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Do Pompidou para Foz do Iguaçu: por que o mundo da arte olha para o PR

Pompidou Julie Narbey
Foto: Didier Plowy

Foz do Iguaçu acaba de entrar para o circuito da arte global. A cidade será sede do Centro Pompidou Paraná, primeira unidade nas Américas do prestigiado museu francês e a única no hemisfério Sul. Com inauguração prevista para 2027 e investimento estadual de R$ 200 milhões, o projeto une arquitetura inovadora, formação cultural e diálogo entre o Brasil e o mundo.

Mas o que fez o Centre Pompidou — que tem unidades em cidades como Paris, Xangai e Bruxelas — escolher Foz do Iguaçu como seu novo endereço?

Em uma conversa inédita com o Economia PR, Julie Narbey, diretora-geral da instituição, revela os bastidores dessa decisão histórica, os critérios envolvidos, a força política por trás do projeto e o que os brasileiros podem esperar da experiência cultural que está por vir.

Nesta entrevista exclusiva, Julie destaca também o papel da arte como ferramenta de transformação social, o potencial da Tríplice Fronteira e o que torna o Paraná estratégico no novo mapa da cultura internacional. Confira o Economia PR Drops a seguir:

O Centre Pompidou escolheu Foz do Iguaçu como sua primeira unidade nas Américas. O que atraiu a atenção da instituição para essa cidade em particular?

Julie: O Centre Pompidou mantém uma relação de longa data com o Brasil: já apresentamos várias exposições no país, como elles@centrepompidou, em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, em 2013. Atualmente, mais de 90 artistas brasileiros estão representados em nossas coleções. Acabamos de adquirir, inclusive, 70 obras dos designers brasileiros Humberto e Fernando Campana, figuras centrais do design contemporâneo. A colaboração com o Estado do Paraná começou por iniciativa do governador Ratinho Junior, com a ambição de abrir um novo museu de arte moderna e contemporânea não em Curitiba, a capital, mas em Foz do Iguaçu, o segundo destino turístico mais visitado do Brasil. Essa forte vontade política, o grande apelo turístico da região e sua localização estratégica na Tríplice Fronteira — oferecendo possibilidades de colaboração com Argentina, Brasil e Paraguai — nos pareceram repletos de sentido e oportunidades.

Quais foram os principais critérios considerados pelo Centre Pompidou para estabelecer essa parceria com o Estado do Paraná e o Brasil?

Julie: Essa parceria é fruto de uma cooperação iniciada em 2022 com o Estado do Paraná, que permitiu construir uma relação de confiança e confirmar a solidez do projeto cultural e científico liderado por nossos parceiros brasileiros. Era muito importante para o Centre Pompidou que o projeto contasse também com um forte apoio político. E é exatamente isso que encontramos no Estado do Paraná, que, por meio de sua Secretaria de Estado da Cultura, criou uma equipe dedicada à concepção do projeto e irá financiá-lo — tanto a construção do edifício quanto sua operação.

O presidente Laurent Le Bon mencionou que essa nova antena teria “o DNA do Centre Pompidou de Paris”. O que isso significa, concretamente, para o público brasileiro?

Julie: O Centre Pompidou e o Estado do Paraná compartilham o desejo de criar um espaço cultural que abrigue exposições, mas que também seja um verdadeiro centro de convivência — um espaço de criação, com uma programação multidisciplinar que valorize as artes visuais, as artes cênicas, o cinema, os debates de ideias, entre outros. A educação e a transmissão de conhecimento ocuparão um papel central, dando continuidade ao compromisso do Centre Pompidou, reconhecido como pioneiro na mediação cultural. A arquitetura do edifício, concebida pelo paraguaio Solano Benítez, também se inspira no projeto arquitetônico radical e utópico do Centre Pompidou original.

Quais são as expectativas da instituição quanto ao impacto cultural, social e educativo do Centre Pompidou Paraná na região da Tríplice Fronteira?

Julie: Enquanto nos preparamos para fechar nosso edifício em Paris em setembro, para cinco anos de reforma, essa implantação no coração da região da Tríplice Fronteira representa uma oportunidade única de fortalecer nossos laços com a cena cultural sul-americana, propor um novo diálogo com nossas coleções e testar novos formatos de programação. Cada nova unidade do Centre Pompidou exige de nossas equipes uma reflexão renovada, para que o projeto tenha ressonância com o território, se alimente de suas especificidades culturais e sociais e se abra a todos os públicos. Trata-se de um diálogo recíproco e frutífero com nossos parceiros brasileiros — e também com todos os atores locais.

Além das exposições, o projeto prevê oficinas, residências artísticas, espetáculos e atividades educativas. Como essa proposta multidisciplinar será implementada em Foz do Iguaçu?

Julie: Em sintonia com a programação do Centre Pompidou, era essencial para nós que o projeto desenvolvido em Foz do Iguaçu fosse multidisciplinar e desse grande destaque à criação contemporânea. O programa de residências artísticas, com a criação de laboratórios, é exemplar nesse sentido. Destacamos também o programa de pré-implantação, que será executado até a abertura oficial. O Centre Pompidou contribuirá com sua expertise nesse processo, que servirá para ouvir os desejos dos moradores, artistas, profissionais da cultura e do turismo locais — além de testar diferentes formatos de programação e, assim, propor projetos sob medida para esse território já a partir da abertura do Centre Pompidou no Paraná.

O contrato atual prevê uma cooperação inicial de cinco anos. Há planos ou abertura para prolongar esse período, ou até considerar outras unidades no Brasil no futuro?

Julie: As parcerias são geralmente estabelecidas por um período de cinco anos. Elas podem ser renovadas se a experiência for bem-sucedida e essa vontade for compartilhada com os parceiros — como ocorreu em Málaga (aberto em 2015) e no West Bund Museum, em Xangai (aberto em 2019), com os quais decidimos continuar colaborando. Para todos esses projetos, buscamos sempre uma abordagem de longo prazo. Sabemos também que esses projetos evoluem com os anos, à medida que a experiência e o conhecimento transmitidos pelas equipes do Centre Pompidou permitem uma autonomia cada vez maior por parte dos nossos parceiros.

Para concluir, qual mensagem o Centre Pompidou gostaria de transmitir ao público brasileiro — especialmente aos habitantes do Paraná — sobre essa nova etapa da instituição no hemisfério sul?

Julie: O Centre Pompidou está muito feliz em estreitar seus laços com o Brasil, em ter a oportunidade de apresentar suas coleções em Foz do Iguaçu, em diálogo estreito com esse território da Tríplice Fronteira. Esta nova etapa marca a continuidade de uma aventura comum com o Estado do Paraná, baseada em um compromisso compartilhado com a criação contemporânea e os diálogos artísticos e culturais. Estamos ansiosos para construir juntos os próximos capítulos desse projeto!

Nota da redação: Esta entrevista foi originalmente concedida em francês e traduzida para o português, com o compromisso de preservar integralmente o conteúdo e o sentido das declarações.

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