Quando Allan Soares e Rafael Miranda começaram a produzir roupas em Londrina, não havia planejamento estratégico nem plano de negócios robusto. Havia apenas a vontade de empreender com criatividade em um mercado tradicional, mas ainda pouco explorado: o da moda masculina.
Em pouco mais de uma década, a dupla construiu o AKR Brands, holding que hoje concentra as marcas King&Joe, King&Joe Play (linha infanto juvenil) e K&J Black (menswear premium). A previsão para 2025 é fechar o ano com faturamento de R$ 120 milhões, mantendo uma taxa de crescimento superior à média do setor.
A trajetória, que começou com produção feita por uma rede de contatos locais, se desdobrou em uma operação que hoje tem fábrica própria de 10.000 m² em Londrina, cerca de 200 colaboradores diretos e presença nacional por meio de mais de 3 mil pontos de venda, lojas parceiras B2B, presentes em 2.500 cidades brasileiras.
Mas, para os fundadores, o crescimento não é apenas sobre escala, e sim sobre modelo.
“Não nascemos com a estrutura de uma grande empresa, mas criamos nossos próprios caminhos. O que nos ajudou a crescer foi entender que, mesmo fora dos grandes centros, dá para criar marcas relevantes, com identidade própria e capacidade industrial”, afirma Allan Soares, CEO do grupo.
Nos últimos anos, regiões do interior do Brasil vêm se firmando como polos estratégicos para o crescimento de negócios, especialmente em setores como moda, tecnologia e agronegócio.
Esse movimento descentralizador ganha força diante de dados do último Censo, que apontam, pela primeira vez, perda de população nos tradicionais centros urbanos de São Paulo e Rio de Janeiro, um indicativo claro de que as oportunidades econômicas e de qualidade de vida estão migrando para fora das capitais.
Com custos operacionais mais baixos, acesso a mão de obra qualificada e consumidores cada vez mais conectados, cidades médias e pequenas passaram a atrair investimentos e impulsionar o surgimento de empresas robustas, com atuação nacional.
Esse movimento descentralizador tem revelado empreendedores com forte identidade regional, capacidade de inovação e ambição de escala, como é o caso da AKR Brands, que nasceu em Londrina e hoje desafia a lógica de que só é possível construir grandes marcas a partir dos grandes centros urbanos.
O salto estrutural veio com a formalização da holding AKR Brands, um movimento pensado para profissionalizar a operação, consolidar as verticais de moda masculina e preparar o grupo para novos lançamentos.
A fábrica, atualmente operando em 60% de sua capacidade, projeta produzir até 2 milhões de peças por ano. Novos segmentos produtivos e oportunidades de escala de negócios já estão no planejamento da empresa para 2026.
“Queremos ampliar nossa atuação com inteligência. Não se trata apenas de lançar produtos, mas de construir uma plataforma de marcas sólidas. O mercado masculino ainda tem muitas lacunas e estamos posicionados para preenchê-las com consistência”, explica Allan.
A gestão do grupo também vem acompanhada de iniciativas pouco usuais no setor, como a criação do AKR Bootcamp, programa de capacitação voltado a representantes, e o fortalecimento de parcerias com criadores e marcas independentes.
Colaborações com nomes como Barba de Respeito e o artista plástico Magmor já saíram do papel. Mas a maior aposta da companhia está na capilaridade: crescer no interior antes de chegar aos grandes centros.
“Grande parte da nossa força vem do relacionamento com o varejo multimarcas. E a maior parte dele está fora das capitais. Nossa prioridade agora é desenvolver um modelo de franquia mais acessível, com alto giro e melhor experiência de compra, voltado justamente para cidades médias”, afirma Rafael Miranda, COO do AKR Brands.
A lógica de expansão passa também pela diversificação dos canais. O e-commerce, que representa hoje uma fatia em crescimento do faturamento, deve atingir 15% da receita até 2028, impulsionado por novos investimentos em tecnologia e logística. Segundo Rafael, essa pluralidade de frentes é o que tem garantido resiliência em momentos de oscilação econômica.
“Nossa operação é pensada para ser flexível, rápida e adaptável. Isso vale para o produto, para o canal de venda e para a forma como a marca se comunica”, diz ele.
Mais do que uma história de crescimento, o caso da AKR Brands joga luz sobre um ponto fundamental da nova economia brasileira: o papel do interior como polo de negócios.