Por Gilmar Piolla, Ex-secretário de Turismo, Indústria, Comércio e Projetos Estratégicos de Foz do Iguaçu
A venda dos 20 aeroportos operados pela Motiva (ex-CCR) para a mexicana ASUR abre a fresta que Foz do Iguaçu precisava havia anos.
Não é exagero dizer que a antiga concessionária jogou contra o nosso aeroporto. Tratou Foz como um terminal regional, atrasou processos fundamentais como a homologação da ampliação da pista e, de forma sorrateira, escoou parte do fluxo aéreo para Curitiba.
Lima-Foz virou Lima-Curitiba. Montevidéu-Foz virou Montevidéu-Curitiba. O resultado está à vista: enquanto o Brasil já opera acima dos níveis de 2019, com 110% de retomada, Foz ainda patina nos 97%, sem sequer igualar as marcas anteriores à pandemia.
A decisão de colocar Foz e Curitiba no mesmo lote de concessões, ainda no governo Bolsonaro, foi o erro de origem. Misturaram interesses distintos, realidades paralelas e ambições incompatíveis.
É ingenuidade esperar que a classe política da capital paranaense trabalhe para que Foz se torne um hub internacional. Há uma disputa velada, embora óbvia, entre o centro do poder e a fronteira.
E o comportamento da CCR ao longo desses anos, acostumada aos acordos espúrios de pedágio das rodovias, escancarou isso: priorizaram Curitiba, empurraram nossa demanda para o Afonso Pena e apagaram até o “Internacional” do nome do nosso aeroporto.
Agora entra em cena a ASUR, grupo sólido, experiente e especializado em hubs turísticos.
É a operadora de Cancún, Mérida e Cozumel, aeroportos que entendem o valor de destinos globais e sabem trabalhar fluxo, conectividade e vocação regional.
Há, portanto, uma oportunidade real de recolocar Foz na rota. Mas isso exige duas condições básicas:
- 1. Autonomia para planejar Foz como Foz, e não como anexo de Curitiba.
- 2. Interlocução direta com os novos controladores para reabrir a discussão do hub, do posicionamento internacional e da reconexão com o mercado externo.
A verdade é simples: Foz só será grande quando puder jogar o jogo sozinha. O ideal sempre foi separar os ativos, Foz com um grupo e Curitiba com outro. A concorrência saudável teria impulsionado ambos.
Como isso não ocorreu, cabe agora à ASUR mostrar que pode romper com a lógica centralizadora e recuperar o que se perdeu — os voos internacionais, a ambição de hub e o protagonismo que construímos ao longo de décadas.
Se os mexicanos entenderem o potencial de Foz com a mesma clareza com que tratam Cancún, o aeroporto volta a crescer. Se repetirem o modelo da CCR, continuaremos pagando a conta de uma guerra silenciosa que não começamos.
Ainda assim, pela primeira vez em muito tempo, há uma chama acesa: a sensação de que podemos ter um operador que não veja Foz como coadjuvante da capital, mas como o que sempre foi, um dos destinos turísticos mais estratégicos do Brasil e da América do Sul.