Em um condomínio do centro de São Paulo, um morador acumulava seis meses de inadimplência e já havia ignorado diversas notificações enviadas pelo síndico. Este, na dúvida sobre a melhor estratégia para cobrar o valor (se deveria acionar um advogado ou propor um acordo direto), consultou a Móra, uma assistente IA especializada em condomínios.
Móra explicou que a legislação permite o protesto da taxa condominial em cartório, uma medida mais rápida e menos custosa que a ação judicial, o que também evitaria um confronto direto. Ele assim o fez e conseguiu que o morador regularizasse o débito sem grandes conflitos.
Móra é uma criação da uCondo, uma empresa que desenvolve plataforma para gestão condominial fundada em 2015 pelo paranaense Marcus Nobre, e seus co-fundadores Léo Mack, Ivan Benkendorf e Juliano Corso, para quem a vida em condomínio é um capítulo à parte.
A infância de Marcus, em um condomínio popular, foi marcada pela ameaça de despejo, por dificuldades financeiras dos pais. A família conseguiu superar a adversidade, mas essa experiência seria fundamental para o desejo de abrir a uCondo, onde ele segue na liderança como CEO.
Hoje, a startup atende 6 mil condomínios em todo o Brasil e tem 620 mil usuários em sua plataforma. Mas, a inteligência artificial Móra não atende só os clientes da uCondo: qualquer pessoa pode consultá-la gratuitamente por WhatsApp.
Inicialmente conhecida como Sindy, a assistente de IA evoluiu e agora é a Móra, mais inteligente e versátil, o que ampliou suas aplicações e contribuiu para o crescimento no número de interações. Nos últimos meses já trocou mais de 29 mil mensagens com pessoas de todo o país.
A análise de dados mostra que 18% das interações são pedidos de criação de comunicados, liderando a motivação de procura por Móra, 17% são dúvidas sobre legislação e normas condominiais e 11% envolvem vendas, nas quais a IA facilita a contratação de serviços para o condomínio em questão.
“A Móra é capaz de lidar com questões jurídicas, administrativas, financeiras e comportamentais dentro dos condomínios em tempo real, por isso ela foi tão bem recebida pelo mercado”, comenta Marcus Nobre.
A Móra possuí uma estrutura de Agentes de IA, uma delas é treinada com as leis vigentes no Brasil, dentre elas a Lei dos Condomínios (Lei nº 4.591/64), nas legislações correlatas e no regulamento interno do condomínio, além de compreender o contexto social da pergunta, dando respostas acuradas.
“Basta mandar o documento do estatuto do condomínio por WhatsApp, como fazemos em nossas conversas cotidianas. Ela responderá de forma personalizada”, explica o CEO, ressaltando a praticidade da IA.
A tecnologia por trás da Móra é uma camada de inteligência proprietária da uCondo. Diferente das soluções tradicionais do mercado, que geralmente utilizam sistemas abertos de gigantes da tecnologia como Gemini e ChatGPT, a Móra possui uma camada personalizada de LangChain, AI Agents e RAG, que elevam sua precisão e capacidade de adaptação às necessidades específicas dos condomínios.
Antes da uCondo, na universidade, Marcus já havia decidido se dedicar à área condominial. Seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para a graduação em Bacharel em Sistemas de Informação foi uma plataforma para facilitar reuniões online nos condomínios, com foco em incentivar a participação dos moradores nas tomadas de decisão.
O projeto, que rendeu os prêmios Talento Acadêmico entre Universidades no Paraná e Startup Endeavor Scale-Up, foi a semente da futura startup.
“A uCondo nasceu da minha convicção de que a gestão condominial era uma questão relevante. O número de brasileiros morando em condomínios só cresce e precisamos de novas soluções para o segmento”, afirma.
De acordo com o Censo do IBGE 2022, 12,5% da população brasileira vive em apartamentos, enquanto em 2010 esse número era de 8,5% e em 2000, 7,6%.
Pensando nos diferentes recortes da população brasileira, a acessibilidade é um grande diferencial da Móra, já que qualquer pessoa pode interagir com a assistente pelo WhatsApp, sem necessidade de um novo aplicativo ou cadastro complexo.
“Nossa ideia foi democratizar o acesso à Inteligência Artificial, porque nem todo mundo tem familiaridade com sistemas ou pode pagar por consultorias. Conversar com a Móra é tão fácil quanto mandar uma mensagem para um amigo”, destaca Marcus.