Recentemente, vi circular uma opinião que classificava como “absurda” a instalação de uma unidade do Centro Pompidou — um dos mais importantes museus da França e referência mundial em arte moderna e contemporânea — na cidade de Foz do Iguaçu. O argumento? O local escolhido seria “no meio do nada, no quintal do aeroporto de Foz”.
Claro, todo jornalista — assim como qualquer cidadão — tem o direito de expressar sua opinião. Mas quando essa opinião ignora dados, contexto e realidade local, e ainda ganha repercussão nacional, ela deixa de ser apenas um ponto de vista e beira o irresponsável. Especialmente quando se trata de uma pauta que envolve cultura, desenvolvimento regional e descentralização de investimentos.
Confesso que, como iguaçuense, o tal vídeo me gerou ranço. Não por ser uma opinião contrária — se houvesse algum fundamento, eu poderia até concordar, eventualmente — mas por ser uma argumentação baseada em achismos e numa visão externa que, arrisco dizer, sequer contou com muita pesquisa. Ligou a câmera e foi.
Mas vamos trabalhar com uma resposta madura por aqui: com dados, porque, se esse é o “meio do nada”, então que “nada” bem estruturado!
O terreno em questão era, de fato, um grande nada. Servia de estacionamento para a saudosa FENARTEC, realizada no Centro de Convenções de Foz do Iguaçu. Mas isso mudou quando a cidade foi anunciada como uma das sedes dos X Games. A única no Brasil, diga-se de passagem.
Eu estava lá quando o anúncio foi feito ao vivo pela ESPN. Estava perto do prefeito – o suficiente para ver as discretas e silenciosas lágrimas de felicidade escorrerem. A multidão ao redor vibrava como gol em Copa do Mundo.
Foz disputou com outras cidades, como Lisboa, Santiago, Cancún e Rio de Janeiro. Além da Terra das Cataratas, Barcelona (Espanha) e Munique (Alemanha) foram eleitas sedes globais dos jogos.
Voltando ao que aconteceu em Foz, eu estive pessoalmente lá em 2013 (foto que ilustra esse artigo, aliás). Acompanhei de perto os quatro dias de evento, circulando entre atletas, patrocinadores, equipes de mídia e um público que superou 58 mil pessoas. Todos muito bem recebidos — por uma cidade com capacidade, estrutura e calor humano.
Ali, estão concentrados alguns dos principais atrativos de Foz do Iguaçu:
- Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu, que bateu recorde em 2024 com mais de 2,13 milhões de passageiros;
- Movie Cars Entertainment e Wonder Park Foz, que recebem milhares de visitantes todos os meses;
- A fronteira com a Argentina, importante ponto de circulação e integração regional;
- O Parque das Aves, com mais de 820 mil visitantes em 2024, consolidando-se como o segundo atrativo mais visitado da cidade;
- As Cataratas do Iguaçu, com 1,89 milhão de visitantes no último ano e uma receita de R$ 212 milhões apenas com a arrecadação do Parque Nacional.
Vale destacar: o Parque Nacional do Iguaçu foi o segundo parque nacional mais visitado do Brasil em 2024, ficando atrás apenas do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Ao longo dessa mesma rodovia, há uma rede hoteleira robusta e diversificada, com de 15 a 20 hotéis e resorts que atendem desde o público mais exigente até turistas em busca de experiências acessíveis. Não faltam parques aquáticos, centros de convenções e infraestrutura de apoio.
Chamar esse território vibrante e pulsante de “quintal do aeroporto” é ignorar a força de uma economia movida por turismo, cultura, inovação e integração regional.
Foz não apenas recebe bem: ela entende, valoriza e potencializa o que é grande. Foi assim com os X Games. Está sendo assim com a evolução do turismo de experiência. E será assim com o Pompidou.
No fundo, o incômodo com a escolha de Foz do Iguaçu diz mais sobre a dificuldade de reconhecer o valor que existe fora dos grandes centros do que sobre a viabilidade do projeto em si.
Há quem ainda enxergue o Brasil a partir de um eixo limitado, onde só existe cultura, arte ou relevância se vier de ou para algumas poucas capitais.
Pois bem: que venham mais iniciativas descentralizadas, mais investimentos em cultura fora do “óbvio”, mais museus no “interior”, mais reconhecimento à pluralidade de destinos como Foz.
Porque cultura, meu caro, não tem CEP — mas, felizmente, agora terá uma nova casa em meio às belezas naturais e à potência turística de uma das cidades mais incríveis do Brasil.
E se isso é estar “no meio do nada”, que inveja desse nada!