De acordo com um estudo da plataforma PiniOn, especializada em tendências e comportamentos digitais, o Brasil conta com mais de 250 plataformas de delivery registradas. No entanto, em 2007, a gama de ferramentas para fazer um pedido de comida se resumia a um único canal: o telefone.
E foi em meio a inúmeras ligações malsucedidas para fazer um pedido, somada a uma dose extra de fome, que os paranaenses Steph Gomides e Igor Remigio tiveram a ideia de desenvolver um site para facilitar essa jornada.
Na época, o casal ganhava cerca de R$ 600,00 com serviços de freelancer com web designer. Batizado de aiqfome.com, o domínio reunia o cardápio online de diversos restaurantes de Maringá, no interior do Paraná.
Além de ocupar o pioneirismo do seu mercado, hoje ele é o maior aplicativo de entregas do interior do Brasil e o 2° maior do país. Adquirido pelo Grupo Magalu em 2020 para atuar como uma vertical food do conglomerado, o negócio fechou o ano com de 2024 com faturamento de mais de R$2 BI.
“Essa sequência de episódios com pedidos de delivery aconteceu em 2001. Eu me lebro que isso despertou uma inquietação dentro de mim: deveria existir uma maneira mais fácil de pedir comida sem ser pelo telefone ou navegando de site em site para checar o cardápio dos restaurantes. O projeto, contudo, ficou adormecido até 2007, quando decidi retomar essa iniciativa. Na época, eu empreendia ao lado do Igor com uma agência que fazia pequenos serviços de audiovisual para restaurantes locais. No aiqfome nunca tivemos um investidor, então desenvolvemos o negócio do zero a quatro mãos e fomos reinvestindo todo o lucro adquirido”, relembra a empresária e fundadora do aiqfome, Steph Gomides.
Além de cofundador e CEO, Igor Remigio também foi uma peça fundamental desde o início da solução digital. Com um DNA comercial herdado por seu pai, que comercializava uniformes militares, ele foi o responsável pela prospecção de porta em porta da maioria dos restaurantes de Maringá.
O paranaense lembra que o maior desafio era a falta de tecnologia para a ideia disruptiva do casal somada a descrença dos donos de restaurantes em trabalhar com pedidos pela internet.
“Em 2008, o Brasil ainda utilizava internet discada. Logo, para um restaurante estar online no aiqfome, ele precisaria desplugar o telefone da linha telefônica. Como a totalidade deles usava o disk entrega, seria quase impossível converter essa operação. Eles eram descrentes com a internet e achavam que era algo passageiro. Por isso, nos primeiros anos de aiqfome, tivemos que adaptar o conceito de negócio para um guia gastronômico por meio de mensalidades. Até 2011, trabalhamos nesse formato. Com a chegada da banda larga e a disseminação da internet, conseguimos virar a chave para os pedidos no site. Na época, contudo, não tínhamos dinheiro para investir em tecnologia, então repassávamos os pedidos na gambiarra. Quando a entrega caia na plataforma, o restaurante recebia por e-mail e organizava as saídas em diferentes abas no navegador”, conta o empresário.
Apesar do excelente desempenho de Igor no braço comercial da plataforma, o casal sabia que precisava de uma estratégia para agilizar a expansão pelo interior do Brasil.
Para solucionar essa dor, a dupla criou em 2012 um formato inovador de microfranquias, onde o investidor poderia atuar como representante comercial da plataforma na sua cidade.
“Atuar no interior do Brasil tem suas particularidades. Além de ser uma comunidade mais familiar, a regionalidade cultural é muito forte. Entendemos que, ninguém poderia ter mais força para fazer o app tracionar em pequenas cidades do que um empreendedor local”, comenta Remigio.
Com o avanço da tecnologia, o aiqfome.com ganhou um upgrade para uma versão mobile, em 2014. Já no 2° ano de aplicativo, em 2015, eles chegaram a 75 mil pedidos. A nova estratégia de expansão por franquias somada à facilidade do pedido a um clique de distância fez com que o negócio rapidamente ganhasse tração.
Em 2019, o aiqfome chegou à marca de 320 cidades em 22 estados com mais de R$ 5MM em pedidos. Vale lembrar que, entre os anos de 2013 e 2018, a empresa recebeu três ofertas de compra do seu maior concorrente. Propostas que não foram aceitas por incompatibilidade de objetivos e atuação de mercado.
“Indo na contramão do mercado, nós temos uma política de ganha-ganha onde só lucramos quando os lojistas e entregadores também lucram. Prática que não é uma realidade na maioria dos apps de entregas do Brasil, que aproveitam a sua força na região para apertar a margem dos parceiros com taxas abusivas. Outro ponto que gerou essa incompatibilidade foi a forma de operar o negócio. O aiqfome é uma bootstrapping (startup com recursos próprios). Diferente da maioria dos apps de delivery do Brasil, que queimam dinheiro para lucrar lá na frente, nós sempre demos lucro desde o 1º dia. Isso porque nunca tivemos um aporte financeiro, então tínhamos que lucrar para conseguir reinvestir no negócio. Inclusive, nos primeiros anos, chegamos a oferecer serviços complementares de web designer aos restaurantes para financiar o desenvolvimento da plataforma”, explica o cofundador e CEO do aiqfome.
Em 2020, com o avanço da pandemia e a necessidade de um regime de lockdown, o mercado de delivery de alimentos teve um crescimento de 187%. Os dados são de uma análise realizada pela Mobills. Ainda nesse 1° ano de isolamento social, quase metade dos estabelecimentos passaram a adotar canais virtuais para vendas.
Foi nessa época que surgiu uma nova proposta de aquisição na mesa de Steph e Igor: a possibilidade de ser adquirida pelo Grupo Magalu. Com a venda para a empresa de Luiza Helena Trajano, o aiqfome passou a operar a vertical food do conglomerado.
Foi também nessa época que o aplicativo passou a incluir outros serviços de entrega que vão além de comida, como farmácia, mercado e itens de pet shop – fechando o ano de 2020 com faturamento de R$ 600 MM.
Com a credibilidade e experiência da varejista brasileira e a adesão de novos mercados, a empresa viveu um salto exponencial entre os anos de 2020 e 2023, onde os pedidos tiveram um aumento de 53%.
Atualmente, o app está presente em 700 cidades do interior do Brasil, 22 estados, mais de 2 milhões de pedidos por mês, 30 mil lojas parceiras, 1,5 mil entregadores cadastrados e cerca de 300 licenciados.
Para 2025, a estratégia é seguir com um plano de expansão pelo sistema de franquias, que atualmente conta com 286 franqueados.
”A meta é chegar a mil cidades em 2 anos, e eventualmente partir para as capitais”, conta Igor.