O Brasil segue na liderança da inovação na América Latina e, dentro do país, o Paraná vem se consolidando como um dos ecossistemas mais dinâmicos e equilibrados. Em 2025, o estado alcançou a 3ª posição no Índice Brasil de Inovação e Desenvolvimento (IBID), figurando entre os principais polos tecnológicos nacionais e reduzindo a distância para São Paulo, líder do ranking. O avanço reflete uma combinação de capital humano qualificado, infraestrutura sólida e ambiente favorável à criação de novos negócios.
Nesse contexto, Curitiba foi escolhida para sediar o ALAS Summit 2025, encontro anual da Aliança Latino-Americana de Startups (ALAS), que acontece entre os dias 16 e 18 de outubro.
O evento reunirá lideranças, investidores e empreendedores de 24 países em uma programação dedicada a fortalecer a colaboração e o desenvolvimento do ecossistema de inovação no continente.
Organizado pela ALAS com apoio do Instituto de Transformação Digital (ITD), o Summit promoverá três dias de painéis, workshops e reuniões estratégicas voltadas à criação de políticas e projetos conjuntos para a América Latina. Além disso, será apresentado o Communiqué Anual, documento que reúne recomendações e metas para o avanço da inovação regional nos próximos anos.
No Economia PR Drops a seguir, o presidente da ALAS, Junior Rodrigues, comenta o papel do Brasil como catalisador da inovação latino-americana e destaca o potencial do Paraná em setores estratégicos. Ele também explica como o evento pode consolidar o estado como um hub de soluções aplicadas e uma porta de entrada para o ecossistema do Mercosul. Confira:
O que é a Latin American Startups Alliance e qual o objetivo principal da organização no fortalecimento do ecossistema de inovação latino-americano?
Junior: A Latin American Startups Alliance (ALAS) é uma rede que une a região Latam com atores do ecossistema — startups, investidores, aceleradoras, incubadoras, universidades, órgãos públicos e empresas — cujo objetivo é conectar, promover e fortalecer o empreendedorismo e a inovação na América Latina e promove-la globalmente frente a grupos globais. O propósito principal é reduzir fricções entre países, facilitar fluxo de capital e trazer mais capital, parcerias e talento, promover intercâmbio de know-how e aumentar a visibilidade internacional das startups latino-americanas, acelerando o crescimento de soluções de impacto regional.
Por que Curitiba foi escolhida para sediar o ALAS Summit de outubro? O que a cidade e o Paraná representam no cenário de startups da América Latina?
Junior: Curitiba é um ecossistema emergente com muitos cases de sucesso, e que trabalha constantemente a inovação e empreendedorismo, tema central da Aliança. As cidades sedes são sempre cidades que saem dos grandes centro, no Brasil SP e RJ, focando em levar o evento para ecossistemas em crescimento constante e Curitiba tem uma localização estratégica no Sul do Brasil e proximidade com países do Mercosul.
Esses fatores fazem de Curitiba um polo regional com capacidade para receber um evento que busca conectar atores latino-americanos e demonstrar casos práticos de impacto local e escalabilidade.
Quais são as principais expectativas e objetivos do ALAS Summit?
Junior: Iremos realizar a apresentação do Comunicado anual (communiqué) após 1 ano de trabalho, colocando nossas recomendações, propostas e projetos para 2025-2026 e também 2025-2055 para América Latina, já que estaremos assinando uma cooperação com o Startup Genome para construir uma visão dos próximos 30 anos da nossa inovação. Além disso durante o evento será realizados vários Conclaves (reunião de portas fechadas) para discutir vários temas relevantes, importantes e que precisam de regulação, políticas públicas ou fomento para o desenvolvimento empreendedor na região, e claro o trabalho de integração e conexão entre os 24 países membros, que hoje são representados pelas lideranças locais.
Como você avalia o ecossistema de inovação do Paraná em comparação com outros estados brasileiros e países latino-americanos?
Junior: Em relação a muitos estados brasileiros, o Paraná tem um ecossistema maduro em áreas específicas — forte presença acadêmica, parques tecnológicos e bons exemplos de articulação público-privada. Comparado a polos maiores (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte), o Paraná é menor em volume de capital e número absoluto de startups unicorns, mas competitivo em qualidade de projetos, custo operacional e níveis de colaboração regional. Em comparação com outros países latino-americanos, o Paraná se posiciona como um hub sub-regional com bom potencial para servir como ponte entre mercados do Cone Sul, especialmente para startups B2B, agrotech e indústria 4.0. Acredito que poderá sair com muitos acordos e cooperações pós Cúpula principalmente com Chile, Paraguai e Bolívia que estarão com delegações no evento.
Quais são as principais vantagens competitivas do Paraná para atrair investimentos e desenvolver startups de impacto regional e global?
Junior: O Paraná tem uma combinação muito interessante de fatores que tornam o estado extremamente competitivo para atrair investimentos e desenvolver startups. Primeiro, contamos com um ecossistema acadêmico forte e uma mão de obra altamente qualificada, o que garante base técnica e talento disponível para as empresas crescerem. Além disso, o custo operacional aqui é mais baixo do que nos grandes centros, o que reduz o burn rate e permite que as startups consigam escalar com mais eficiência. Outro ponto importante é a força do nosso agronegócio e das indústrias locais — o que cria um terreno fértil para o desenvolvimento de soluções em agrotech e deeptech. Temos também uma infraestrutura logística privilegiada, com boas rodovias, proximidade de portos e fronteiras, o que facilita tanto a movimentação de produtos quanto a integração com mercados do Mercosul. E talvez um dos maiores diferenciais do Paraná seja a cultura de cooperação: aqui o setor público, o privado e as universidades realmente trabalham juntos. Essa articulação é reforçada por políticas de fomento e programas locais que facilitam a realização de pilotos, parcerias e projetos de inovação em escala.
