Vivemos em um momento histórico de excessos — de demandas, de informações, de distrações. Mas, paradoxalmente, o que se torna cada vez mais escasso não é o dinheiro, nem os talentos, nem as oportunidades. O recurso mais finito e insubstituível que temos é o tempo.
O tempo é o único recurso que não se recupera. E é justamente com ele que sustentamos aquilo que dá sentido à existência das famílias empresárias: os vínculos. Cuidar dos vínculos, formar pessoas, transmitir valores — tudo isso custa tempo, presença e atenção.
Entretanto, nossa lógica produtivista nos empurra a vender tempo em troca de dinheiro. Trabalhamos mais para ganhar mais, acreditando que o aumento da renda trará segurança e liberdade. Mas, na prática, ao fazermos isso, terceirizamos parte daquilo que é essencialmente intransferível: a formação dos nossos filhos e a nutrição dos nossos relacionamentos.
Em muitos lares, os papéis de educar, orientar e acompanhar foram delegados a profissionais — professores, cuidadores, escolas. E mesmo quando a escolha é criteriosa, o custo é menor do que o valor do tempo que vendemos. A conta “fecha” financeiramente, mas será que ela fecha emocionalmente e espiritualmente?
Será que vínculos são terceirizáveis?
Será que posso contratar alguém para substituir o olhar atento de um pai, o colo de uma mãe, o diálogo de um casal, o tempo de convivência entre irmãos?
O tempo não é apenas um ativo — ele é a matéria-prima da formação humana e da continuidade familiar. É no tempo compartilhado que se transmitem os valores, a visão e a alma da família. É no tempo junto que se preserva o legado.
À medida que o ano se encerra, este é um convite à reflexão:
Será que estamos cuidando bem do nosso tempo?
Será que estamos dedicando o tempo necessário às nossas verdadeiras prioridades — à família, aos vínculos, à espiritualidade, ao descanso?
Ou será que o trabalho, a produtividade e o dinheiro ocuparam um espaço tão grande em nossas agendas que já não sobra tempo para o que realmente importa?
Reavaliar a forma como usamos o tempo é, talvez, o maior ato de gestão que uma empresa familiar pode realizar. Porque não há sucessão sólida sem vínculos sólidos, e não há vínculos sem tempo partilhado.