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Como Ponta Grossa caminha para ser referência em inovação

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Foto: Divulgação

Nos últimos anos, Ponta Grossa se consolidou como um dos ecossistemas de inovação mais dinâmicos e reconhecidos do Paraná. Sob a marca Vale dos Trilhos, a cidade transformou sua identidade ferroviária em um símbolo de futuro, conectando história, tecnologia e desenvolvimento territorial.

O movimento ganhou força com a criação de iniciativas públicas e privadas, o avanço dos Laboratórios de Aprendizagem Criativa e a articulação de diferentes atores do município.

Um marco importante dessa trajetória foi a inauguração do Estação Hub, em junho de 2025. Instalado no prédio histórico da antiga Estação Arte, o espaço se tornou o centro de inovação de Ponta Grossa, reunindo laboratórios, estúdio de podcast, áreas de coworking e ambientes para hackathons.

A expansão da infraestrutura também impulsionou o número de iniciativas credenciadas, que saltou de três para 64 em pouco mais de um ano, consolidando o município no mapa da inovação nacional.

Esse avanço se reflete em reconhecimentos expressivos, como o Selo Ouro CSC e a inclusão de Ponta Grossa entre as 21 comunidades mais inteligentes do mundo, segundo o Intelligent Community Forum (ICF). Por trás desses resultados, está uma governança colaborativa que reúne poder público, universidades, empresas, startups, instituições de fomento e sociedade civil.

Para entender como esse ecossistema se estruturou, quais resultados já aparecem e para onde Ponta Grossa pretende avançar, o Economia PR Drops conversou com Tônia Mansani, presidente da Agência de Inovação e Desenvolvimento e coordenadora do Vale dos Trilhos. Confira a entrevista completa abaixo.

Quais fatores foram determinantes para essa expansão tão rápida (64 iniciativas credenciadas no SEPARTEC)?

Tônia: Vou procurar sintetizar a estratégia que traçamos ao longo dos dois últimos anos. A expansão acelerada do Vale dos Trilhos resulta de um processo de planejamento integrado e atuação em rede, conduzido de forma colaborativa entre os seis atores do ecossistema de inovação local. Essa governança articulada possibilitou sinergia de esforços, alinhamento estratégico e construção coletiva de políticas públicas voltadas à inovação e ao desenvolvimento sustentável. Entre os principais fatores, destacam-se:

a) Governança e institucionalização robustas: A hélice de governo atuou de forma coordenada, alinhando políticas públicas e garantindo um ambiente de confiança e legitimidade.
b) Trabalho em rede e planejamento conjunto: A atuação integrada entre os seis atores — governo, conhecimento, mercado, institucional, fomento e habitats — foi determinante para estruturar uma base sólida e replicável, que permitiu a rápida expansão das iniciativas credenciadas no Separtec.
c) Ambientes promotores de inovação e investimento estratégico: O robusto investimento municipal na criação de 50 Laboratórios de Aprendizagem Criativa consolidou uma infraestrutura inédita, inserindo a inovação como eixo estruturante da política de educação municipal. Essa iniciativa conferiu à rede pública de ensino um protagonismo sem precedentes na história da educação local, fortalecendo a cultura da inovação desde a base.
d) Engajamento e mobilização comunitária: A participação ativa da sociedade civil e dos empreendedores locais gerou senso de pertencimento e ampliou a demanda por novas soluções, acelerando o processo de consolidação do ecossistema e o alcance do Vale dos Trilhos como referência estadual em inovação.

Esses fatores, combinados, criaram o ecossistema certo para alcançar 64 credenciamentos em curto prazo.

Como o Vale dos Trilhos tem conseguido integrar diferentes atores — poder público, universidades e empresas — de forma colaborativa e contínua?

Tônia: O Vale dos Trilhos tem se consolidado como um ecossistema de inovação colaborativo e dinâmico, sustentado pelo modelo da Hélice Sêxtupla, que integra de forma sistêmica os atores do governo, conhecimento, mercado, institucional, fomento e habitats de inovação. Essa estrutura permite um fluxo permanente de cooperação, promovendo um ambiente propício à inovação, ao empreendedorismo e ao desenvolvimento sustentável. Na prática:

  • O poder público exerce papel de articulador estratégico e facilitador, criando condições institucionais e regulatórias que reduzem barreiras, estimulam a inovação e favorecem o investimento.
  • As universidades e centros de pesquisa contribuem com formação de capital humano, pesquisa aplicada, projetos de extensão e transferência de tecnologia, fortalecendo a base de conhecimento e conectando a produção científica às demandas reais do território.
  • As empresas e o setor produtivo participam ativamente ao identificar desafios, propor soluções, ofertar mentorias e co-investir em projetos, gerando impacto econômico e social.
  • As instituições de fomento e governança asseguram suporte técnico, financeiro e estratégico, garantindo continuidade e sustentabilidade às ações do ecossistema.
  • Os habitats de inovação, como o Estação Hub, funcionam como nós de conexão, oferecendo infraestrutura, espaços de experimentação e ambientes de convivência que potencializam a interação entre todos os agentes.
  • A sociedade civil e os cidadãos são incorporados por meio de projetos de engajamento, eventos abertos, programas educacionais e participação em processos de cocriação, ampliando a legitimidade e o alcance das iniciativas.

