Por Bruno Lage, administrador com MBA em Finanças (FGV); atuou em grandes bancos e family offices e, em Curitiba, cofundou a Catálise com Marcelo Aoki
Liderar em FIDCs é mais do que tomar decisões operacionais. É atuar em um ambiente onde convivem originadores, gestores e investidores, cada um com objetivos distintos e expectativas próprias. Nesse cenário, o papel da liderança é garantir clareza e coesão, criando pontes entre os diferentes interesses e mantendo o time alinhado com o propósito do fundo.
Na Catálise, vivenciamos esse desafio diariamente. Os FIDCs são instrumentos sofisticados e exigem uma gestão cuidadosa de relações e processos. O originador quer escala e agilidade, o investidor espera retorno e segurança, e o gestor precisa garantir fluidez e governança. No centro de tudo isso está a equipe, responsável por traduzir decisões estratégicas em ações consistentes.
O primeiro passo para liderar bem nesse contexto é estruturar a governança de forma sólida. Processos bem definidos, comitês ativos e níveis de decisão claros reduzem ruídos e evitam dependência excessiva de indivíduos. Esse modelo permite que a equipe opere com autonomia e responsabilidade, entendendo seu papel na engrenagem maior.
Outro ponto essencial é a comunicação. É preciso adaptar a linguagem para cada interlocutor. Com investidores, o foco está em dados, riscos e performance. Com originadores, a clareza operacional e o senso de urgência ganham destaque. Internamente, o discurso deve integrar o time, dar direção e gerar engajamento. Liderar é, antes de tudo, saber escutar e se fazer entender.
Também é fundamental ter agilidade para ajustar rotas. Em estruturas como os FIDCs, o ambiente muda com frequência — seja por questões regulatórias, comportamento da carteira ou variações de mercado. O líder precisa tomar decisões com base em dados e manter a equipe segura diante de mudanças, mesmo quando ajustes são inevitáveis.
Por fim, o alinhamento de incentivos é um dos maiores desafios. Garantir que todos, originador, gestor ou investidor, caminhem na mesma direção exige negociação constante e visão estratégica. Quando isso acontece, o fundo se fortalece e a operação se sustenta com mais equilíbrio e previsibilidade.
Liderar estruturas complexas não significa complicar a gestão, mas reconhecer a pluralidade e agir com clareza, escuta e propósito. É esse entendimento que fortalece as relações, mantém a confiança e garante que os resultados sejam construídos de forma perene e compartilhada.