Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), 5% do PIB de Foz do Iguaçu provém de bares e restaurantes. São 236 estabelecimentos. A maior parte está localizado no centro, depois na Vila Yolanda, Parque Presidente, Vila Portes, Jardim das Flores, Campos do Iguaçu e Polo Centro.
Há anos se fala da urgente necessidade de Foz do Iguaçu ter um prato típico – verdadeiramente típico. Isso porque, segundo registros, o prato típico da cidade é o “Pirá de Foz”. Ele está nas buscas do google, está em blogs e em sites de turismo. Também já observei em poucos cardápios. Eu já experimentei. É uma delícia.
Mas, prato típico é aquele que é conhecido, acessado, que está incrustado na cultura das famílias, que está conectado com a comunidade.
Então, fiquei pensando: talvez a identidade culinária de Foz seja justamente a imensidão de identidades. Além de ser cidade de fronteira, também é de migrantes. Quanto aparato cultural e gastronômico eles trazem.
E isso é muito interessante. Pela característica da fronteira, nós também incorporamos alguns preparos dos países vizinhos, como a parrilla e a sopa paraguaia.
Fiz uma rápida pesquisa com amigos próximos. Perguntei: “Qual comida você acha que mais caracteriza Foz?”. Uma amostra aleatória de 16 pessoas respondeu. “Tabulei” as respostas e 70% disse: comida árabe ou shawarma. Em segundo lugar, peixes de água doce. Em terceiro, churrasco.
A pesquisadora e professora do curso de gastronomia do Instituto Federal do Paraná (IFPR) campus Foz do Iguaçu, Paola Stefanutti, comenta que uma premissa para um prato ser considerado típico é o reconhecimento dele pela própria comunidade que o consome, para então ser reconhecido pelos demais.
“Esses registros, essas práticas que acontecem, os saberes e fazeres à mesa é que são patrimônios alimentares, pois trazem um reflexo em termos de cultura e também de economia, uma mercadoria enquanto produto turístico, mas tem que estar conectado à comunidade”.
Nesse mergulho pela gastronomia local, o IFPR está coordenando uma atividade de extensão junto aos alunos do curso de gastronomia para conhecer a culinária tradicional da cidade. Primeiro, são selecionados os bairros de Foz do Iguaçu mais representativos em número de estudantes da turma.
Na primeira oportunidade, o bairro Morumbi foi o escolhido. Ali, os alunos realizaram 21 entrevistas com moradores acima de 60 anos e que moram há pelo menos 30 anos no bairro. Durante as entrevistas, eles contam as suas histórias de vida, como chegaram em Foz e também compartilham uma receita de família, quando o morador também cozinha para os pesquisadores.
Em um terceiro momento, as receitas são levadas para o laboratório de gastronomia do Instituto, onde os alunos transformam as unidades de medida caseiras em medidas padrão, identificam a ordem de preparo em uma ordem cronológica e lógica para ser replicada e, finalmente, fazem a sistematização em um livro.
O primeiro volume foi lançado em fevereiro, onde os moradores compartilham suas histórias e receitas, trazendo memórias, tradições e sabores que formam parte do patrimônio cultural imaterial da cidade.
Uma das grandes questões de ter uma identidade gastronômica ou um selo de indicação geográfica para produtos locais, além de caracterizar o território, há o aspecto econômico, as pessoas gostam de experimentar pratos típicos.
Além disso, um produto com IG se transforma não apenas em um item de consumo, mas em um presente, em um souvenir, um artefato de valor histórico e cultural. Faz parte da experiência e ainda gera boas oportunidades de marketing.
Mas, quando vejo minha família cozinhando massas, o venezuelano que faz pães maravilhosos, a senhora palestina fazendo um divino arroz maklub, o árabe fazendo arais e shawarma, a paraguaia vendendo chipa no semáforo e o pessoal que tem restaurante na beira do rio fazendo peixe, a minha expectativa é somente uma: quero provar e degustar tudo isso e o que mais houver, inclusive o Pirá de Foz.