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Carreiras: Natália Krüger, das artes em Guaratuba ao Louvre

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Natalia Kruger Economiapr
Foto: Divulgação

Desde a infância, Natália Krüger, de Guaratuba, no litoral do Paraná, sentia que as cores das canetinhas e dos gizes de cera eram mais do que simples materiais para rabiscos. A arte se tornou seu refúgio e expressão mais pura, algo que, aos cinco anos, já intuía. O amor pelo ato de criar se intensificou quando, aos 12 ou 13 anos, recebeu de seu pai um kit de tintas a óleo e uma tela, iniciando uma jornada autodidata repleta de desafios e descobertas.

Apesar das dificuldades, como a necessidade de abandonar o uso de solventes devido a problemas de saúde, Natália abraçou as imperfeições naturais de suas pinceladas, permitindo que sua arte refletisse sua autenticidade. Para ela, ser artista é mais do que pintar; é expressar emoções profundas, dar voz a histórias não contadas e encontrar luz onde há sombra. Essa visão foi fortalecida ao compartilhar suas obras, que eternizam a essência das pessoas em suas telas.

O reconhecimento de Natália Krüger veio de forma surpreendente, culminando com a venda de suas obras e a oportunidade de expor no Carrousel du Louvre, em Paris. Refletindo sobre as críticas e desafios enfrentados, ela destaca que o amor inabalável pela arte foi o que a manteve firme em sua jornada, transformando o que antes parecia um sonho distante em uma realidade conquistada.

Veja mais da carreira de Natália e o que ainda podemos esperar desta artista.

O que a motivou a largar tudo e se dedicar integralmente à arte durante a pandemia de COVID-19?

Natália: A pandemia foi um divisor de águas para todo mundo, aquele foi um período de muito estresse e ansiedade, mas eu consegui transformar isso em algo melhor, já que uma das coisas que eu mais gostava de fazer só precisava de tempo livre naquele momento. Eu trabalhava no financeiro de uma loja de utilidades, com a pandemia todos os lugares ficaram fechados e eu fiquei em casa e consegui terminar a marinha [um quadro de óleo sobre tela com temas marinhos] que até hoje me motiva só de olhar para ela, bastou eu colocar nas redes sociais e começar a divulgar em grupos que o quadro teve uma repercussão enorme e começaram a vir as encomendas, então bem naquela fase que as lojas estavam abrindo de volta eu fiquei em horário reduzido o que me fez receber bem menos e perceber que os quadros dariam mais. Logo minha chefe queria que eu voltasse a trabalhar em tempo integral, eu gostava de trabalhar lá e gostava da forma como as coisas tinham desenrolado, eu trabalhava poucas horas e ainda fazia meus quadros, mas ela pediu que eu escolhesse trabalhar com o meu negócio ou trabalhar na loja em tempo integral. Hoje eu agradeço por isso. O valor que recebi da rescisão eu investi em 10 metros de tela, pinus e montava minhas próprias telas. Acho que houve também uma força maior de que se eu estivesse colocando energia em outro lugar, eu não faria 100% nem uma coisa, nem outra, já que pra ter uma carreira hoje com a rede social demanda muito tempo e disciplina.

Como sua formação em empreendedorismo e design de moda influenciou seu trabalho como artista plástica?

Natália: Acredito que tudo colaborou para o caminho certo, quando saí do colégio já fui direto para UFPR cursar gestão e empreendedorismo. Foi aí que aprendi que errando é que se aprende muito mais. Nesse período eu já vendia mini telas a troco de banana, vendia roupas também que eu mesma costurava, o que fez eu cursar design de moda depois. Costurar e criar roupa também é algo que gosto, mas depois percebi que não gostava de costurar para os outros. Minha prioridade sempre foi criar, não fazer ajustes e costurar outras peças que não eram minhas, por isso decidi ficar só com as telas. Os cursos me ensinaram muito na criação de produto, marketing, e o mais importante, que é o financeiro. O artista também precisa pensar na parte de gestão financeira.

