Desde que Donald Trump assumiu o segundo mandato na presidência dos Estados Unidos no início de 2025, o governo do país adotou uma postura mais protecionista e confrontacional no comércio internacional, especialmente com a China.
Esse cenário gerou incertezas para investidores globais, incluindo os brasileiros, que passaram a repensar a alocação de ativos no território americano.
De acordo com o cofundador e diretor de Relações com Investidores da Rubik Capital, gestora de recursos e consultoria de investimentos independente, Cassio Zeni, muitos mudaram os comportamentos e estão mais cautelosos por conta do momento atual.
“Ainda que os Estados Unidos tenham se mantido como um destino atrativo devido à segurança jurídica e liquidez de mercado, há uma espécie de reavaliação estratégica sobre direcionar capital para o local”, diz.
A OMC (Organização Mundial do Comércio) chegou a projetar que as tarifas de importação anunciadas por Trump no movimento denominado “tarifaço” poderiam reduzir as negociações globais em 1% em 2025.
Por essa razão, Zeni aponta que os investidores brasileiros pararam de procurar algumas áreas tradicionalmente vistas como estáveis, como manufatura, justamente porque estão mais expostas aos impactos das novas políticas comerciais no território americano.
“Agora, o foco está em setores como tecnologia, saúde e inovação, que, mesmo em um ambiente mais volátil, oferecem oportunidades consistentes de crescimento e menos riscos”, destaca o especialista.
No Brasil, o impacto tarifário reduzido também faz a diferença para os investidores. As taxas impostas aos brasileiros no “tarifaço” são as menores se comparadas com a de outros países, atingindo um índice de 10%, mas ainda afetam negativamente setores que dependem de peças ou matérias-primas importadas, como o automotivo.
“No geral, quem exporta é mais beneficiado, enquanto aqueles que precisam importar precisam ter o dobro da velocidade para se adaptar ao cenário e não sofrer grandes prejuízos”, pontua o executivo.
“Segmentos que vendem para fora, como o agro e a mineração, estão recebendo mais investimentos do que outros no momento, porque mais países começaram a buscar o Brasil como fornecedor para produtos como soja, carne e minério”, completa.
Apesar de ser uma opção atrativa para a alocação de recursos em meio à conduta comercial conservadora dos Estados Unidos, o Brasil ainda enfrenta diversos desafios, como a instabilidade institucional. Por isso, Zeni considera que os investidores que passaram a diversificar mais os investimentos estão no caminho certo
“Países asiáticos e europeus são focos de atenção fundamentais para os brasileiros que querem reduzir a dependência dos americanos, uma vez que não são apenas mercados inovadores, mas que também desejam se proteger das novas incertezas comerciais”, reforça.
Outra dica do especialista é a busca por investimentos em empresas e nações com boas práticas e políticas bem definidas, especialmente no âmbito ESG (sigla em inglês para “Ambiental, Social e Governança”).
“Muitos investidores já entenderam corretamente que, em um cenário de imprevisibilidade, alocar ativos em organizações que trazem propostas com poucos riscos, valores sólidos e olham para demandas globais é uma decisão muito acertada”, conclui.