Por Paulo Machado, diretor executivo da Mapzer.
O Brasil é hoje um dos epicentros de inovação na América Latina, abrigando mais de 12 mil startups, conforme relatório da Cortex Intelligence e da Endeavor. Deste total, mais de 3,6 mil das empresas ativas fazem parte do segmento de Tecnologia da Informação. Não por acaso, nosso país domina o mercado de startups de IA do subcontinente, representando 74,33% do total de empreendimentos inovadores, segundo o relatório da plataforma Distrito. À medida que mais startups brasileiras integram a inteligência artificial em suas soluções, os investimentos começam a ganhar força. Um levantamento da Sling Hub mostra que, no primeiro trimestre de 2024, as startups brasileiras de IA já captaram mais de US$ 110 milhões, sinalizando o enorme potencial dessa área para o futuro.
Recentemente, o governo apresentou o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), também conhecido como “IA para o Bem de Todos”. Como diretor executivo da Mapzer, uma startup que utiliza IA para transformar municípios em cidades inteligentes, entendo este cenário como um divisor de águas para o Brasil. Não só pelo investimento maciço de R$ 23 bilhões entre 2024 e 2028, mas também pelo foco na soberania tecnológica, algo que o país tanto precisa.
O PBIA não é apenas um plano para avançar tecnologicamente. É uma inovação transversal que tem o potencial de transformar tanto o setor público quanto o privado. Para nós, startups de IA, o momento é de virada de chave, e isso fica evidente com o investimento de R$ 400 milhões destinado especificamente ao nosso setor. Estamos em um período de grandes oportunidades e desafios, onde a inteligência artificial será o pilar para o desenvolvimento de soluções que beneficiarão o país como um todo.
Na Mapzer, utilizamos IA para mapear e identificar problemas urbanos. Nossa tecnologia é 100% nacional e já está operando em diversos municípios, inclusive no Rio Grande do Sul, onde, nos últimos meses, colaboramos na reestruturação das cidades após as inundações. Em parceria com as prefeituras, conseguimos identificar mais de 144 mil problemas em Porto Alegre, Lajeado e São Leopoldo, contribuindo para uma gestão pública mais eficiente e uma resposta mais rápida às mudanças climáticas que tanto nos afetam.
O PBIA representa uma oportunidade única para ampliarmos nosso impacto. Com o apoio do plano, podemos levar nossa tecnologia a mais municípios, ajudando a transformar cidades em ambientes inteligentes, onde a gestão urbana é otimizada e a qualidade de vida dos cidadãos é priorizada. A inteligência artificial não é mais uma promessa do futuro; ela está aqui, e cabe a nós, enquanto sociedade e profissionais, integrá-la em nossas rotinas para enfrentar os desafios de forma mais eficaz.
Além disso, o PBIA tem o potencial de impulsionar milhares de profissionais a buscarem qualificações na área de IA. A capacitação será essencial para que possamos aplicar a inteligência artificial em todos os segmentos, desde a saúde até a infraestrutura urbana. Na Mapzer, nosso objetivo sempre foi antecipar demandas e proporcionar decisões mais ágeis aos gestores públicos. Com o PBIA, temos agora a chance de fazer isso em uma escala ainda maior.
Estamos apenas no começo de uma revolução que vai impactar profundamente o Brasil. A Mapzer nasceu do incômodo com problemas estruturais nas cidades, e com o apoio do PBIA, estamos prontos para contribuir ainda mais para que nossas cidades sejam mais inteligentes, competitivas e atrativas para investidores nacionais e internacionais.
A inteligência artificial é a chave para destravarmos o potencial do Brasil, e estou confiante de que, com as ações estratégicas do plano, estamos no caminho certo para alcançar essa transformação. Em maio deste ano, o volume de aportes em startups no Brasil cresceu 259% em relação ao ano anterior, refletindo o novo fôlego no mercado. Neste contexto, o PBIA tem um papel crucial pela frente de impulsionar a recuperação do setor. Com o apoio do plano, poderemos não apenas acompanhar essa retomada, mas também liderá-la, consolidando o Brasil como um protagonista global na revolução tecnológica.
Não queremos ficar na arquibancada aplaudindo os outros ou ser apenas espectadores da história, queremos ser parte dela. Tenho plena convicção de que a união entre academia, poder público e a iniciativa privada é o caminho para construir soluções transformadoras que impactem diretamente a sociedade, promovendo inovação, desenvolvimento sustentável e bem-estar para todos.