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Por que marcas como a Apple não fazem Black Friday e o que isso ensina sobre reputação, desejo e valor

Black Friday Apple Economia PR
Foto: I'm Zion / Pexels

Toda vez que chega novembro, a mesma pergunta reaparece: por que empresas como a Apple praticamente ignoram a Black Friday?

Em um país onde o consumidor ama promoção e pesquisa preço obsessivamente, a lógica parece estranha. Mas a resposta revela uma das maiores lições de reputação e posicionamento do mundo corporativo.

A Apple não evita a Black Friday porque está “acima” do mercado. Ela evita porque joga outro jogo.

1. A Apple não vende produtos. Vende significado.

A maioria das empresas vende funcionalidades e tenta competir em duas frentes:

  • preço
  • performance

São guerras de curto prazo.

A Apple opera em outro eixo: ela vende identidade.

O cliente não compra um celular.

Compra:

  • pertencimento,
  • estética,
  • cultura,
  • visão de futuro,
  • e a sensação de fazer parte de uma comunidade global.

Quando o seu produto representa algo maior que ele mesmo, você não precisa colocar etiqueta de desconto.

2. Desconto é narrativa — e a Apple recusou essa narrativa

A Black Friday é, essencialmente, um ritual narrativo global que diz:

“Compre agora porque só vale a pena hoje.”

Essa narrativa funciona muito bem para marcas que:

  • precisam girar estoque,
  • competem por preço,
  • dependem de estímulos imediatos,
  • ou não têm diferenciação clara além do produto.

A Apple simplesmente não pode aderir a essa lógica. Isso destruiria o elemento central da marca: percepção de valor contínuo.

Desconto é uma mensagem. E a mensagem da Apple nunca foi sobre preço.

3. Prêmios comportamentais: o consumidor é quem aceita as regras do jogo

A Black Friday revela uma característica fascinante do comportamento humano: as pessoas são mais leais a narrativas do que a preços.

Se o discurso da marca é:

  • premium,
  • aspiracional,
  • exclusivo,
  • baseado em inovação e status,

O consumidor não espera desconto porque já aceitou que está comprando algo além do objeto.

Você não encontra fãs da Apple reclamando do valor do iPhone em novembro. Você encontra pessoas fazendo o possível — e muitas vezes o impossível — para ter o novo modelo.

Isso não acontece por acaso. É engenharia de narrativa.

4. Preço não é matemática — é percepção

A Apple entendeu antes de todo mundo que: Preço é uma história que você conta. Valor é a história que o cliente acredita.

Na prática:

  • Marcas fortes “ancoram” preço com significado.
  • Marcas fracas tentam justificar preço com promoção.

A Black Friday, para a Apple, não faria sentido porque reduziria o valor simbólico do produto.

5. Marcas que não jogam o jogo do preço constroem desejo — não dependência

Existe uma diferença entre:

  • ser comprado (por causa do desconto), e
  • ser desejado (por causa da reputação).

A Apple pertence ao segundo grupo — e esse é o que constrói marcas longevas, com margem robusta e clientes que defendem a marca espontaneamente.

Enquanto empresas gastam milhões para competir no funil de conversão da Black Friday, a Apple aumenta seu valor de marca ano após ano, sem alterar sua narrativa.

E esse talvez seja o maior aprendizado para empresas brasileiras: quando a marca tem reputação, ela dita o ritmo.
Quando não tem, precisa correr com as outras.

6. O que líderes e empresas podem aprender com isso

a) Desconto não resolve falta de posicionamento. Se a única alavanca é preço, existe um problema de marca — não de venda.

b) Marcas fortes vendem significado, não funcionalidades. E isso cria proteção competitiva.

c) Reputação constrói margem. Por isso a Apple é a Apple — e por isso marcas comuns não conseguem copiar seu modelo.

d) Narrativa é estratégia, não estética. Marcas que investem em reputação conseguem manter valor mesmo em períodos de consumo sensível.

Black Friday é um espelho

Para algumas empresas, a data revela força. Para outras, revela dependência.

Mas para poucas — como a Apple — ela apenas confirma um fato: Quando a marca é desejada, qualquer dia é dia de venda.

Quando não é, até a Black Friday vira desafio.

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Leonardo Fagundes é estrategista de comunicação e reputação, especialista em posicionamento de marcas, líderes e narrativas. CEO da Apex Comunicação (APX), integra Inteligência Artificial ao PR para construir autoridade real e resultados consistentes. Assina análises sobre branding, narrativas corporativas e influência estratégica, conectando negócios, imagem pública e comunicação de alto impacto.

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