Como foi receber o convite para expor suas obras no Museu do Louvre e o que essa experiência significou para você?

Natália: Eu precisei de muita força e coragem, porque foi um pouco de loucura na época. Eu ainda não sabia por quanto tempo eu faria quadros, e se conseguiria pagar as exposições que eu estava fazendo, porque na teoria teria o auxílio de uma curadora, que faria minha exposição em Paris, mas tivemos intercorrências e nesse período eu lembro de pintar um quadro chorando porque a curadoria tinha estragado um quadro meu por eu ter quebrado o contrato com eles. Lembro de dizer para mim mesma que eu ainda iria conseguir fazer essa exposição, mesmo sozinha. Rezei muito e lembro de falar para minha mãe que eu não ia desistir disso, no dia seguinte a Lisandra Miguel do Vivemos Arte (uma empresa especializada no mercado nacional e internacional de artes) apareceu pra mim e fez entrevista comigo para fazer a seleção. Eles foram maravilhosos na organização, foi como se Deus tivesse me livrado de algo que seria ruim e tivesse colocado eles para fazer um bom trabalho. Mas o desafio não parou por aí, por que eu fiz muitos projetos com a prefeitura para divulgar minha arte e conseguir vender mais, no meio do percurso muitas pessoas me ajudaram, fui em escolas, fiz rifa, até fiquei com a ideia de fazer um projeto remunerado nas escolas, mas não deu certo ainda. Mas falando sobre a exposição: a experiência de pousar com o avião em um lugar tão lindo como Paris, sabendo da história que o lugar carrega juntamente com a minha conquista era inacreditável, e melhor ainda foi que a minha família estivesse junto pois eles nunca pensaram em viajar pra fora do país. E com certeza é algo que marca minha carreira porque o orgulho das pessoas que me conhecem e gostam do meu trabalho é que o mundo inteiro possa ter a mesma sensação que a minha arte traz pra elas, representar o nosso litoral paranaense em outro país nunca foi tão bom.

Como é a vida de um artista plástico independente no Brasil? Quais são os principais desafios e recompensas dessa carreira?

Natália: Acredito que você ser independente quer dizer que você tem que estar em constante movimento, nunca se acomodando, sempre criando coisas novas. Por isso penso que a arte é muito libertadora, ela fez eu tirar algumas travas que eu tinha de me expor, sempre fui muito tímida, mas a arte me encorajou a fazer as coisas mesmo que estivesse errando para aprender. O desafio é que a arte é um antro onde não há limites, e cada vez mais recebemos críticas de todos os lugares, às vezes algumas pessoas não consideram isso nem um trabalho de fato ou acham fácil demais, mas a verdade é que nenhum trabalho é fácil, chega um momento que a gente se esgota e tem que se reconstruir novamente. Assim é a vida de um artista, altos e baixos, lidar com a instabilidade é um desafio que eu já tento manter guardadinho. Por outro lado, as recompensas de fazer algo que a gente gosta não tem preço, e a arte depende muito de conexão, de ser acalento para quem precisa também, certo dia li em um livro que se você está se sentindo mal, faça algo por alguém. Isso mudou muito meu pensamento pois, nós não nos perpetuamos fazendo somente por nós mesmos, nós temos que ver o efeito e causa no nosso propósito para assim estar bem com nós mesmos. Então quando eu vi o efeito que a minha arte causava nas pessoas, eu dei o meu melhor cada vez mais, eu quero que as outras pessoas sintam os melhores sentimentos, por isso uso a frase que “é sobre atingir sentimentos”, no final tudo aquilo que fazemos é sobre se sentir amado, confortado. O melhor retorno que eu posso ter é que meus quadros dão uma sensação boa, que traz paz.

Que outras inovações você acredita que poderiam ajudar a tornar a arte mais acessível e popular no país?

