No final de março, durante nossa viagem a Curitiba, meu avô apareceu com uma caixa de seus tesouros. Dentro dela, cartas antigas, desenhos da infância e lembranças de outros tempos — entre elas, um artefato especial: meu primeiro jornal. Datado de 20 de junho de 2002, feito para um trabalho da escola. Eu tinha 13 anos.
Era uma folha com um template pré-formatado, onde cada aluno precisava encaixar pequenas notícias escritas por nós mesmos. Relendo o que, na época, eu considerava notícia, nos arrancou risos nostálgicos (imagem completa mais abaixo).
Mas lembrei que foi ali, naquela montagem de jornal, em 2002, quase num toque de mágica, que tudo fez sentido pra mim.
A menina que escrevia cartas para os amigos, que inventava histórias e observava o mundo com curiosidade, encontrou sua primeira grande paixão: contar histórias reais.
Confesso que, no meu crescimento e amadurecimento, cheguei a flertar com outras ideias de carreira — pensei em ser veterinária, cogitei educação física. Mas na hora do “vamos ver”, não teve concorrência. Escolhi o jornalismo – ou talvez ele tenha me escolhido.
O fato é que passei em 2º lugar no vestibular em Foz do Iguaçu e nunca mais olhei para trás.
Hoje, no Dia do Jornalista, essa lembrança me fez pensar sobre talento, dom, vocação — ou quem sabe, destino (eu nasci em 1º de junho, Dia da Imprensa).
Quando o talento encontra espaço
Talento é aquele brilho que aparece cedo. Às vezes, se manifesta num texto da escola, numa facilidade com números, numa sensibilidade para ouvir o outro. Mas talento por si só não garante nada. É preciso ambiente fértil, incentivo, alguém que enxergue e diga: “vai por aqui”.
Meu primeiro “sim” veio da escola, que me deu uma chance de experimentar. Depois, da minha família, que guardou e valorizou esse pedaço da minha história. Mais tarde, dos professores, das redações, dos leitores.
E aqui vai o ponto principal: quantas pessoas talentosas você conhece que ainda não se encontraram? Quantos profissionais incríveis estão desalinhados com sua vocação por falta de escuta, espaço ou coragem?
Esse artigo é um convite, especialmente para líderes, gestores, fundadores de startups e CEOs: prestem atenção. Às vezes, o que parece “só um bom trabalho” é, na verdade, alguém exercendo o que nasceu para fazer.
Pessoas conectadas com sua vocação produzem melhor, inovam com mais naturalidade, têm resiliência diante dos desafios. Porque não se trata apenas de executar uma função — é sobre viver uma missão. E isso, quando acontece, é poderoso.
Você já encontrou o que te move?
Já parou para pensar qual foi o seu “primeiro jornal”? Aquela pista deixada lá atrás que dizia muito sobre quem você se tornaria? Pode ter sido uma caixa de ferramentas, uma câmera antiga, uma conversa com um professor. Todos nós temos esses marcos.
Nem sempre é fácil reconhecer a vocação logo de cara. Às vezes, ela vem disfarçada de hobby, de passatempo, de “só uma fase”. Mas se existe algo que faz o tempo passar rápido, que te energiza, que desperta curiosidade — esse pode ser o seu ponto de partida.
Hoje, celebro não só a minha escolha pelo jornalismo, mas também todas as escolhas que nascem do encontro entre o que somos e o que fazemos.
Feliz Dia do Jornalista a todos que, como eu, encontraram seu lugar no mundo através da palavra.
