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O que o relatório estadual de abertura de empresas diz (ou não) sobre Foz do Iguaçu

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Foz do Iguaçu Empresas
Foto: Rodrigo Chibiaqui

A Junta Comercial do Paraná (Jucepar) divulgou, neste mês, o relatório de aberturas e baixas de empresas no Paraná no primeiro semestre. Percorri os dados e conversei com o Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Agricultura de Foz do Iguaçu, Edinardo Aguiar, para interpretar as informações que estão no documento.

Entre aberturas e baixas de empresas, o relatório aponta saldo positivo de 2.731 empreendimentos de distintas naturezas jurídicas, com destaque para os Microempreendedores Individuais (MEIs), que representam 78% dos nossos empreendimentos. Número parecido com o do estado, que registrou 73% desta natureza jurídica. 

Entre aberturas e baixas de empresas, o relatório aponta saldo positivo de 2.731 empreendimentos de distintas naturezas jurídicas, com destaque para os Microempreendedores Individuais (MEIs). Fonte: Jucepar (2025).

Aberturas e baixas por porte de empresa, destaque para os Microempreendedores Individuais (MEIs). Fonte: Jucepar (2025)

Quando se analisa a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (Cnae), os dados brutos apontam “saldos positivos” nas cnaes de “transporte, armazenagem e correio”, “comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas”, “atividades administrativas e serviços complementares” e “atividades profissionais, científicas e técnicas”, respectivamente. 

Dados brutos da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (Cnae), apontam “saldos positivos” nas cnaes de “transporte, armazenagem e correio”, “comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas”, “atividades administrativas e serviços complementares” e “atividades profissionais, científicas e técnicas”. Fonte: Jucepar (2025)

Não dá para ler esses números de maneira isolada. Vamos fazer algumas análises e pensar no presente/futuro.

Em relação à Cnae que teve maior crescimento, a de “transporte, armazenagem e correio”, o incremento da atividade provavelmente está relacionado a fatores como o aumento do comércio eletrônico, que exige mais entregas e logística eficiente, à expansão do mercado interno e o crescimento do comércio internacional. No ano passado, o porto seco de Foz do Iguaçu bateu recorde de movimentação: foram US$ 8,6 bilhões em importações e exportações.

Especialmente no caso de Foz do Iguaçu, este perfil de cidade de fronteira e um dos principais pólos logísticos do estado demandam atividades e serviços complementares a transporte e armazenagem, dentre outros, e tudo indica que este cenário será expandido com a implantação do novo porto seco.

Sobre o item “comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas”, o secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Agricultura de Foz do Iguaçu, Edinardo Aguiar, reforçou a importância de analisar e pensar nas outras variáveis e indicadores que tratam do tema.

“Podemos observar que grande parte destas empresas que mais abriram e fecharam, que trata de comércio e reparação de veículos e motos, são microempreendedores individuais. E muitas delas se enquadram naquele movimento de mês em que as empresas são deixadas de lado ao longo do tempo, acabam acumulando débitos e, em geral, torna-se mais vantajoso para o microempreendedor fechar a atividade e abrir uma nova, virando quase que algo rotineiro, o que acaba inflacionando essas informações. Muitas vezes acabam sendo baixadas pelas pessoas ou pela própria Receita Federal. Acho importante considerar este desvio padrão, essa particularidade e, pelo que temos percebido no portal do empreendedor, que trata de formalização de microempreendedores, essa atividade acabaria indo para a quarta ou quinta colocação, para que seja mais fiel em relação à comparação com o porte de empresa das demais atividades que vêm logo em seguida”. 

Em relação às atividades de “alojamento e alimentação”, qualquer caminhada pela cidade mostra a visível expansão de novos empreendimentos do ramo alimentício, seja de pequenos empreendedores, franquias ou grandes grupos que têm se instalado na cidade. São atividades diretamente impactadas pelo turismo, que segue aquecido – se formos considerar o movimento do Parque Nacional do Iguaçu como parâmetro, este já atingiu a marca de 1 milhão de visitantes em tempo recorde, 11 dias antes do ano anterior.

Segundo Edinardo, um setor que merece destaque, mas que no ranking está em 5o lugar,  é o que trata de saúde humana e serviços sociais.

“Por mais que ela esteja mal colocada no ranking, é uma atividade que merece ser observada com muita atenção, porque são, em sua maioria, empresas do setor clínico e médico, de alto faturamento, alto valor agregado, e alta capacidade de retenção de recursos na cidade, além da retenção de uma excelente qualidade profissional das pessoas que fazem parte dessa cadeia. Então, diferente do que observar, como eu disse, apenas a quantidade, é interessante pensar na qualidade e no valor agregado, a retenção de riqueza da atividade, o que certamente mudaria o ranking de maneira bastante significativa”.

O secretário também comentou que para os próximos anos acredita no crescimento dos setores de alojamento, alimentação, atividades profissionais científicas, que são atividades complementares, de maior complexidade, e também as atividades de informação, comunicação e saúde, com maior potencial de crescimento, em se tratando de geração de riqueza e emprego.

“O turismo segue sendo um grande propulsor de desenvolvimento, transporte e logística também, mas o setor industrial tem ampla capacidade de ser impulsionado, e não falo industrial de grandes plantas, mas naquelas atividades produtivas de industrialização que ocupam pequenos espaços, mas que têm a possibilidade de oferecer um alto valor agregado”.

O secretário também deu ênfase ao comércio e a oportunidade de se fomentar a implantação de novas lojas francas na cidade, e ainda o setor agropecuário, que pode ser potencializado.

Políticas públicas de empreendedorismo

Criar um ambiente favorável ao empreendedorismo envolve a participação ativa de governo.

Edinardo destacou a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas e mecanismos como Central do Empreendedor e Central de Compras Públicas Municipais para incentivar a aquisição de produtos e serviços de empresas locais, o Banco do Empreendedor, órgão de intermediação de acesso a crédito para micro e pequenas empresas, e ações de simplificação e desburocratização para melhorar os processos e tornar mais ágil a abertura de negócios.

“A Central do Empreendedor de Foz, que fica localizada ali na ACIFI, tem um dos melhores desempenhos do Estado, e a melhor taxa de avaliação em relação à abertura e à manutenção de empresas, especialmente microempreendedores individuais. O Banco do Empreendedor de Foz é hoje o banco que acessa crédito para micro e pequenas empresas também com o melhor desempenho do estado, tanto em volume de recursos quanto em número de operações”.

Por fim, o secretário citou o Conselho Municipal e o Comitê Gestor de Desenvolvimento Municipal (CGDM), órgão interdisciplinar que delibera sobre as políticas públicas voltadas ao empreendedorismo e geração de negócios, cuja estrutura envolve a participação de contadores, instituições representativas e o próprio município, para que as políticas públicas possam cada vez mais ser aprimoradas e convergirem em um ambiente adequado para a abertura de novas empresas.

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Jornalista, Doutora em desenvolvimento regional e Pós doutoranda em políticas públicas e desenvolvimento.

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