Esse modelo de governança em rede, sustentado por uma agenda comum e planejamento integrado, garante que a colaboração seja contínua e orientada a resultados.

O que diferencia o ecossistema de Ponta Grossa de outros polos de inovação do Paraná?

Tônia: O ecossistema de inovação de Ponta Grossa, representado pelo Vale dos Trilhos, distingue-se por unir história, identidade territorial e visão de futuro em uma estratégia de desenvolvimento colaborativo e em rede. Desde a construção da marca de território, o ecossistema resgata e valoriza sua origem cultural e ferroviária, simbolizada pelo operário ferroviário e pela Estação Saudade — marcos que remetem ao espírito de trabalho, à conexão entre pessoas e ao movimento que impulsiona o desenvolvimento. A construção coletiva é um dos pilares desse modelo. A articulação entre governo, universidades, empresas, sociedade civil, habitats e instituições de fomento fortalece uma governança integrada, que atua de forma horizontal, transparente e orientada a resultados. A inovação é tratada como política pública estratégica, conduzida de maneira intersetorial e participativa. Além disso, a estratégia de rede adotada pelo Vale dos Trilhos amplia o impacto territorial, conectando Ponta Grossa aos demais municípios dos Campos Gerais e criando uma dinâmica regional de inovação. O resultado é um ecossistema com 64 ambientes credenciados no Separtec, com maturidade, capilaridade e coesão raramente observadas em cidades de porte semelhante.

Quais são os principais desafios para manter o ritmo de crescimento e engajamento do ecossistema?

Tônia: São inúmeros os desafios. A consolidação e o avanço contínuo do Vale dos Trilhos dependem de uma estratégia capaz de equilibrar crescimento, engajamento e sustentabilidade institucional. Talvez o maior desafio seja formar e renovar lideranças dentro do ecossistema — lideranças plurais, rotativas e preparadas para coordenar de forma compartilhada, garantindo a oxigenação da rede. Ainda posso elencar outros desafios:

  • Manter o engajamento permanente dos diferentes atores, evitando a fragmentação e a dispersão de esforços.
  • Evoluir o modelo de governança, aprimorando mecanismos de monitoramento, avaliação de impacto e transparência.
  • Fomentar a cultura de inovação aberta, ampliando a integração com grandes empresas e criando pontes entre startups locais, corporações e investidores.
  • Estimular parcerias entre academia e setor produtivo, fortalecendo a pesquisa aplicada, a prototipagem rápida e a transferência de conhecimento.

Manter o ritmo de crescimento exige investir na formação de pessoas, na governança adaptativa e na cultura colaborativa.

Ainda há barreiras culturais ou estruturais para a inovação no município?

Tônia: Sim. Apesar dos avanços, ainda existem barreiras culturais e estruturais que demandam atenção estratégica. Destaco a cultura de risco e a mentalidade inovadora, que ainda estão em amadurecimento — especialmente entre empresários tradicionais e servidores públicos. Consolidar essa mentalidade exige formação contínua, incentivo à criatividade e valorização de práticas inovadoras. Outra barreira é a formação de lideranças inovadoras, capacidade crucial para sustentar a vitalidade do ecossistema em um modelo colaborativo e rotativo.

Quais são as metas do Vale dos Trilhos para 2026 e os próximos cinco anos?

Tônia: As metas estão ancoradas no livro Vale dos Trilhos: uma rede de atores conectados pelos destinos do empreendedorismo inovador e sustentável, que orienta o ecossistema até 2043. A curto prazo, até 2026, buscamos:

  • Consolidar a governança colaborativa e fortalecer o comitê das seis hélices.
  • Expandir e qualificar habitats de inovação, ampliando laboratórios e hubs conectados.
  • Integrar plenamente os 50 Laboratórios de Aprendizagem Criativa ao sistema municipal de ensino.
  • Ampliar a conexão entre empresas e startups locais, com programas de open innovation e rodadas de negócios.
  • Aprimorar instrumentos de fomento, ampliando crédito, investimento e aceleração.

Esses destinos refletem a essência do Vale dos Trilhos: um ecossistema vivo, colaborativo e sustentável, que honra o passado, atua no presente e projeta o futuro com inovação e propósito coletivo.

Que oportunidades o Vale dos Trilhos enxerga para aproximar ainda mais startups locais de grandes empresas e investidores?

Tônia: Uma das maiores vantagens estratégicas de Ponta Grossa é seu ecossistema industrial sólido e diversificado, o maior parque industrial do interior do Paraná. Essa base produtiva cria um ambiente fértil para inovação aberta e novas parcerias. Entre as principais oportunidades:

  • Programas estruturados de inovação aberta, conectando startups às grandes empresas instaladas no município.
  • Plataformas de conexão entre desafios corporativos e soluções desenvolvidas por startups.
  • Rodadas de investimento e pitchdays recorrentes, aproximando investidores e empreendedores.
  • Parcerias universidade–empresa–startup para prototipagem, testagem e transferência de tecnologia.
  • Atração de novos investidores e fundos de inovação, impulsionada pelo parque tecnológico em implantação.

O Vale dos Trilhos atua como orquestrador dessas conexões, transformando o ambiente industrial diversificado de Ponta Grossa em uma plataforma de inovação e desenvolvimento sustentável.

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