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App identifica plantas não-nativas em regiões urbanas

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Foto: wayhomestudio/freepik

De acordo com um recente estudo publicado pela revista científica Agriculture, Ecosystems & Environment, a presença de animais, plantas e micro-organismos não-nativos em países como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, África do Sul, Índia e Brasil, é responsável por um prejuízo anual de mais de US$ 330 bilhões de dólares a esses territórios.

Isso porque quando espécies exóticas são transportadas para novos espaços, elas carregam consigo um alto potencial de desequilíbrio da cadeia alimentar, pela ausência de predadores e pela facilidade em encontrar alimentos no local.

Esse desequilíbrio afeta, principalmente, as espécies nativas, que podem chegar à extinção no processo de competição por espaço e por formas de se nutrir. Segundo artigo publicado pelo Jornal da USP, o Brasil abriga cerca de 500 espécies introduzidas artificialmente no país e que desequilibram o ecossistema nacional causando perda de biodiversidade e até mesmo prejuízos econômicos.

Cientes sobre esse cenário e tendo em vista que espécies invasoras podem crescer mais de 35% até 2050 — conforme o levantamento publicado pela Global Change Biology  — cientistas do NAPI Biodiversidade: Serviços Ecossistêmicos desenvolveram um material que permite ao público se juntar ao trabalho de monitoramento de plantas invasoras em áreas urbanas.

Criado como protocolo de ciência cidadã, o material utiliza o aplicativo iNaturalist, para envio facilitado de fotos de plantas não-nativas identificadas, caracterizadas como espécies invasoras, que se somam à base de monitoramento internacional.

Segundo Ana Alice Eleuterio, pesquisadora do projeto e professora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), a iniciativa tem caráter extensionista e visa introduzir o público em uma dinâmica de preservação da biodiversidade nacional, considerando que a invasão biológica figura como a segunda maior causa de perda de biodiversidade no mundo.

“Além de ampliar a rede de monitoramento, a proposta fortalece o papel da ciência cidadã ao aproximar pesquisadores e sociedade, transformando a população em agente ativo na produção de conhecimento e na proteção dos ecossistemas. Há também um caráter de pesquisa, uma vez que pretendemos criar um mapeamento de espécies invasoras no município de Foz do Iguaçu, como proposta-teste para metodologia, e avaliar o potencial da coleta de dados por cientistas cidadãos na identificação e monitoramento de plantas invasoras”, explica.

Entre as espécies exóticas mais comuns encontradas em centros urbanos estão a leucena (Leucaena leucocephala), o lírio-do-brejo (Hedychium coronarium) e o capim-colonião (Urochloa maxima), que competem com plantas nativas e modificam o equilíbrio dos ambientes.

Ao registrar essas ocorrências pelo aplicativo, qualquer cidadão pode contribuir não apenas para a ciência, mas também para a formulação de políticas públicas de conservação, já que os dados coletados servirão de base para estratégias de manejo e prevenção da expansão dessas espécies.

Além da iniciativa que conta com o apoio da população, o NAPI Biodiversidade: Serviços Ecossistêmicos conta ainda com um serviço próprio Observatório Paranaense de Espécies Não-Nativas e/ou Invasoras em fase de finalização, visando a redução de perdas econômicas e ambientais.

Focado na identificação de espécies não-nativas, o projeto é integrado por uma base de dados informações espaciais e temporais para os registros ocorrência das espécies; possui uma base de dados computacional com expectativa de transformação em interface aberta para acesso, manipulação e avaliação; é composto ainda por um estimador de incidência de espécies exóticas por ecossistemas (Terrestre, Aquático e Marinho); e apresenta um Ranking dos municípios paranaenses com maior vulnerabilidade em relação à invasão de espécies.

Ao todo, 536 espécies não nativas foram identificadas no estado do Paraná. Desse total, 228 são plantas terrestres, 110 vertebrados aquáticos, 86 invertebrados marinhos, 51 invertebrados terrestres, 26 vertebrados terrestres, 14 plantas aquáticas, nove invertebrados aquáticos, seis micro-organismos aquáticos e marinhos e seis vertebrados marinhos.

No mapa apresentado, cada célula representa uma área de 100 quilômetros quadrados. As áreas em branco indicam locais sem registros de espécies exóticas, enquanto as células coloridas marcam regiões com ao menos uma ocorrência registrada.

O gradiente de cores vai do azul, que sinaliza baixa incidência, ao vermelho, que aponta elevado número de registros. Em cinza, estão destacadas algumas das unidades de conservação do estado. Já o círculo colorido que envolve o mapa apresenta, em porcentagem, a distribuição das diferentes formas de vida e ecossistemas identificados pelo observatório.

Com essas ferramentas integradas — que unem ciência cidadã, monitoramento tecnológico e a articulação de pesquisadores em rede — o Paraná se posiciona na vanguarda do combate às espécies invasoras no Brasil. A expectativa é que, a partir da ampliação da base de dados e da participação ativa da sociedade, seja possível orientar planos de manejo mais eficientes, reduzir prejuízos econômicos e fortalecer a preservação da biodiversidade em diferentes biomas.

“Nosso objetivo é que a sociedade reconheça as espécies invasoras como um desafio coletivo e, ao mesmo tempo, se sinta parte da solução. Ao democratizar o acesso à informação e estimular a participação popular, damos um passo essencial para garantir a resiliência dos ecossistemas e a sustentabilidade das próximas gerações”, reforçam os pesquisadores Marcos Robalinho Lima e José Ricardo Adelino, que integram o projeto na Universidade Estadual de Londrina (UEL).

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