A história de Carol Ramalho, de 37 anos, é daquelas que fazem a gente respirar fundo, repensar caminhos e, quem sabe, ouvir com mais carinho a própria intuição.
Cantora, professora de canto, empreendedora da própria arte — Carol construiu uma carreira sólida ao redor da voz, mas nada disso foi planejado. Ela mesma diz que a música sempre esteve por perto, mas demorou a se tornar um caminho viável aos seus olhos.
“Nunca entendi que a música era um caminho profissional possível e disponível pra mim. Achava que precisava ter uma carreira tradicional.”
E assim ela fez: cursou Turismo, depois Publicidade, trabalhou quase cinco anos numa agência de marketing digital e só depois — com o coração inquieto — teve coragem de deixar tudo para viver da música.
Um começo intuitivo e visceral
Em 2014, ela tomou a decisão que mudaria tudo: saiu da agência onde trabalhava e decidiu mergulhar de vez na vida artística.
“Foi uma intuição desesperadora, quase visceral. Era uma coisa que me corroía por dentro”, relembra.
Carol já era conhecida na cena musical de Foz do Iguaçu, onde cresceu e construiu o início de sua jornada, e acumulava experiência cantando em bandas, igrejas e eventos.
A coragem de seguir esse chamado foi o que abriu espaço para uma série de descobertas. Uma das mais transformadoras foi sua entrada no curso de Música da UNILA (Universidade Federal da Integração Latino-Americana).
“Entrei achando que não ia me formar e terminei entendendo que era tudo que eu mais queria”, conta.
Quando ensinar virou paixão
Durante a graduação, Carol Ramalho teve seu primeiro contato com o ensino de canto por meio de um projeto de extensão. Ali, descobriu que não só gostava de ensinar, como também tinha talento para isso. A partir dali, começou a dar aulas particulares, sempre conciliando com os shows e apresentações.
Com a pandemia, suas aulas migraram para o online — um desafio que virou oportunidade.
“Chegou um momento em que as pessoas não vinham mais até mim porque me viam no palco. Vinham por indicação dos meus alunos de canto”, diz.
Nesse período, ela passou a atuar com ainda mais consistência como professora e a entender sua atuação como artista e educadora de forma mais estratégica.
“A publicidade me ensinou a separar pessoa de produto. Quando estou no palco ou em aula, sou Carol Ramalho. Isso me ajuda muito a me colocar no mundo.”
Cantoterapia: a voz além da técnica
Hoje, além das aulas tradicionais de técnica vocal, Carol também trabalha com cantoterapia — uma abordagem mais lúdica, focada na expressão e na relação emocional com a voz.
“A voz é um processo, não uma coisa. Ela carrega nossa história, nossos bloqueios, nossos afetos. E às vezes, o maior desafio é simplesmente aceitar a própria voz. É como encontrar quem você é vocalmente”, explica.
Para Carol, as aulas são sempre permeadas por escuta ativa, empatia e leveza. E os caminhos entre técnica e cantoterapia se cruzam o tempo todo.
De Foz a Lisboa: a voz que ecoa no mundo
Carol hoje mora em Lisboa, Portugal, onde atua como cantora e professora de canto, vivendo da própria arte como profissional liberal.
“Portugal aconteceu na minha vida, eu não escolhi de início. Mas depois dos seis primeiros meses morando aqui, estar aqui virou escolha”, conta.
E com a vida europeia vieram novas possibilidades: cantar em outras línguas, dar aulas em inglês, expandir sua atuação para públicos diversos.
No palco, ela transita com liberdade: do blues dos anos 1920 com a Gringo’s Washboard Band, à homenagem à Marisa Monte no projeto “Carol Ramalho e os Marisa Monters”. Também integra o UniVersus, projeto autoral do artista José Freire.
Como freelancer, seu repertório vai de João Bosco a Jamiroquai. Mistura de Marisa Monte com Amy Winehouse — como ela mesma se define — Carol canta com técnica e sentimento, criando experiências ricas para quem a ouve.
Inspiração, intuição e reinvenção
O que move Carol Ramalho é a certeza de que estar alinhada consigo mesma é o que permite dar o próximo passo — com sanidade, criatividade e força.
“Quem estou eu agora? Essa é a pergunta que me guia. Porque é quem eu estou agora que vai saber qual é o próximo passo”, afirma.
Para quem deseja mudar de carreira, ela deixa um conselho que vale como mantra:
“Confia no que você está ouvindo dentro de você. Se certifique de que é genuíno. Depois, dá o passo que você consegue dar. Um passo de cada vez, a gente ocupa o lugar que gostaria”.
E se engana quem pensa que essa história chegou ao auge. Carol ainda sonha alto.
“Eu sei que ainda vou ocupar o lugar que quero, o nome que quero ter no meio da voz. Mas me sustentar até aqui, vivendo da minha arte, já é a minha maior conquista.”