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Executivos retornam ao interior em busca de impacto local e qualidade de vida

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Foto: Divulgação

Uma nova geografia do trabalho tem se desenhado no Brasil. Longe dos holofotes, mas com potencial transformador, cresce o número de executivos e profissionais de alta performance que, após anos em grandes centros urbanos ou fora do país, optam por regressar às suas cidades de origem no interior.

Movidos por fatores como qualidade de vida, propósito pessoal e a possibilidade de construir impacto direto nos lugares onde começaram suas trajetórias, esses profissionais vêm redesenhando o papel do interior no mapa da inovação e da liderança empresarial.

A tendência ainda é discreta, mas vem se intensificando nos últimos anos, especialmente no pós-pandemia, quando o trabalho remoto e os modelos híbridos ganharam destaque como opções viáveis.

E se antes os grandes centros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, eram o único palco possível para carreiras ambiciosas, agora cidades médias e pequenas passam a figurar como protagonistas em novos capítulos profissionais. 

É o caso de  executivos da Bankme, fintech especializada em infraestrutura de crédito, que deixaram o universo das grandes corporações e retornaram ao interior, onde assumem hoje posições estratégicas na empresa.

Londrina, no Paraná, é o pano de fundo comum entre eles, mas os relatos revelam que o que está em jogo vai muito além de uma cidade: trata-se de uma nova forma de encarar o trabalho, o território e o impacto que se quer deixar no mundo.

Para Thiago Eik, CEO da fintech, a pandemia foi um divisor de águas.

“Ela bagunçou a bússola de muita gente. Começaram a repensar o ritmo, as prioridades, e percebemos que dava pra gerar impacto sem estar, necessariamente, em uma capital. O interior virou um ponto de equilíbrio: qualidade de vida, conexões afetivas e um ecossistema empreendedor em ebulição”, relata.

Wilson Freitas, hoje Senior Product Manager da Bankme, deixou Londrina em 2001 para assumir cargos de liderança em empresas de telecomunicações em São Paulo. Após experiências como gerente de projetos, gerente de programas e consultor sênior, decidiu empreender e conduziu sua própria empresa por oito anos.

“Foi um MBA da vida. Aprendi a lidar com vendas, marketing, finanças e pessoas. Em 2021 eu vendi a empresa e voltei para o mundo de grandes empresas como consultor sênior de produtos digitais”, relembra.

O retorno ao interior foi motivado por uma soma de fatores.

“Recebi uma boa proposta de trabalho, tanto profissional quanto financeira. Mas também percebi uma mudança na infraestrutura da cidade. Não bastava ter uma boa empresa, era preciso uma cidade com qualidade de vida, bem cuidada, com bons locais para conviver, se divertir e estudar”.

Freitas observa que o ritmo de trabalho em empresas de menor porte, mesmo que inovadoras, exige uma reconfiguração da liderança.

“Grandes empresas têm processos muito estruturados, mas também mais lentos por vezes. Em empresas menores, a cultura organizacional impacta menos do que as relações humanas. O contato mais próximo e o clima de interior exigem outra escuta”.

Para ele, o retorno não é movido apenas por nostalgia.

“Vejo muitos executivos trocando longas horas de trânsito por 15 minutos de deslocamento. Pessoas que preferem segurança e proximidade da família a salários estratosféricos em cidades com custo e estresse altíssimos. Vejo uma busca por equilíbrio, por viver melhor. O desafio é encontrar boas oportunidades de crescimento onde se decide viver”, reflete.

Aury Ronan Francisco, COO da Bankme, deixou Londrina no ano seguinte à graduação em Ciências Contábeis, quando o mercado local era competitivo e mal remunerado. Queria se especializar em contabilidade agropecuária e aceitou uma proposta para atuar no Mato Grosso.

De lá, seguiu para o Grupo Amaggi, e depois para grandes empresas como Dafiti, iFood, Sympla, Zoop, Movile, Nuvini, Itaú e Neogrid. Um currículo de peso, moldado por desafios de IPOs, estruturação de áreas financeiras e gestão em ambientes de crescimento acelerado.

A decisão de voltar para o interior foi recente e pessoal.

“Com a chegada da minha filha no fim de 2023, comecei a repensar a vida em São Paulo. Toda minha família ainda vive em Londrina. Foi quando a Bankme me procurou”, conta.

O convite tinha peso duplo: o empresário havia sido investidor-anjo da empresa em 2022 e recebeu a chance de fazer parte da operação e atuar numa organização jovem e em expansão. Mas ele não subestima os desafios.

“O maior desafio está no modelo organizacional. Grandes empresas são hierárquicas, com funções maduras. Startups em cidades do interior estão construindo tudo do zero. Não tem fórmula pronta: precisamos desenvolver talentos locais enquanto criamos o negócio do futuro”.

O COO também vê no movimento de retorno um fenômeno com raízes sociais e econômicas.

“O custo de vida nos grandes centros se tornou impraticável para muitas famílias. Além disso, há um desejo legítimo de viver com mais segurança, de oferecer uma infância melhor aos filhos. Cidades menores trazem essa perspectiva”, diz.

Os executivos compartilham uma visão comum: o retorno ao interior não é um retrocesso, mas a construção de um futuro mais consciente, conectado e com mais qualidade de vida.

“Muita gente que rodou o mundo está voltando para casa, não por falta de opção, mas por escolha mesmo”, resume Wilson. “Hoje a tecnologia permite que a gente lidere de qualquer lugar. E há um desejo legítimo de pertencer, de construir raízes com mais propósito”.

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