidade é que, a cada 10 bilhetes vendidos no sorteio filantrópico, a Tekoha se compromete a plantar uma muda de árvore nativa certificada. Todas serão monitoradas por, no mínimo, dois anos.
O plantio vai ser feito em áreas de preservação de Mata Atlântica na região de Morretes, no litoral do Paraná, e, entre as espécies, estarão árvores como Ipê, Araucária, Vacum, Araçá, Açoita Cavalo, Jabuticaba, etc. As mudas virão do viveiro de mudas do IAT (Instituto Água e Terra) do Governo do Paraná, e também de projetos locais de cultivo delas.
Neste Economia PR Drops, Lis compartilha sua visão sobre a importância do projeto, as estratégias para engajar a sociedade e os detalhes da campanha de arrecadação de fundos para dar início à proposta.
O que te motivou a criar o projeto Tekoha e por que agora?
Lis: A Tekoha é pioneira no modelo a que se propõe. Nasceu do desejo de proteger a Mata e seus habitantes, e, hoje, com todos os efeitos das mudanças climáticas batendo à nossa porta, a Tekoha se faz urgente. Precisamos voltar para a Natureza, precisamos preservar e recuperar a Mata Atlântica, que hoje tem pouco mais de 12% de seu território original. Precisamos que nossas crianças e jovens a conheçam, reconheçam sua importância, a amem, aprendam com ela e se inspirem a se tornarem professores, cientistas, engenheiros, biólogos e tantas outras belas profissões, além de protetores, conservacionistas e restauradores.
O sorteio de uma moto para arrecadar fundos é algo diferente do usual para iniciativas como a Tekoha. Como surgiu essa ideia?
Lis: Bem, só damos o que temos, certo? A motoca Lola teve 14 anos de estrada e belas aventuras com sua humana, no caso, eu. Fez o resgate de muitas ninhadas abandonadas de cães e gatos, carregou em seus alforjes muitas mudas e sementes de árvores, flores e esperança. Ajudou em limpezas de nascentes, foi trenó de Papai Noel para crianças carentes, pois, sem ela, a humana aqui não conseguiria chegar para ajudar. Hoje, ela não é mais fabricada, então encontrar uma Lola como a nossa, em perfeito estado de conservação, rodando e em condições perfeitas de enfrentar muita estrada pela frente, é muito difícil. Por isso, ela é considerada uma raridade. E quem ganhar a motoca e não precisar rodar com ela, pode vender e realizar o próprio sonho. O nosso é construir a Tekoha.
Você já recebeu alguma reação inesperada sobre o sorteio, seja pelo prêmio ou pela causa?
Lis: Sim! Todos recebem a Tekoha com alegria e entusiasmo. Gente desconhecida me abraça como se eu fosse da família. O sorteio é visto como um caminho para materializarmos a Reserva. As pessoas fazem a doação, pegam seu número da sorte e deixam sempre uma mensagem de torcida no WhatsApp ou nas redes sociais do projeto. São mensagens que nos dão força e coragem. Uma professora nos disse que, se ganhar, rodará até a Tekoha quando ela estiver pronta para “mostrar para ela do que ela foi capaz”. Duas pessoas, uma de Curitiba e outra de Belo Horizonte, disseram que, se ganharem a Lola, vão devolvê-la para que seja sorteada novamente. Achei lindo, porque se trata de acreditar, de doar, de amar algo que ainda não podemos tocar, mas que é muito necessário para a natureza e para todos nós. E, claro, as estrelas aqui são a Mata Atlântica, a ciência, a educação, nosso futuro enquanto seres humanos e todas essas pessoas generosas com a Mata Atlântica e com o projeto, que estão chegando para ajudar. Temos muita gratidão.
A Tekoha tem um foco muito claro na promoção da proteção e conservação da Mata Atlântica. Como o sorteio está conectado a essa missão?
