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Como a Muush quer transformar a moda sustentável no Brasil

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Foto: Divulgação

A moda é a segunda indústria mais poluente do planeta, responsável por cerca de 10% das emissões globais de gases de efeito estufa.

Pressionada por consumidores cada vez mais atentos à origem e ao ciclo de vida das roupas, a cadeia têxtil vive uma transformação marcada pelo uso de fibras orgânicas, tecidos reciclados, economia circular e biotecnologia. Só no Brasil, tecidos sustentáveis já responderam por quase 41% da receita do setor em 2023, segundo um estudo da Kings Research.

No Paraná, essa mudança se fortalece com iniciativas que vão de eventos de moda circular em Curitiba à expansão de brechós, que cresceram 132 novas lojas apenas em 2024, e ao incentivo da indústria local para reduzir desperdícios e ampliar a competitividade global.

Dentro desse cenário, a Muush, startup sediada em Ponta Grossa, ganha destaque ao produzir biotecidos a partir do micélio de fungos cultivados em resíduos agroindustriais. O processo, que leva cerca de 22 dias, resulta em uma alternativa biodegradável e ecológica ao couro animal e sintético.

No Economia PR Drops de hoje, conversamos com Antônio Carlos de Francisco, CEO da Muush, sobre como a inovação em biotecidos pode posicionar o Paraná como referência em moda sustentável e, ao mesmo tempo, transformar a indústria da moda no Brasil. Confira:

Você percebe mudança no comportamento do consumidor em relação à moda sustentável?

Antônio: Percebemos uma mudança no comportamento e na opinião dos consumidores em relação à moda sustentável. A preocupação com temas sustentáveis é cada vez mais evidente em diversas atividades econômicas, e a indústria da moda, conhecida por sua grande pegada ambiental, não é exceção. Esperamos que mudanças mais significativas ocorram dentro do setor, permitindo que o desenvolvimento sustentável seja efetivamente praticado e que as metas globais sejam alcançadas. Enquanto isso, é fundamental continuar avançando e acelerando nessa direção. 

Como essa tendência impacta a indústria da moda nos próximos anos?

Antônio: Somente os fatores econômicos já não são suficientes. As dimensões sociais e ambientais passaram a ser consideradas na tomada de decisão de muitos gestores, impulsionadas pelas crescentes demandas verdes em toda a cadeia produtiva do setor, uma tendência já perceptível e que tende a se intensificar. Essa abordagem, conhecida como green supply chain, está presente em todos os níveis do setor e é justamente o que motiva nossa atuação: ajudar as empresas da cadeia produtiva a atenderem a esses requisitos e, ao mesmo tempo, inovarem em um mercado altamente competitivo. 

Onde o Brasil se posiciona em relação a tecidos biodegradáveis e sistemas de produção circulares? 

Antônio: No segmento de tecidos biodegradáveis, o Brasil pode hoje ser considerado líder na América Latina. Nosso produto é o único em nível de comercialização na América do Sul, o que confere ao país uma vantagem competitiva estratégica para as empresas parceiras. Essas empresas passam a atuar em um nicho sem concorrentes consolidados — ou seja, no tão almejado oceano azul descrito por W. Chan Kim e Renée Mauborgne.

Quais foram os maiores desafios para transformar o micélio em produto de mercado? 

Antônio: Essa tecnologia é altamente estratégica e inovadora devido à sua ampla aplicabilidade. Por essa razão, não havia uma base prévia de desenvolvimento que pudesse servir como ponto de partida. Avançamos em cada nível de TRL de forma pioneira, aprendendo com os próprios desafios até alcançar o estágio atual de comercialização do produto. Esse cenário já era esperado e foi enfrentado por meio de parcerias com pesquisadores e empresários, além do patenteamento de nossas inovações. 

Como o biotecido equilibra estética, desempenho e baixo impacto ambiental? 

Antônio: Com uma série de tratamentos e processos, conseguimos desenvolver um produto com alto nível de acabamento e grande semelhança visual em relação ao couro de origem animal. Além disso, as propriedades mecânicas do material são fundamentais para possibilitar a entrada em mercados altamente regulamentados. Nossos produtos suportam até 15 MPa de tração, resistem a 50 mil dobras sem sofrer danos, além de mais de 50 ciclos de lavagem e 100 ciclos de secagem sem perda de desempenho, atendendo de forma rigorosa a normas como a ABNT NBR 11640/2017. 

Que aprendizados de sustentabilidade e inovação são essenciais para startups em setores tradicionais?

Antônio: O pioneirismo envolve altos riscos e, nesse cenário, é fundamental estabelecer parcerias estratégicas para o desenvolvimento de novos produtos sustentáveis. O aprendizado mais valioso que obtivemos ao longo desse processo é que a colaboração com ICTs e pesquisadores, especialmente por meio de modelos de parcerias público-privadas com profissionais altamente qualificados, constitui a base desse desenvolvimento. Sem esse apoio, o caminho se torna muito mais difícil. 

Como startups equilibram crescimento, impacto ambiental e viabilidade financeira?

Antônio: Essa demanda surge principalmente da crescente exigência por mais sustentabilidade ao longo de toda a cadeia produtiva do setor, impulsionada, sobretudo, pela mudança de comportamento dos consumidores, que cada vez mais buscam produtos alinhados aos seus valores. 

Quais são os próximos desafios da Muush em produção e parcerias?

Antônio: Atualmente, nosso produto está pronto para atender às principais necessidades das empresas do setor. Nos próximos meses, esperamos f irmar parcerias estratégicas e fornecer nossos produtos para que essas empresas possam potencializar seu desenvolvimento sustentável e alcançar patamares que antes não seriam possíveis. 

Como vocês medem o impacto ambiental e usam esses dados nas decisões estratégicas? 

Antônio: O impacto ambiental pode ser avaliado por meio de diferentes categorias. Nosso produto se destaca principalmente na redução da poluição atmosférica, da contaminação do solo e da água, uma vez que apresenta 90% menos emissões de CO₂ equivalente, 99% menos consumo de água e geração zero de resíduos em todas as etapas de produção do bioproduto. 

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