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Marco das Três Fronteiras: experiência de consumo, bem cultural e valor histórico

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Marco das três fronteiras Economia PR
Foto: Eloiza Dal Pozzo

Como diz meu amigo, jornalista e historiador, Jackson Lima, os marcos das 3 fronteiras são uma ciência. Prestes a completar 122 anos – está de aniversário dia 20 de julho – o Marco das 3 Fronteiras de Foz do Iguaçu conseguiu reunir diplomacia, história, cultura, identidade e, mais recentemente, turismo e desenvolvimento.

Dele, conseguimos avistar seus vizinhos, o obelisco que fica em Puerto Iguazu (Argentina) e o que está em Presidente Franco (Paraguai). Os monumentos são carregados de significados, e, do local onde foram construídos, a vista é linda. Encontro dos rios Iguaçu e Paraná. Literalmente, a foz do rio Iguaçu.

Vamos à história: o historiador Pedro Louvain registra, em um artigo:

“O obelisco do Marco das Três Fronteiras, construído em 1903, para celebrar a resolução pacífica de um longo conflito territorial com a Argentina. Essa disputa ficou conhecida como a Questão de Palmas […] Após demarcação por um grupo de cooperação Brasil-Argentina, que ergueu cerca de 310 obeliscos nos 25 km de fronteira seca entre os dois países, com distância média de 80 metros entre eles de forma que todos sejam intervisíveis, foi erguido um obelisco na margem brasileira e outro na margem argentina, no encontro do Rio Iguaçu com o Rio Paraná. Tais obeliscos não foram construídos apenas para demarcar o território, pois os rios já demarcam facilmente as fronteiras. Inaugurados simultaneamente, os obeliscos brasileiro e argentino foram erguidos também para celebrar a paz e a resolução amistosa do litígio territorial. O obelisco paraguaio viria mais tarde, em 1961, completando simbolicamente o conjunto da tríplice fronteira. O Marco das Três Fronteiras é um bem cultural que pode representar a resolução pacífica dos conflitos internacionais latino-americanos”.

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Em 9 de março de 2020, Jackson Lima, de camisa azul, estava com sua fita métrica e pediu gentilmente  a uma equipe de manutenção que fizesse a medição da base do Marco das 3 Fronteiras. Os marcos de fronteira tem características próprias e padrões de construção. Foto: Eloiza Dal Pozzo

Eu me lembro de ter visitado o Marco das 3 Fronteiras quando era criança. A vista já era bonita, mas tinha bastante mato e nos períodos mais chuvosos do ano, era meio inacessível.

Conversando com o Jackson, ele me falou que o Marco sempre foi algo meio esquecido, até que em meados de 1970, uma família foi morar lá, pois um dos integrantes veio fazer um estudo para a estatal brasileira de portos, chamada Portobras.

Jackson conta que antes deles chegarem, era terra de madeireiras, da Marinha, da União, sempre meio abandonada. Em 1997, na época da Foztur, surgiu essa primeira ideia de fazer um parque temático, e o nome seria Cabeza de Vaca. “Era uma cooperação com a  Espanha, veio o prefeito de Jerez de la frontera, cidade onde o Cabeza de Vaca nasceu. Eu acompanhei, eu era assessor da Foztur na época”. 

Passados bons anos, a partir de 2015, o Marco das 3 Fronteiras está sob concessão do Grupo Cataratas, que atua na gestão e operação de parques e atrações turísticas em algumas partes do Brasil. 

No que se refere à atividade econômica e incremento do turismo em Foz do Iguaçu, o Marco têm cumprido uma bela missão. Além disso, em maio deste ano, foi tombado como Patrimônio Cultural da cidade, importante reconhecimento para a valorização e preservação de um bem cultural e histórico, o que potencializa ainda mais seus viés turístico.

Segundo os dados de visitação do Marco das 3 Fronteiras, em 2016 foram registradas pouco mais de 120 mil pessoas. Em 2017, 298 mil e, a partir de 2018, mais de 400 mil pessoas – exceto nos anos de 2020 e 2021, por causa da pandemia. No ano passado, foram mais de 457 mil visitantes.