Lis: A Tekoha quer ser um exemplo de sustentabilidade. Temos muito trabalho a fazer e precisamos de muita ajuda. Queremos transparência em tudo o que fizermos. Todo o dinheiro arrecadado será destinado ao projeto. Queremos levar, para o entorno de onde a Tekoha será construída, caminhos para o saber e perspectivas de futuro para jovens e crianças. Queremos plantar aquela sementinha boa, que produzirá seres humanos melhores, e, enquanto isso, unir os adultos em prol desse Bioma e de seus habitantes, reflorestando para que os animais permaneçam, e voltem para seus lares, criando um cinturão de proteção, amor e respeito pela Grande Mãe Natureza. É assim que vejo a Mata Atlântica: a Grande Mãe, capaz de nos cuidar, nos dar água limpa, ar puro, alimento de qualidade e o colo que só uma mãe amorosa e resiliente pode ser capaz de nos dar, e esse sorteio é o chamado aos filhos dessa Grande Mãe. Ela quer nos cuidar, nos quer vivos, cuidemos dela.
Como a Tekoha transforma a relação entre a conservação ambiental e o engajamento comunitário, criando novas formas de contribuição sustentável?
Lis: Imagine-se em um local onde, para qualquer lado que você olhe, encontre formas de ocupar sem destruir e de ensinar, na prática, o que é proteção ambiental. É assim que vemos a Tekoha. Queremos vê-la construída com estruturas em bioconstrução, sejam de barro, pedra ou madeira, onde a água da chuva seja captada e utilizada para irrigação e limpeza, entre outros usos. Onde o manejo de resíduos chegue ao lixo zero. Onde a floresta seja também fonte de alimento para quem frequenta o espaço. Onde toda a energia consumida venha do sol e dos ventos. Onde se respire conhecimento e a troca de saber seja uma constante. Um lugar onde todos os projetos que beneficiem a Floresta possam se encontrar para trocar experiências e fomentar soluções para proteger, preservar e recuperar, juntos com as comunidades, não só a Mata Atlântica, mas também os sonhos, as perspectivas de futuro e a qualidade de vida. Onde a educação ambiental seja uma prática diária, dentro e fora desse nosso espaço.
Para quem ainda não participou do sorteio, qual seria o seu recado?
Lis: Para quem ainda não aderiu à campanha “Ajuda Tekoha”, eu convido vocês! O financiamento coletivo é um caminho seguro e baseado no amor. Venham todos: pais, mães, professores e toda a juventude acadêmica! Venham, profissionais de todas as áreas! Venham motociclistas! Precisamos de todos vocês. A Mata Atlântica precisa de vocês neste momento e para o resto de nossas vidas. O nosso futuro, enquanto seres humanos, precisa de nós. Porque a verdade é que a Mata Atlântica não precisa de nós. A ciência comprova que, se nós, humanos, desaparecermos, em algumas poucas décadas a natureza estará recuperada. Então, somos nós que precisamos dela. E a hora de agir é agora! Venham nos ajudar a trazer Tekoha para o mundo físico, pois ela já existe em cada Ação Ambiental que Tekoha está realizando, no coração de cada envolvido no projeto, e em todos os corações que já estão concorrendo à Lola. Essa motoca chegará para o(a) feliz ganhador(a), recheada de amor, alegria e esperança. Uma raridade abrindo caminho para uma ideia muito valiosa e pioneira, e que pode inspirar outras semelhantes em diversas partes do Brasil. Venham! Sejam sementes Tekoha, sejam sementes de um futuro seguro e sustentável para chamarmos de lar. Vamos juntos deixar um legado positivo para as jovens gerações que aqui estão e para as que ainda chegarão!
Para você, pessoalmente, qual é a maior realização ao ver a Tekoha ganhando vida?
Lis: Me sinto voltando para casa. Sinto que estou no caminho que devo trilhar. Dou risada quando me dizem que eu deveria estar começando a pensar na aposentadoria, em vez de buscar um trabalho árduo para os próximos 50 anos. Trabalhar para a Mãe Natureza, para empoderar crianças, adolescentes e seus mestres, ajudar jovens pesquisadores e levar o conhecimento onde quer que ele seja necessário, para mim, não é trabalho, é uma bênção. É uma oportunidade de evolução, uma missão que recebo com alegria, com coragem e muita perseverança.
