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Bebês reborn e apostas online: a nova face do marketing irresponsável

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Foto: Anneke Schram / anyka

O mundo parece ter enlouquecido – um pouco mais a cada dia. Casas de apostas e bebês reborn são os grandes temas da vez e nós realmente precisamos falar sobre ambos. 

Vamos aos fatos:

Os brasileiros gastaram, apenas nos oito primeiros meses de 2024, cerca de R$ 160 bilhões em apostas online. 

Para se ter uma ideia do que esse valor representa, é importante colocar esse número em perspectiva: o investimento público anual total em saúde, segundo dados do IBGE, gira em torno de R$ 200 bilhões. 

Ou seja, em menos de um ano, o volume movimentado nas apostas online quase alcança o orçamento destinado a um dos serviços públicos mais essenciais do país.

Não é à toa que estamos um país doente… 

Mas voltando ao tema: o Banco Central estima que mais de 24 milhões de pessoas fizeram ao menos uma transferência via Pix para sites de jogos nesse período. A maioria tem entre 20 e 30 anos, mas há um dado ainda mais preocupante: os mais velhos, com maior poder aquisitivo, chegam a gastar R$ 3 mil por mês nesse tipo de “entretenimento”.

Não é preciso muito esforço para encontrar a ponte entre esse comportamento de risco e campanhas publicitárias disfarçadas de conteúdo orgânico em redes sociais. 

Influenciadores com milhões de seguidores vendem a promessa de dinheiro fácil, exibem “ganhos” em tempo real e inserem links comissionados — ou seja, ganham à medida que seus seguidores perdem. 

A CPI das Apostas, instalada no Senado, expõe ainda mais a gravidade da situação. A investigação apura suspeitas de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e uso de algoritmos manipulados para garantir lucros exagerados às casas de apostas. 

O uso de influenciadores digitais como ponte de captação — especialmente entre os mais jovens — também está no centro das discussões. 

O vício em jogos, silencioso como apontam especialistas, começa com uma notificação no celular e pode terminar em dívidas impagáveis.

Se de um lado temos um comportamento compulsivo incentivado pela estética da abundância digital, de outro há um fenômeno igualmente controverso: o crescimento do mercado de bebês reborn, bonecos hiper-realistas tratados como filhos por adultos que, em muitos casos, simulam maternidade real. 

Não se trata mais de um hobby ou item de coleção. Há registros de pedidos de licença para cuidar do “filho”, tentativas de vacinar bonecos em unidades de saúde e até o uso indevido para obtenção de benefícios sociais.

Em resposta, a Assembleia Legislativa do Paraná está analisando um projeto de lei que visa aplicar sanções administrativas a quem utilizar esses bonecos para obter vantagens indevidas em serviços públicos. As penalidades incluem advertências e multas que podem chegar a R$ 6 mil em caso de reincidência, com os valores arrecadados sendo destinados ao Fundo Estadual para a Infância e Adolescência (FIA/PR).

Pois é. Chegamos a esse ponto. 

Mais do que um debate psicológico, o que chama a atenção é a estratégia de marketing por trás desse universo.

Vendedores se apresentam como “enfermeiros”, as lojas viram “maternidades” e o processo de compra simula o de uma adoção. É um teatro afetivo cuidadosamente roteirizado para gerar identificação e sentimento de pertencimento — e que, quando escapa do entretenimento e invade o campo da realidade institucional, precisa ser discutido com seriedade.

Em ambos os casos, o marketing ultrapassa o limite da persuasão e avança sobre a vulnerabilidade emocional do consumidor. 

Não se trata apenas de ética publicitária, mas de responsabilidade social. 

Incentivar apostas como fonte de renda e transformar um boneco em uma ferramenta para burlar o sistema não são estratégias inovadoras — são atalhos perigosos com alto custo humano.

O marketing responsável não ignora os desejos do público, mas também não se aproveita deles para gerar lucros a qualquer custo.

É hora de refletir sobre os limites da influência e lembrar que toda campanha carrega, em alguma medida, o poder de moldar comportamentos. 

A pergunta que fica é: quem está disposto a arcar com as consequências?

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Jornalista, Community Manager e Editora-chefe do Economia PR

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