Por Bruno Lage, administrador com MBA em Finanças (FGV); atuou em grandes bancos e family offices e, em Curitiba, cofundou a Catálise com Marcelo Aoki
A expansão dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) tem mostrado que governança não é detalhe técnico: é o que sustenta a confiança dos investidores e determina sua capacidade de crescimento. Nos últimos anos, acompanhando de perto a estruturação de operações na Catálise, percebi que o diferencial entre um FIDC que atrai investidores institucionais e outro que enfrenta resistência está justamente na qualidade de suas práticas de governança.
Os FIDCs são condomínios de investidores que compram direitos creditórios. A regulação exige que pelo menos 67% do patrimônio líquido esteja alocado nesses créditos, perante regulação.
A seleção dos recebíveis, os critérios de elegibilidade, a concentração por setor e a forma de cobrança precisam ser descritos com rigor no regulamento. Quando esses pontos são frágeis, o fundo perde previsibilidade; quando são sólidos, o investidor precifica melhor o risco e permanece por mais tempo.
Os dados mostram que o mercado segue aquecido. A Comissão de Valores Mobiliários registrou crescimento de 8,6% nas emissões de FIDCs no terceiro trimestre de 2025, na comparação anual. Para que esse avanço não seja apenas cíclico, mas estrutural, governança é peça-chave.
Na prática, vemos isso diariamente na Catálise.
Fundos que adotam avaliação detalhada e rigorosa dos cedentes, limites de concentração claros, auditoria recorrente e monitoramento ativo da carteira conseguem acessar investidores institucionais, inclusive fundos de pensão e players internacionais, conhecidos por políticas rígidas de compliance.
A governança também aprimora o lado das empresas cedentes. Quando entendem que precisam entregar qualidade e transparência para seus recebíveis serem aceitos por fundos estruturados, elas próprias investem em processos internos mais consistentes.
O resultado é um círculo virtuoso: melhores carteiras, menor risco sistêmico e mais confiança para atrair capital de longo prazo.
Em um mercado que busca alternativas ao crédito bancário tradicional, governança não é burocracia. É estratégia. E se o setor quiser continuar atraindo novos players e consolidar sua relevância no mercado de capitais brasileiro, a confiança será o ativo mais valioso.
E, nos FIDCs, confiança nasce da governança.