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Guarapuava abriga referência nacional em genômica e medicina de precisão

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Foto: Divulgação

No interior do Paraná, afastado dos grandes polos científicos do país, um bairro planejado está redesenhando o mapa da pesquisa genética no Brasil.

A Cidade dos Lagos, em Guarapuava, abriga hoje o Instituto para Pesquisa do Câncer (IPEC), um dos oito laboratórios credenciados pelo Ministério da Saúde para integrar a Rede Genomas SUS e o único localizado fora das capitais ou grandes centros.

Além de ser um centro de excelência em genômica, o IPEC oferece testes genéticos para pacientes com câncer atendidos pelo SUS por meio de uma parceria com o Hospital São Vicente. Esse suporte diagnóstico permite que diversas pessoas tenham acesso a medicina de precisão.

O objetivo é identificar, com base no perfil genético de cada paciente,   quais medicamentos tem maior chance de eficácia, evitando tratamentos ineficazes e reduzindo efeitos colaterais desnecessários.

“A maioria dos hospitais públicos não realiza testes genéticos por falta de estrutura técnica ou financiamento, e quando são feitos na rede privada, os custos são altos e inacessíveis. Nosso trabalho aqui é transformar ciência consolidada em soluções tecnológicas que realmente cheguem à população. Estamos desenvolvendo um modelo de saúde pública mais inteligente, com efetividade clínica e base em evidência genética”, afirma Luis Gustavo Morello, Coordenador do IPEC, doutor em genética e pesquisador da Fiocruz.

A presença do IPEC catalisou outro movimento relevante: a criação do Vale do Genoma, um ecossistema estruturado sob o modelo da “quádrupla hélice”, reunindo universidades, governo, empresas e centros de pesquisa, tendo Guarapuava como polo central de inovação científica.

A proposta é aliar genômica e inteligência artificial para identificar padrões relacionados às principais doenças crônicas da população brasileira, como câncer, doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e metabólicas, buscando melhorar o diagnóstico, prevenção e tratamento dessas doenças, além de gerar inovação para outras áreas como agricultura, pecuária, alimentação e meio ambiente.

Além do IPEC, a iniciativa conta com instituições como a Seti (Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior), a Fundação Araucária, o Cilla Tech Park, a Fundação Shunji Nishimura e o CIAG (Centro de Inovação em Agronegócio) como signatários fundadores.

“Queremos criar um ambiente que ofereça estrutura e escala para quem deseja desenvolver tecnologia baseada em genética no Brasil. Seja um hospital, uma universidade, uma grande empresa ou uma startup, qualquer ator poderá se beneficiar do que está sendo construído aqui”, explica Morello.

Uma das frentes mais inovadoras do instituto é o projeto de mapeamento genético da população saudável de Guarapuava, iniciado em 2023.

De lá para cá, mais de 4.500 moradores foram sorteados por critérios estatísticos semelhantes aos de um censo para participar da pesquisa, com coleta de amostras biológicas como sangue, saliva e fezes, além de mais de 800 variáveis comportamentais, como padrão de sono, consumo alimentar, grau de escolaridade e presença de doenças na família.

A meta é realizar o sequenciamento completo de DNA e cruzar essas informações para entender, de forma preditiva, quais predisposições genéticas podem indicar maior risco para doenças, como por exemplo câncer, diabetes e Alzheimer, indo além do diagnóstico.

Até agora, cerca de 1.200 genomas já foram sequenciados, alimentando um banco inédito de dados com potencial para fundamentar políticas públicas futuras.

“O estudo é único no Brasil com esse nível de profundidade envolvendo indivíduos saudáveis. Nosso objetivo é construir uma base robusta para medicina preventiva e personalizada, com apoio de inteligência artificial, que possa ser incorporada ao SUS nos próximos anos. Com isso, poderemos antecipar riscos, gerar políticas públicas e orientar prevenção de forma personalizada”, explica o pesquisador.

Como parte de uma visão sistêmica que integra saúde, tecnologia, pesquisa e urbanismo inteligente, o avanço do IPEC e do Vale do Genoma ocorre dentro de um contexto urbano único: a Cidade dos Lagos.

Com 3 milhões de m² e mais de 40% da área dedicada à preservação ambiental, o bairro foi concebido como um polo de inovação e sustentabilidade, sendo reconhecido como um dos poucos exemplos de cidade inteligente fora dos grandes centros urbanos brasileiros.

Desenvolvido com foco em sinergia entre saúde, educação e tecnologia, abriga hospitais, universidades, escolas bilíngues, centros de inovação e outras estruturas em uma mesma região.

A localização, segundo Luis Gustavo Morello, é estratégica para a operação e expansão do instituto.

“A sinergia que encontramos na Cidade dos Lagos é rara. Temos um ecossistema pronto para transformar ideias em soluções. Aqui conseguimos desenvolver, testar e aplicar novas tecnologias de forma integrada. A pesquisa sai do papel e se transforma em impacto social concreto”, resume o coordenador do IPEC.

Atualmente, o IPEC já atua em outras regiões do país, oferecendo painéis genéticos que auxiliam no diagnóstico personalizado de pacientes em hospitais e centros de saúde. Em Guarapuava, por exemplo, os testes identificaram mutações em tumores que não responderam aos medicamentos padrão disponíveis.

Com base nesses resultados, médicos conseguiram, por decisão judicial, o acesso a terapias mais eficazes, com potencial de aumentar a sobrevida e reduzir custos para o sistema de saúde.

O trabalho realizado em Guarapuava, em parceria com instituições como a Fiocruz, a Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), a Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, o Hospital São Vicente e a iniciativa privada, posiciona o município como referência nacional no avanço da medicina personalizada.

A expectativa é que, até 2026, o sequenciamento dos 4.500 genomas seja concluído, gerando publicações científicas e bases para novas abordagens terapêuticas.

Mais do que isso, o projeto mostra o potencial do interior do país em liderar iniciativas de alto impacto em saúde pública, alavancadas por um modelo de urbanismo inteligente.

“Nosso compromisso é mostrar que é possível fazer ciência de ponta fora dos grandes centros. Guarapuava e a Cidade dos Lagos estão abrindo um novo capítulo na forma como o Brasil cuida da saúde de sua população”, finaliza Luis Gustavo Morello.

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