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Mercado Público Barrageiro: preservação e valorização da história de Foz do Iguaçu

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Foto: Kiko Sierich / Itaipu Binacional

“Lembro do colorido das tendas e do cheiro gostoso das barracas, que tinham morangos, abacaxis e maracujás”, disse um barrageiro.

“Os lugares mais frequentados na época da Cobal eram um tipo de barzinho, a lanchonete do Caco, que tinha música e estava sempre cheio – naquele tempo ninguém tinha aparelho de som em casa. Era lugar de beber alguma coisa e escutar música”.

“Além disso, a pastelaria era muito famosa. O ponto de encontro era aos sábados. Eles diziam que o pastel era muito gostoso, as famílias iam tomar café da manhã lá”, relataram alguns barrageiros entrevistados pela turismóloga e pesquisadora Sylvia Simões Braga, que coordenou o Espaço do Barrageiro de 2010 a 2020.

Enquanto Sylvia me contava essas narrativas do passado, de como era a antiga Cobal, a Companhia Brasileira de Alimentos, instantaneamente percebi o quanto o passado e o presente encontraram e reencontraram suas histórias.

Foz do Iguaçu ganhou de presente um atrativo turístico, um lugar para seus moradores e a preservação de um dos patrimônios históricos da cidade. O mercado foi re-concebido e reformado pela Itaipu Binacional e inaugurado no último 26 de novembro.

O Mercado Público Barrageiro tem o colorido do painel estampado na fachada, do artista e muralista Kobra, que traz a representação dos barrageiros.

A descrição da vida social me remeteu aos agradáveis espaços internos e externos do mercado: traz todas as possibilidades de socialização, seja nos boxes, nos restaurantes, no parquinho ou no pátio: a vida em comunidade, as compras e as degustações do passado e do presente.

Quantos sabores foram experimentados ali, quantos momentos de confraternização.

A Cobal ficava exatamente no prédio onde está o Mercado Público Barrageiro, no bairro Vila A, que começou a ser construído em 1975.

Três anos depois, em 1978, foi inaugurada a Cobal, lugar muito frequentado, inicialmente pelos trabalhadores da Itaipu e suas famílias, e depois pelos moradores da cidade, porque ali eram vendidos todos os tipos de alimentos e os preços eram considerados acessíveis.

Foto: Acervo Ecomuseu de Itaipu

Segundo os registros realizados por Sylvia, sobre a parte estrutural da Cobal, era como se fosse um complexo.

“Havia o mercado, com uma infinidade de gêneros alimentícios, onde as famílias faziam o rancho. Em volta, tinha uma lanchonete e uma espécie de feirinha, com lojas e tendas. Ali, eram vendidas frutas, verduras, carnes, também tinha uma peixaria, além de lojas de vestuário, de instrumentos musicais e de produtos nordestinos, dentre outros.”

O mercado dispunha de outras funções importantes, como alguns orelhões, para que as pessoas pudessem falar ao telefone. Sylvia conta que nas vilas ainda não havia sistema de telefonia e, na entrevista que gravou com o barrageiro Antonio Silveira da Silva, ele relatou o seguinte:

“Tinha 2 ou 3 orelhões, que eram só pra gente fazer as ligações. Além disso, tinha uma central telefônica, uma cabine com uma telefonista. A gente marcava um horário com os parentes pra eles ligarem pra nós. E a gente ficava aguardando o horário para entrar na cabine e conversar”.

Outra funcionalidade era um barracão amarelo que ficava ao lado da Cobal, onde havia uma assistente social que recebia as receitas médicas e encomendava os remédios para os trabalhadores. Quando eles iam às compras, aproveitavam para também levar suas receitas médicas e buscar remédios.

Memórias simples mas intensas permanecem com quem frequentava a Cobal.

“Eu entrevistei um barrageiro chamado Faustino Moraes da Cruz, que me disse ter muito boas lembranças do local. Ele era do interior, e me disse que foi o primeiro mercado que teve oportunidade de conhecer. Ele recebia o pagamento e já ia para lá com a esposa e os filhos para fazer o rancho. E ele não esquece que eles compravam iogurte, que na época não era um item comum. Ele recordou que a família toda se deliciava com iogurte”.

Sylvia gravou em vídeo entrevistas com 188 barrageiros. Da experiência, ela comenta que, como pesquisadora e admiradora da história local, um fato chamou muito a atenção dela.

“A Vila A era habitada por uma população bastante heterogênea. Tanto por ter trabalhadores de diferentes cargos, de áreas administrativas, de segurança, engenheiros, bombeiros, etc, quanto também pelos diferentes lugares de onde essas pessoas vinham, de todas as regiões do Brasil com diferentes hábitos e culturas e vivendo naquela mini cidade”.

O mercado público de Foz do Iguaçu, recém inaugurado, já mostra seus sinais de geração de negócios, renda e atratividade para turistas e moradores. Mas ele entrega muito mais do que isso. Ele celebra a preservação da história.

“Outro barrageiro me disse que as pessoas gostavam de frequentar a Cobal porque além de fazer compras, era um ponto de encontro, onde eles viam os amigos e conheciam pessoas de diferentes hábitos e sotaques, e eles achavam muito interessante isso. Podemos deduzir que a Cobal era muito mais do que uma distribuidora de alimentos: era um importante local de lazer, que ajudou a cidade a abrigar essa rica e harmoniosa diversidade cultural que temos hoje em Foz”.

Vida longa às memórias passadas e as que ainda serão vividas no Mercado Público Barrageiro.

*Este texto é uma breve resenha, carregada de admiração, de um dia desses, em que a turismóloga e pesquisadora Sylvia Simões Braga narrou inúmeros relatos dos barrageiros. A mim é sempre uma emoção ouvir histórias reais.

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Jornalista, Doutora em desenvolvimento regional e Pós doutoranda em políticas públicas e desenvolvimento.

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