A cada 10 startups criadas no Brasil, 6 encerram as atividades antes de completarem quatro anos, segundo dados do Startup Genome e de estudos da Associação Brasileira de Startups (Abstartups).
Entre os principais motivos para esses números estão a falta de estruturação do modelo de negócio, ausência de orientação técnica e dificuldades em validar o produto junto ao mercado. Em muitos casos, ideias promissoras deixam de se transformar em soluções viáveis por falta de apoio especializado nos estágios iniciais.
Foi diante desse cenário que surgiu o modelo de venture studio, uma abordagem que se diferencia de aceleradoras e incubadoras por atuar como cofundadora das startups. Nesse modelo, equipes multidisciplinares participam desde a concepção da ideia até o desenvolvimento do produto e operação inicial do negócio.
No Paraná, uma das empresas que atua nesse formato é a Corelab, com sedes em Londrina e São José dos Campos (SP).
Criada em 2019 por Thiago Zampieri, mestre em Ciência da Computação, a Corelab já participou da construção de mais de 20 startups e tem apostado no desenvolvimento de softwares personalizados como estratégia de crescimento. A empresa prevê alcançar um faturamento de R$ 10 milhões em 2025 e projeta a abertura de um escritório na Europa.
Além da criação de novos negócios, a Corelab também atende empresas consolidadas que buscam integrar sistemas legados ou desenvolver soluções tecnológicas sob medida. Segundo a empresa, a combinação entre visão estratégica e execução técnica tem sido fundamental para reduzir riscos, acelerar a inovação e melhorar a eficiência de projetos em diferentes setores.
Neste Economia PR Drops, o CEO Thiago Zampieri explica como funciona o modelo de venture studio, comenta os principais desafios enfrentados por startups brasileiras e detalha as estratégias adotadas para construir negócios escaláveis a partir de boas ideias. Confira:
A Corelab atua como um venture studio. Para quem ainda não conhece esse modelo, como ele funciona na prática?
Thiago: Diferente de uma aceleradora ou incubadora, o venture studio atua como co-fundador das startups. Na prática, isso significa que identificamos problemas reais do mercado, estruturamos a solução com nossa equipe multidisciplinar, desenvolvemos o produto desde o zero, se necessário. Entramos com capital intelectual, estrutura de tecnologia, modelo de negócio, validação com clientes e, muitas vezes, a própria operação nos primeiros meses. Isso encurta ciclos, reduz desperdício de investimento e aumenta a chance de sucesso.
Quais são as principais vantagens para uma startup ao nascer dentro de um ecossistema como o da Corelab?
Thiago: A principal vantagem é nascer com “musculatura”. Nenhum empreendedor caminha sozinho, conta com uma equipe com décadas de experiência, pronta para construir um produto que tenha um público disposto a pagar pela solução. Além disso, fazemos parte de uma rede nacional e internacional que conecta startups a potenciais investidores, clientes e parceiros estratégicos desde o início.
Como vocês escolhem as ideias que merecem virar uma startup dentro da venture studio?
Thiago: A escolha é sempre guiada por impacto e viabilidade. Avaliamos três pilares: o tamanho do problema (mercado), o quanto ele dói (urgência) e se temos ou conseguimos acesso a especialistas no assunto (autoridade). O objetivo é evitar startups que “fazem mais do mesmo” e focar em soluções que tragam uma transformação real em setores onde há gargalos de eficiência ou experiências ruins para o usuário.
Qual o diferencial da Corelab em relação a outras aceleradoras ou incubadoras?
Thiago: Somos construtores, não apenas mentores. Diferente das aceleradoras, não entregamos apenas conselhos — entregamos código, design, validação e operação. Nosso envolvimento é profundo. E ao contrário das incubadoras, não esperamos que as ideias venham prontas — muitas vezes elas nascem aqui. Atuamos como sócios, com skin in the game, e só entramos em projetos em que realmente acreditamos.
A personalização de softwares é uma das apostas da Corelab. Quais os principais benefícios dessa abordagem para negócios tradicionais?
Thiago: Negócios tradicionais muitas vezes tentam se adaptar a ferramentas genéricas que não conversam com seus fluxos, pessoas ou realidade operacional.
Quando desenvolvemos software sob medida, otimizamos processos, reduzimos retrabalho e criamos inteligência a partir dos dados certos. Em um mundo cada vez mais digital, a personalização é o que diferencia empresas eficientes das engessadas. Afinal, a escolha da marca X ou Y se dá pela admiração e experiência que o produto dela nos oferece. Então, por que quando falamos de um serviço ele tem que ser igual ao do concorrente?
O que mais te motivou a criar uma “fábrica de startups”? Quais dores você percebeu no mercado que ainda estavam sem solução?
Thiago: A maior dor que observei ao longo da minha jornada foi o desperdício de boas ideias. Vi muitas startups com potencial afundarem por falta de orientação, foco ou estrutura. Ao mesmo tempo, percebi empresas travadas por sistemas ultrapassados e lentidão na inovação. Criar a Corelab foi minha forma de atacar essas duas dores: dar vida a boas ideias com método e oferecer soluções tecnológicas que realmente resolvem problemas de negócios.
O que você considera mais desafiador na jornada de construir e escalar uma startup do zero?
Thiago: É manter o foco sem perder a capacidade de se adaptar. No início, tudo é escasso: tempo, dinheiro, equipe. Saber priorizar, aprender com velocidade e escutar o mercado são habilidades essenciais. E o desafio não diminui na escala, ele muda de forma. Crescer exige gestão, cultura forte e sistemas que acompanhem a evolução sem engessar a inovação.
A empresa está prestes a inaugurar um escritório na Europa. Por que vocês decidiram internacionalizar e como isso muda o posicionamento da marca?
Thiago: Internacionalizar é uma resposta ao momento em que estamos, de ampliar nossas fronteiras de aprendizado, mercado e impacto. Ao abrirmos nossa primeira operação no exterior, buscamos não apenas levar nossas soluções ao mercado global, mas também nos conectar com o que há de mais avançado em tecnologia, gestão e inovação no mundo. Isso nos permite aprimorar continuamente nossos produtos, incorporar boas práticas globais e, principalmente, fortalecer o desenvolvimento de inovação aqui no Brasil. Acreditamos que, ao promover esse intercâmbio, criamos um ciclo virtuoso onde o conhecimento global impulsiona soluções locais — e vice-versa. A Corelab se posiciona, assim, como um venture studio que nasce brasileiro, mas pensa e constrói para o mundo.
Como vocês enxergam o papel da Corelab no fortalecimento do ecossistema de inovação no Paraná?
Thiago: Nosso papel é de alicerce. Atuamos como ponte entre talentos, universidades, empreendedores e empresas tradicionais. Acreditamos que inovação só acontece quando há conexão entre diferentes agentes. Por isso, investimos tempo em eventos, mentorias, parcerias com hubs de inovação e até formação de novos desenvolvedores. Queremos que o Paraná seja visto como um celeiro de inovação e estamos dispostos a ser parte ativa dessa construção.