Quais setores ou verticais de startups têm maior potencial de crescimento no Paraná e podem se beneficiar da conexão com o ecossistema latino-americano?
Junior: Creio que os setores:
- Agrotech e foodtech
- Indústria 4.0 / manufatura avançada
- Energy / cleantech
- Healthtech e biotech (ligado a universidades e hospitais universitários).
- Logística / supply chain/ Portos, Exportação
Essas verticais podem se beneficiar fortemente da conexão com a rede latino-americana por meio de exportação de tecnologia, pilotos regionais e acesso a mercados adjacentes.
De que forma a ALAS pode contribuir para que startups paranaenses acessem mercados internacionais e capital de outros países da América Latina?
Junior: A ALAS atua como uma entidade de integração e articulação regional. Nosso papel é ouvir o ecossistema, participar de discussões estratégicas e apoiar governos e agências reguladoras na construção de um ambiente mais favorável à inovação. Trabalhamos no desenho de sandboxes regulatórios, programas conjuntos e iniciativas de apoio ao empreendedor, mas não somos os executores diretos — essa função é desempenhada pela nossa rede de aliados e parceiros em cada país. Nosso maior ativo é justamente essa capacidade de conectar e integrar o continente, tornando o mercado latino-americano mais fluido e colaborativo para a geração de negócios. Fazemos isso sempre a partir da escuta ativa das dores, desafios e necessidades reais de todos os atores que compõem o ecossistema de inovação da região.
Como aproveitar a proximidade do Paraná com países do Mercosul estrategicamente?
Junior: A proximidade geográfica do Paraná com os países do Mercosul é uma vantagem estratégica que ainda pode ser explorada de forma muito mais intensa. Essa posição permite, por exemplo, facilitar a realização de pilotos transfronteiriços com empresas e governos da região, especialmente em setores como logística e agrotech, que têm grande potencial de integração regional. Também é uma oportunidade para aproveitar melhor os acordos comerciais e as rotas logísticas já existentes, testando modelos de exportação física e digital a partir do estado. Além disso, o estabelecimento de hubs regionais — ou até bases em cidades de fronteira — pode ajudar a reduzir barreiras comerciais e regulatórias, ampliando o alcance das startups paranaenses. Outro ponto importante é a criação de clusters binacionais, com programas de co-desenvolvimento entre universidades e empresas, fomentando inovação conjunta. Por fim, o fortalecimento das relações institucionais por meio de missões e eventos organizados com câmaras de comércio e autoridades dos países vizinhos pode consolidar o Paraná como um elo natural entre o Brasil e o ecossistema de startups do Mercosul. Vale destacar que a ALAS está entrando com um pedido formal junto ao Mercosul para a criação de uma cadeira focada em startups, o que reforçará ainda mais a articulação regional e a integração do ecossistema latino-americano de inovação.
Quais são os principais desafios que ainda impedem uma integração mais forte entre os ecossistemas de startups latino-americanos?
Junior: Os principais desafios são:
- Diferenças regulatórias e burocráticas entre países (fiscal, trabalho, dados)
- Escassez de capital em estágios iniciais e intermediários, além da diferenciação nas estruturas de investimento
- Falta de dados e métricas harmonizadas sobre o ecossistema que permitam decisões cross-border
- Capacidades limitadas em escala operacional e suporte para internacionalização (soft-landing, compliance)
- Desconexão entre agendas públicas e necessidades reais do mercado.
Qual é a sua visão para o papel do Brasil e do Paraná no ecossistema latino-americano de inovação nos próximos 5 anos?
Junior: Na minha visão, o Brasil deve continuar sendo o principal hub de startups da região, tanto em termos de capital quanto de volume, mas com uma tendência clara de regionalização das oportunidades, com surgimento de hubs fortes fora de São Paulo. Espera-se também uma maior profissionalização dos fundos de investimento e um aumento significativo de investimentos cross-border. Meu grande objetivo é que o empreendedor latino se reconheça como um talento de excelência e perceba que temos um dos melhores ecossistemas de empreendedorismo do mundo. Mesmo atuando em contextos de recursos limitados, conseguimos criar e desenvolver grandes cases de sucesso. Acredito que, a partir do momento em que conseguirmos integrar toda a América Latina, o Brasil se tornará, naturalmente, o grande catalisador da região, não apenas pelo tamanho do seu mercado, mas também pela capacidade de atuar de mãos dadas com os mercados menores, potencializando startups latino-americanas. O Paraná, por sua vez, tem grande potencial para se posicionar como um hub de soluções aplicadas, especialmente nos setores industrial e agro, funcionando como uma porta de entrada estratégica para o Cone Sul. Com políticas públicas adequadas e protagonismo em eventos e rodadas internacionais, como o ALAS Summit, o estado pode ampliar parcerias internacionais, atrair fundos setoriais e exportar soluções com impacto regional. Minha visão é que o Brasil se torne a primeira opção de soft landing para startups latino-americanas, deixando Estados Unidos e Europa para uma segunda rodada de internacionalização. Em resumo: o Brasil segue como um grande catalisador regional; o Paraná se destaca como um polo estratégico de nicho, capaz de liderar verticais industriais e construir pontes práticas com outros países latino-americanos.