Discutir as rotas de integração sul-americana é projetar o futuro da região. O tema, muitas vezes restrito a especialistas em logística, infraestrutura e comércio, precisa ser ampliado para a esfera pública, pois seus efeitos vão muito além do transporte de mercadorias: impactam a economia, a soberania, o meio ambiente e a vida cotidiana das populações que vivem nas áreas de fronteira.
Foz do Iguaçu é, por natureza, um ponto de convergência: um hub logístico bioceânico no Paraná, onde circulam povos, instituições e empresas que vivem cotidianamente os impactos dessa integração.
O projeto sobre “Rotas da integração sul-americana” é conduzido pelo Ministério do Planejamento e Orçamento e insere-se em uma trajetória de iniciativas de interconexão física entre o Brasil e a América do Sul – da IRSA ao Cosiplan. A essência permanece: ampliar a competitividade da economia brasileira e regional, reduzindo custos e tempo no transporte de insumos e produtos, e reforçando a inserção nas cadeias globais de valor, especialmente na conexão com a Ásia.
No caso do Paraná, essa discussão é ainda mais crucial.
Localizado no eixo de Capricórnio, o estado possui um potencial estratégico para se conectar com os portos do Pacífico e otimizar a relação com o seu maior parceiro comercial, a China. Mas essa conectividade não pode ser pensada apenas em termos de infraestrutura física.
Ela envolve uma complexa rede de atores: ministérios, órgãos de fiscalização, polícias, povos indígenas, organizações internacionais como o Zicosul e até o próprio Mercosul, que tem se debruçado sobre as Áreas de Controle Integrado e a integração fronteiriça.

Tais transformações territoriais trazem consigo riscos e dilemas. O impacto sobre populações vulneráveis, povos tradicionais e o meio ambiente precisa estar na agenda, bem como a securitização das rotas. Outro ponto a ser altamente considerado é a transformação digital.
Se quisermos uma integração mais ágil, com fronteiras inteligentes, é imprescindível avançar em controles aduaneiros e migratórios modernos, que dialoguem com as preocupações atuais de segurança e proteção de dados. Portanto, discutir as Rotas de Integração Sul-Americana é mais do que um debate sobre corredores logísticos, mas de modelos de desenvolvimento que queremos.
Este tema que traz complexidades mas também expectativas de desenvolvimento socioeconômico para a região será debatido no II Simpósio Internacional sobre Rotas de Integração Sul-Americana, que acontecerá em Foz do Iguaçu de 8 a 10 de outubro, na Universidade Federal da Integração Latino-americana (UNILA).
O evento é realizado pela UNILA, Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF), Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Fundação Araucária, Associação Brasileira de Relações Internacionais, Napi Trinacional e Red de Expertos en Paradiplomacia e Internacionalización Territorial.
Dos palestrantes, já há presenças confirmadas como da Embaixadora Gisela Padovan, que falará sobre as Rotas da Integração Sul-Americana. Outros nomes interessantes que participarão dos painéis e debates são de Sandra Maria de Carvalho Amaral (Subsecretária de Articulação Institucional para o Projeto Rotas de Integração Sul-Americana do Ministério do Planejamento do Brasil), Felipe Lemos (diplomata brasileiro, coordenador do SGT-18), Carlos Hugo Centurion (coordenador paraguaio do SGT-18), Luis Scasso (Diretor da OEI Argentina), Christian Asinelli (Vice-presidente executivo do Banco de desenvolvimento da América Latina e Caribe – CAF), além da comunidade local e de representantes civis como Lara Taroco (UFT e Ministério dos Povos Indígenas).
Vale a pena ficar de olho no que todos estes atores reunidos falarão sobre as rotas, pois, sem dúvida, elas afetarão os estados fronteiriços do Brasil, a região oeste do Paraná e países vizinhos.