Entre fitas K7, discos de vinil, fonogramas e itens raros repousa boa parte da história da música e da rádio do Paraná, guardada em oito salas da labiríntica Rádio Paraná Educativa. O acervo é o maior do país, com mais de 45 mil itens e foi batizado de Discoteca Prof. Alceu Schwab em homenagem ao pesquisador e crítico musical paranaense.
Agora, a coleção ganhará um espaço especialmente construído para abrigá-lo no Museu da Imagem e do Som (MIS), em Curitiba.
Mais do que uma mudança física, trata-se de uma passagem simbólica — a de uma era que ajudou a moldar a identidade cultural do estado. O acervo se torna, agora, uma cápsula do tempo e da memória de um período que formou a identidade cultural de todo paranaense
Este patrimônio cultural só existe porque um homem, ao longo de mais de quatro décadas, se dedicou a cuidar dele como quem zela por um filho. Único. Darci do Espírito Santo, ex-coordenador de programação e atual encarregado do acervo, começou esse trabalho em 1980 e nunca mais parou.

Responde a cada pergunta com pontadas de ciúmes — e sorri quando percebe que deixou o sentimento escapar, consciente de que o tempo é implacável com aquilo que não é protegido.
Agora, contando os dias para a aposentadoria, Darci explica que o novo espaço precisará oferecer as condições ideais para a conservação de itens tão sensíveis e valiosos.
Pouca iluminação, controle rigoroso de umidade e um termostato que oscile suavemente entre 18 °C e 21 °C são requisitos básicos para evitar danos irreversíveis a fonogramas e registros únicos.
Existe um crescimento na preocupação com a preservação sonora e documental do nosso país. Os números apontam: em 2024, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) destinou mais de R$ 4 milhões para ações de salvaguarda de bens culturais imateriais em todo o Brasil, beneficiando 42 bens culturais registrados em 168 cidades, incluindo Curitiba.
Embora expressivo, esse investimento não representou o maior da história: em 2023, o Iphan aplicou mais de R$ 22,5 milhões em ações de preservação do patrimônio imaterial, consolidando o maior aporte já feito nesse segmento. O esforço reflete a vontade de proteger o passado.
No meio desse labirinto, há preciosidades que poucos ouvidos ouviram.
E o guardião desse tesouro fala sobre elas com um misto de orgulho e cautela. Quando questionado sobre quais raridades guarda a sete chaves, prefere não detalhar. “É melhor não expor“, diz Darci, com a naturalidade de quem conhece o peso — e o risco — de cuidar de algo tão valioso.
Fontes da coluna contam que no acervo estão os primeiros discos independentes de música brasileira instrumental, o primeiro disco de Chico Buarque em italiano, Elis Regina cantando boleros e as primeiras produções de Luís Melodia e Tim Maia.
Quando perguntado sobre a data final para a migração dos itens, Darci novamente deixa escapar seu zelo extremo:
“Só quando tudo estiver perfeitamente organizado eu deixo.”