Ontem, 29 de abril, a Fecomércio PR divulgou os dados mais recentes do mercado de trabalho no Paraná, com base no Caged. Os números apontam para um início de ano promissor: 127,8 mil vagas formais criadas em 2024, crescimento de 46,7% em relação ao ano anterior.
Mas, como acontece com toda expansão rápida, os dados revelam também nuances que merecem atenção — principalmente para quem empreende, investe ou formula políticas públicas.
Fevereiro sozinho registrou a abertura de 39,1 mil vagas, consolidando um saldo bimestral de 55.057 empregos formais — 5% a mais que o mesmo período de 2024.
Esse avanço é puxado principalmente pela indústria de transformação, que cresceu 358% no comparativo anual. O setor não apenas aqueceu, como reafirmou seu novo papel na economia paranaense: menos fabril, mais tecnológico.
A construção civil também manteve um ritmo forte, com alta superior a 50% no saldo de vagas, sinalizando dinamismo na infraestrutura e no mercado imobiliário.
Já o setor de serviços, com mais de 1,4 milhão de vínculos ativos, teve crescimento mais moderado, mas contínuo, reforçando sua importância estratégica como elo entre inovação, consumo e empreendedorismo.
Outro ponto de destaque é o perfil dos trabalhadores que estão ocupando essas novas vagas: mais da metade tem até 24 anos, sendo 34,8% entre 18 e 24, e 16,4% até 17 anos.
Essa juventude no mercado formal é uma boa notícia para o ecossistema de startups e inovação, que depende de talentos ágeis e conectados com tecnologia. Porém, é necessário olhar com lupa: são empregos qualificados? Estáveis? Com perspectiva de carreira? O que anda atraindo a Geração Z – e retendo?
A predominância de contratações com ensino médio completo (mais de 24 mil no bimestre) também indica uma valorização crescente da qualificação técnica, o que demanda políticas públicas de formação profissional rápida, adaptada às exigências do mercado.
Apesar dos bons indicadores gerais, há sinais preocupantes.
O saldo de empregos na agropecuária caiu 93,4% — um número que, por si só, indica um gargalo que pode ser climático, tecnológico ou de custo de produção. Seja qual for a causa, a desaceleração no campo afeta diretamente o interior do estado e a estrutura logística da economia.
Outro ponto de atenção é a queda no ritmo de geração de empregos em setores antes mais dinâmicos, como comércio e informação e comunicação, que registraram retrações de até 14% no início de 2025.
No caso de alojamento e alimentação, a queda é ainda mais acentuada: -70,8%, reflexo direto da mudança de hábitos pós-pandemia e do impacto do turismo sazonal.
Essas tendências mostram que há uma necessidade urgente de reinvenção, especialmente para modelos tradicionais de negócio, que agora enfrentam concorrência digital acirrada e consumidores mais exigentes.
Por outro lado, setores que apostam em tecnologia e conhecimento avançado estão crescendo acima da média.
Serviços profissionais, científicos e técnicos registraram aumento de 50% nas contratações no primeiro bimestre de 2025, sinal claro de que inovação, P&D e automação são hoje os principais vetores de geração de emprego qualificado.
Esse cenário abre portas para empreendedores que atuam em educação tecnológica, inteligência artificial, automação industrial e digitalização de serviços. Quem criar soluções que melhorem a qualificação da mão de obra ou otimizem processos produtivos encontrará terreno fértil no Paraná.
A nível nacional, projeta-se desaceleração na criação de empregos formais em 2025 — de 2,2 milhões em 2024 para algo entre 1,2 e 1,5 milhão este ano. A combinação de juros altos, crédito restrito e menor estímulo fiscal tende a frear contratações, e o Paraná não está imune a essa maré.
Mesmo com bom desempenho atual, será necessário reforçar políticas de incentivo à inovação, ao empreendedorismo e à educação profissional para manter a trajetória de crescimento e evitar desigualdades regionais ou setoriais.
Os dados da Fecomércio PR mostram um Paraná em transformação — mais industrial, mais jovem e mais tecnológico. Mas também revelam um estado em busca de equilíbrio entre setores consolidados e emergentes, entre juventude e experiência, entre crescimento e qualidade.
O potencial está posto.
Cabe agora aos agentes do ecossistema — empresas, startups, investidores e gestores públicos — aproveitarem o momento para estruturar um mercado de trabalho mais dinâmico, inclusivo e preparado para os desafios do futuro.