O Brasil acaba de dar um importante passo na valorização dos seus produtos agropecuários com o reconhecimento da Denominação de Origem (DO) para o café de Mandaguari.
O diferencial? Um estudo pioneiro, baseado em análise do microbioma dos grãos, conduzido pela GoGenetic Agro, em parceria com a Viva Soluções, consultoria especializada em Indicações Geográficas e Marcas Coletivas.
“Comprovamos cientificamente que os cafés de Mandaguari são únicos. Foi a primeira vez que usamos análise de microbiota para sustentar um pedido de DO”, afirma Eduardo Balsanelli, diretor da GoGenetic.
A técnica consistiu em identificar os microrganismos presentes nos grãos cultivados e compará-los com amostras de outras regiões do Brasil. O resultado evidenciou um perfil microbiológico único na região.
O projeto foi conduzido por Ton Lugarini, fundador da Viva Soluções.
“A gente vinha sentindo falta de um parceiro técnico com agilidade, visão prática e preço viável. Encontramos isso na GoGenetic. Eles entregaram em menos de três meses um estudo que, com outras instituições, levaria anos”, afirma Ton, que também é presidente da Associação Brasileira de IGs.
Segundo ele, a Viva Soluções já estruturou mais de 45 projetos de IGs, mas sempre enfrentou o desafio de comprovar tecnicamente o vínculo entre os diferenciais dos produtos com as regiões que são produzidos.
“Antes, para tentar uma DO, dependíamos de estudos acadêmicos, muitas vezes lentos e caros. Com a GoGenetic, conseguimos entregar uma DO completa e acessível — com caderno de especificações técnicas, rastreabilidade, sígno distintivo e agora, base científica”, destaca.
A análise microbiológica desenvolvida pela GoGenetic foi utilizada pela consultoria para sustentar tecnicamente o pedido junto ao INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). O processo levou cerca de 1 ano e meio até o reconhecimento oficial, mas a parte técnica — coleta de amostras, sequenciamento e laudo final — foi concluída em apenas 40 dias.
O uso de Indicações Geográficas (IGs) tem crescido de forma significativa no mundo inteiro. Segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), existem mais de 10 mil IGs registradas globalmente, com forte presença na Europa, onde produtos com DO, como o Champagne (França) e o Parmigiano Reggiano (Itália), movimentam bilhões de euros por ano.
Um estudo da Comissão Europeia indica que produtos com Indicação Geográfica geram, em média, um valor 2,23 vezes maior do que produtos genéricos equivalentes. No Brasil, os números também impressionam: levantamento do INPI de 2024 aponta que o país já conta com 139 Indicações Geográficas, das quais apenas 31 são Denominações de Origem — a categoria mais técnica e restrita.
De acordo com o Sebrae, o mercado de IGs representa uma oportunidade estratégica de desenvolvimento regional e acesso a mercados internacionais. Produtos com selo de origem têm maior valorização, abrem portas para exportação e são cada vez mais buscados por consumidores que desejam autenticidade, rastreabilidade e sustentabilidade.
O sucesso do Queijo Canastra (MG), reconhecido internacionalmente e recentemente considerado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco, é um dos maiores exemplos de como uma Indicação Geográfica pode transformar a realidade econômica de uma região.
O mesmo acontece com a Denominação de Origem Vinho do Vale dos Vinhedos (RS), que viu sua produção quase triplicar após a conquista do selo. Para Ton Lugarini, histórias como essas estão cada vez mais próximas da realidade de Mandaguari.
“Quando se constrói uma narrativa territorial, baseada em ciência, identidade e tradição, o consumidor entende que está comprando mais que um produto — está adquirindo uma experiência. O café de Mandaguari carrega essa força.”
Com a DO reconhecida, os produtores da região poderão explorar novas estratégias de marketing territorial, turismo rural e branding, criando um novo ciclo de valor para a comunidade local.
“O que diferencia esse café, além do sabor adocicado e das notas florais, é a história de resiliência dos produtores. Isso não se encontra em outras regiões, é algo muito único dessa região que incrementa as notas sensórias que esses cafés possuem. É essa história que deve ser usada no posicionamento do produto”, reforça Eduardo Balsanelli, da GoGenetic.
O impacto, no entanto, vai muito além do reconhecimento oficial. Para ele, o diferencial está na valorização dos produtores e no fortalecimento do agro brasileiro com base em ciência aplicada.
“Nosso papel é trazer clareza técnica para quem quer gerar valor com autenticidade. A Denominação de Origem é só o começo de um movimento que une qualidade, identidade e propósito. O Brasil possui um potencial gigantesco para transformar produtos locais em símbolos de excelência global. E a história do café de Mandaguari mostra que tradição, ciência e estratégia podem — e devem — caminhar juntas”, analisa.