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Segundo artigo de Pedro Louvain, no tratado de 1898, assinado por Dionísio Cerqueira (BRA) e o chanceler Estanislao Zeballos (ARG), uma comissão mista dos dois países decidiu estabelecer marcos principais para determinar pontos geográficos mais relevantes e marcos secundários, colocados ao longo da fronteira seca. Para executar essa tarefa, foi necessário mobilizar militares, cientistas, engenheiros, pedreiros e demais ajudantes. Apenas para ter-se uma noção da importância dessa expedição demarcatória, o próprio Dionísio Cerqueira em pessoa foi escalado para comandá-la”. Foto: Eloiza Dal Pozzo

Atualmente, o Marco das 3 Fronteiras tem 85 funcionários, mas, com equipe artística e outros terceirizados, chega a 120 colaboradores.

“Além do impacto direto na experiência dos visitantes – que agora têm acesso a um local seguro, estruturado e com uma vista privilegiada do encontro dos rios Iguaçu e Paraná – a concessão também gerou efeitos positivos para a economia local. O entorno do Marco passou a atrair novos empreendimentos e outros atrativos turísticos, contribuindo para a geração de emprego de uma região da cidade. A parceria com a Prefeitura de Foz do Iguaçu demonstra, na prática, como a gestão profissional e eficiente do setor privado, aliada à supervisão e diretrizes do poder público, pode transformar patrimônios públicos em polos de desenvolvimento sustentável”, destacou Felipe Giublin, Diretor de Engenharia do Grupo Cataratas.

Giublin também comentou sobre os novos investimentos previstos.

“O Grupo Cataratas tem como prioridade para o Marco das Três Fronteiras, ainda em 2025, o início das obras de revitalização e requalificação do Espaço das Américas. O projeto que está em fase final de licenciamento ambiental prevê a recuperação completa da atual estrutura de madeira localizada próxima ao rio, que será restaurada e integrada de forma definitiva ao circuito do Marco. Com um investimento estimado em mais de R$ 30 milhões, o projeto inclui a implantação de um novo restaurante com vista panorâmica para o encontro dos rios Paraná e Iguaçu, além da construção de um caminho acessível que permitirá a ligação direta e segura entre o Marco e o Espaço das Américas. Essa iniciativa reforça o compromisso do Grupo Cataratas com a melhoria da infraestrutura turística da cidade de Foz do Iguaçu, a valorização da paisagem natural e histórica do local”.

Agora, me atenho ao trecho de uma das publicações de Jackson Lima, realizada em seu blog, em 2010:

“O Marco é lugar de projetos. Nos anos 90 outro projeto foi anunciado. Desta vez era um projeto que teria a participação da Espanha e se chamaria Memorial Cabeza de Vaca – homenagem ao espanhol reconhecido como sendo o primeiro não-índio a ver as Cataratas do Iguaçu. E daí veio o projeto de se construir uma torre que terá no topo um restaurante giratório. O projeto foi licitado, vencido, iniciado, paralizado, se enrolado. Mas daí, há outros, segunda ponte com o Paraguai, teleférico trinacional e outros. Aí está um lugar que deve ser visto com mais carinho. É um lugar único! Não posso deixar de mencionar o Espaço das Américas construído pelo Governo do Estado que está lá, mas ainda não pôde mostrar todo o seu potencial!”. 

15 anos antes, nosso ilustre Jackson já passava “a fita” sobre o Marco das 3 Fronteiras. Alguns projetos foram realizados, outros, ainda não.

Aos poucos, os olhos se voltam não ‘apenas’ para as nossas paisagens e para a infraestrutura, mas para a nossa riqueza histórica. Ainda temos muito potencial, espalhado por toda a região trinacional.

O Marco das 3 Fronteiras é a materialização do que representou a diplomacia entre os países e é uma oportunidade para mergulhar mais fundo nas diversas histórias do nosso território. 

Para quem quiser ler mais, alguns links que trazem muita informação:

Marco das Três Fronteiras, história entrelaçada com a de Foz do Iguaçu

https://www.h2foz.com.br/turismo/passeios/marco-tres-fronteiras-historia-entrelacada-foz-do-iguacu/

Marco das Três Fronteiras: uma viagem de pelo menos 400 anos pela história

https://www.h2foz.com.br/geral/marco-das-tres-fronteiras-uma-viagem-de-pelo-menos-400-anos-pela-historia/

Patrimônio de Foz: conheça os bens na lista do tombamento

https://www.h2foz.com.br/especial/patrimonio-foz-ensaio-fotografico/

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Jornalista, Doutora em desenvolvimento regional e Pós doutoranda em políticas públicas e desenvolvimento.

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