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Como a Escambau reforça a economia criativa independente de Curitiba

Escambau Curitiba Economia PR
Credito: Murilo Ribeiro

A banda nasceu de um xingamento. “Giovanni Caruso e o Escambau” surgiu, segundo Giovanni me disse, motivado pelo descontentamento com o que andavam falando sobre o que faria após sua saída dos Faichecleres.

Da provocação à criação foi uma faísca – e como é característica dele, e de quase tudo o que aflora de um gesto visceral, a ideia logo amadureceu e se transformou em “Escambau”.

Quinze anos depois, a banda “debutou” em grande estilo — como uma boa mocinha que entra no salão de festas para dançar a valsa com o pai, mas com aquela essência inconformada que só os adolescentes conseguem alcançar.

O resultado foi Escambau – Acústico 15 anos, gravado ao vivo em um show histórico no Teatro Paiol, com ingressos esgotados com muita antecedência.

Havia algo de simbólico nessa escolha: um espaço que já abrigou pólvora foi o cenário mais adequado para a banda que nasceu de uma fagulha de provocação e se fez fogo contínuo na cena independente.

Não é exagero: sobreviver quinze anos às próprias custas faz do Escambau um coletivo de economia criativa autogerido, que organiza sua própria cadeia produtiva e gera empregos diretos e indiretos ao movimentar técnicos, produtores, designers ou profissionais da comunicação – é a prova de que a música independente pode ser motor econômico, social e cultural.

Seriamente profissional

Em 2023, dados da Firjan apontavam que a indústria criativa manteve o ritmo de expansão, com crescimento de 6,1%, respondendo por 3,59% do PIB brasileiro — o equivalente a R$ 393,3 bilhões. 

No recorte regional, o Paraná aparece com destaque: no quarto trimestre de 2020, o estado registrava 449.737 trabalhadores atuando no setor cultural e criativo, número 3,7% superior ao de 2019, representando 6,7% de toda a força de trabalho criativa do país, de acordo com o Itaú Cultural. 

“O acústico foi uma produção nossa, sem apoio cultural ou qualquer tipo de incentivo. Tudo foi arranjado a partir da vontade da banda em fazer acontecer, desde a primeira negociação até a escolha da parte visual”, explica Giovanni Caruso. “Um show muito bonito e seriamente profissional“, resume.

O espetáculo poderia ter seguido a cartilha do previsível: grandes sucessos, arranjos suavizados, clima de celebração. Arroz com feijão.

Mas não seria o Escambau, seria?

Fiel ao espírito que os acompanha desde o início, o quinteto preferiu subverter mais uma vez, e em vez de se apoiar apenas nos hits (que não são poucos), eles mergulharam em seu vasto repertório e deram voz, ali, ao vivo, às canções pouco executadas, algumas praticamente escondidas na extensa discografia.

O resultado é um álbum que documenta não só um show, mas também uma forma coletiva de pensar e operar, sempre coerente com a trajetória construída até aqui.

“É possível dizer que um espetáculo assim envolve o dobro de pessoas do que está registrado na ficha técnica”, diz, completando: “as pessoas nos atravessam nesse processo, que nem nós mesmos sabemos onde vai dar — só sabemos que precisa acontecer”.

Coisa de cinema

Finalizada a produção, a mesma iniciativa continua a impactar outros setores da economia criativa – o próximo passo do Acústico, por exemplo, é ser exibido nas telonas, em sessões de cinema agendadas em São Paulo, Porto Alegre e, claro, Curitiba.

“Com isso, estamos lidando com outros profissionais. É uma bola de neve que vai crescendo, com cada vez mais pessoas envolvidas no processo”, resume Giovanni.

Ali, no Paiol, o Escambau acendeu outra chama — a de sua própria trajetória. Quinze anos de estrada, sete álbuns de estúdio, um duplo, EPs, singles, videoclipes, shows lotados e turnês em países vizinhos.

O registro daquela noite, agora lançado em álbum ao vivo para a eternidade, é mais do que memória: é o retrato de uma lição de economia criativa que Curitiba vivencia há 15 anos.

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Jornalista especialista em Mídia e Cultura pela USP

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