O mercado de franquias de smoothies vive um momento de ascensão visível. Novas marcas surgem quase que semanalmente, investidores começam a olhar com atenção para o segmento e o consumidor, cada vez mais orientado à saúde e à conveniência, demonstra interesse real por produtos naturais, rápidos e com apelo nutricional.
Até aqui, o cenário é positivo.
Mas o ritmo acelerado desse crescimento acende um alerta importante: estamos diante de uma tendência sustentável ou apenas repetindo ciclos recentes do franchising brasileiro, como o boom das paletas mexicanas, iogurterias e outras ondas gastronômicas que explodiram rapidamente e desapareceram com a mesma velocidade?
A questão central não é se smoothies são um bom produto — porque são. Há demanda, apelo, estética forte para redes sociais, ticket médio razoável e uma narrativa alinhada ao bem-estar e à vida ativa. O problema é a superficialidade com que esse modelo pode estar sendo replicado.
Operações simples, baratas e fáceis de montar atraem empreendedores iniciantes, mas justamente por isso tendem a gerar saturação precoce e baixa diferenciação.
Se o negócio nasce baseado apenas no hype, sem estratégia de posicionamento, estrutura de custos bem calculada, esteira de produtos e visão de longo prazo, o resultado pode ser uma corrida para abrir lojas e, logo depois, uma corrida ainda maior para fechá-las.
Outro ponto crítico é a frequência real de consumo.
Smoothies são acessórios ou protagonistas na rotina alimentar do brasileiro? O público compra pela praticidade de um lanche rápido pós-treino ou adota como hábito recorrente? Como esse consumo se comporta fora do verão ou longe de regiões de maior apelo fitness?
A longevidade do setor depende menos do desejo momentâneo e mais da capacidade de criar relevância cotidiana.
Além disso, grandes redes globais de fast food já incluem smoothies e versões proteicas em seus cardápios.
Quando players com escala industrial incorporam o produto como adicional, o mercado muda: eles não precisam viver de smoothies — mas as marcas especializadas precisam. Isso reduz barreiras competitivas e pressiona o preço, a inovação e a margem.
Logo, a sustentabilidade do setor passa por modelos de negócio mais robustos. Smoothies podem (e talvez devam) ser o carro-chefe, mas dificilmente devem ser o único produto forte do cardápio.
Um mix bem estruturado, como saladas, itens sazonais, suplementos e até linhas de varejo, aumenta a recorrência, amplia horizontes e protege a marca quando a onda passa. Modelos enxutos demais podem ser atraentes no momento da venda da franquia, mas tendem a não resistir ao médio e longo prazo.
O que pode diferenciar as marcas vencedoras das marcas passageiras não será a beleza do copo, a estética da loja ou a promessa “healthy“, mas sim a profundidade estratégica.
É preciso posicionamento claro, proposta de valor sustentável, gestão sólida, precificação inteligente, regionalização, logística eficiente e um cardápio com propósito — e não apenas moda.
Smoothies são uma tendência forte, com potencial real. Mas se o setor não evoluir além do monoproduto, corre o risco de repetir capítulos recentes das franquias no país: grande entrada, pequeno legado.
A diferença entre tendência e moda é simples. Uma transforma comportamento; a outra só surfa no momento. O desafio agora é decidir em qual dos dois lados esse mercado quer estar.