Natália: Eu acredito que a arte já se torna muito popular através da internet, o “elitizar” a arte tem se tornado escasso desde que a gente conseguiu atingir mais pessoas pelas redes sociais, mesmo assim o custo é bem alto pra fazer uma obra de arte e além de tudo a trajetória de vida de um artista vai agregando cada vez mais valor. Com o tempo nós percebemos que é muito valoroso o tempo que passamos pintando, criando e carregando toda a nossa história de vida que não vale a pena gastar tanto tempo fazendo uma obra por pouco. Claro que cada artista sabe o seu valor, mas precisamos de qualidade de vida. Com isso eu tive a ideia de fazer as cópias autenticadas, chamadas de giclée ou fine prints, que são cópias limitadas de alta qualidade em canva, totalmente fiel a todos os detalhes da obra original porém com detalhes pintados com tinta a mais nessa obra, para que seja um cópia especial para cada cliente. A obra o guará foi uma obra que foi rifada quando estava para Paris, mas que bastante gente comprou e gostaria de ter um guará, por isso escolhi ela e tenho vendido as cópias do Guará.

Quais são seus planos futuros como artista? Há novas exposições ou projetos em vista?

Natália: Meus planos futuros são abrir um ateliê galeria e fazer novas exposições. Tenho ideias de ir para o lado da escultura e cerâmica, entre outros projetos que estou me adaptando ainda.

Qual é o impacto que você espera deixar com suas obras e qual legado deseja construir como artista

Natália: Penso que eu inspirei muitas pessoas, mesmo que eu seja uma gota de água no oceano, talvez o meu esforço para sair da zona de conforto e fazer algo que eu tinha medo traga um caminho diferente para mais pessoas e artistas no futuro. Nunca conseguimos definir exatamente o impacto, mas acredito que o meu maior legado é o amor. Tudo é sobre amar e se sentir amado. E a arte é uma ponte para que isso aconteça, li uma vez que o mundo é comandado por artistas, mas na verdade nós só eternizamos aquilo que faz todo mundo querer viver, as conexões, as inspirações. Mesmo aqueles que não se denominam artistas são eternos criadores do momento para que possam viver exatamente isso, laços de amor com a família, com relacionamento, com a profissão. O valor das coisas somos nós quem damos, e a minha maior missão é manter todos esses sentimentos vivos, tento não pensar tanto nisso e só seguir com meu propósito, mas estamos em uma sociedade um pouco mais amarga, onde nos protegemos de amar por acharmos que não podemos sofrer. As vezes faço referência ao mar sobre isso que bate com as minhas marinhas, sempre digo que viver em poças de água não é a mesma coisa que mergulhar no mar, nunca sentiremos nada se ficarmos no raso, se não formos corajosos o suficiente para sofrer. Acho que a arte me libertou de tantas formas e há tantas reflexões por trás que me fizeram viver coisas maravilhosas que eu quero que aconteça com outras pessoas. Além de tudo, meu legado não acontece através de somente pinceladas, acontece através da história e do tempo, eu fiz uma coleção sobre a história local que se chama “Veja apesar de…” juntei fotos antigas com histórias locais que remetem a persistência de permanecer mesmo com alguns empecilhos da vida. Minha família e meus bisavós vieram da Alemanha na segunda guerra, mesmo com todos os empecilhos, viram aqui em Guaratuba uma forma de reconstruir a vida. Sinto uma verdadeira nostalgia quando se trata de fotos antigas, o momento da foto era muito precioso e eu quis passar isso para a tela da mesma forma, toda a alegria, a espontaneidade criada em cada circunstância, eu queria que todas as pessoas lembrassem que o aqui e agora acontece por que outras pessoas se esforçaram para isso. Isso também é comprometer o amor. Apesar de tudo isso, todas as encomendas com histórias eternizadas na minha trajetória até aqui, todas as minhas marinhas e quadros dedicados especialmente para o presente tentando trazer reflexões que mudem o futuro de alguém, eu penso que não há nada mais belo do que ser lembrada pelo sentimento mais genuíno que é amor.

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Jornalista, Community Manager e Editora-chefe do Economia PR

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