A pesquisadora Dienifer Fernanda Lopes Horsth, do Programa de Pós-Graduação em Química Aplicada (PPGQA), da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), desenvolveu um processo com resíduo de alumínio que gerou um produto base para tratamento de água e pigmento para as indústrias de tinta e plástico. O estudo é resultado de 10 anos de pesquisas científicas desenvolvidas na Unicentro e na Universidade de Mons (U’MONS), na Bélgica.
Com formação superior em Química pela Unicentro, Dienifer iniciou a pesquisa no curso de graduação como bolsista da Fundação Araucária e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico Tecnológico (CNPq) pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica (PIBIC), com um estudo sobre o aproveitamento de alumínio, que resultou no trabalho de conclusão de curso. O aprofundamento da pesquisa e o desenvolvimento de materiais e método para diferentes usos de íons de alumínio na indústria foi aprimorado pela pesquisadora quando cursou o mestrado e na sequência, o doutorado, também na Unicentro,
“A minha pesquisa se baseia na reciclagem de alumínio metálico que são descartados. Por meio do upcycling do alumínio consegui desenvolver o material para outras indústrias, de pigmentos e também de tratamento de água”. O upcycling é uma forma de reutilizar algo que seria descartado para desenvolver um novo produto, material ou forma de uso.
A estudante explica que utiliza uma solução com alumínio recuperado após a reciclagem dos descartes metálicos para geração de um novo material que será a base para o restante do processo. Quando esse material é utilizado puro, tem a propriedade de eliminar bactérias promovendo a descontaminação da água. Em outro processo, quando misturado a elementos químicos capazes de atribuir cor, o resultado é a obtenção de pigmentos funcionais coloridos variados na forma de pó que foram aplicados para fins arquitetônicos e em bioplástico PLA (material biodegradável que pode ser aplicado em embalagens variadas.)
O processo de reciclagem química do resíduo de alumínio e a aplicação da solução resultante da técnica são inovadores e auxiliam na redução do uso de recursos naturais e economia de energia. O método desenvolvido por Dienifer contempla os objetivos 6, 9, 12 e 17 entre todos os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, das Organizações das Nações Unidas (ONU).
A reutilização do alumínio (ODS12) possibilita que seja utilizada menos energia do que na extração de recursos naturais e produção dos materiais para a indústria. Dessa forma, a inovação (ODS9) é contemplada porque o metal é muito utilizado nas indústrias automotiva, de transporte, energia elétrica, bens de consumo e construção. O uso do produto base para o tratamento de água, está ligado ao ODS6 e a troca de conhecimentos viabilizada por meio de parceria entre a Unicentro e a Universidade de Mons integra o ODS17.
A tinta resultante da metodologia de pesquisa apresenta vantagens em relação aos materiais comumente utilizados na construção civil. A pigmentação com íons de alumínio tem propriedades que apresentam mais proteção para a superfície na qual foi utilizada, em caso de incêndio. Assim, qualquer material que tenha recebido a pintura com a tinta composta com íons de alumínio irá demorar mais para queimar.
O professor do curso de Química da Unicentro, Fauze Jacó Anaissi, orienta a pesquisadora desde a graduação em 2014.
“A Dienifer começou a trabalhar comigo há 10 anos com pesquisa em laboratório. Durante a graduação, na iniciação científica, eu apresentei o tema transformação de metais em pigmentos e foi quando ela começou a pesquisar o alumínio”, explica o professor e complementa “são 10 anos de dedicação e desenvolvimento de sua expertise”.
O orientador ressalta que durante o curso de graduação, a estudante se esforçava para conseguir o material em quantidade maior para acelerar a pesquisa.
“Eu levava pedaços de alumínio para ela começar a fazer a pesquisa e aprimorar a metodologia. Para ser mais rápido o desenvolvimento, ela começou a juntar lacres de latas de bebidas como fonte de alumínio, isso porque o lacre tem um teor de alumínio acima de 95%, sendo uma fonte excelente para estudos iniciais de transformação do alumínio em pigmentos”.
Na produção acadêmica a estudante publicou seis artigos científicos como autora principal, além de participar como co-autora em outros 12 textos.
Dois registros de patentes tendo Dienifer como autora foram submetidos ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI). Um deles foi confirmado e o outro segue no processo de avaliação. Os dois registros são relacionados às pesquisas desenvolvidas pela estudante na Unicentro. Em 2016 a química conquistou o 3o Lugar no Prêmio da Associação Brasileira de Fabricantes de Tinta (ABRAFATI) de Ciência em Tintas, com o trabalho “Resíduos metálicos (Alumínio e Ferro) transformados em pigmentos inorgânicos sintéticos: uma ação sustentável”.
A Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) e as universidades estaduais mantém acordos internacionais com instituições de pesquisa e ensino superior em países dos cinco continentes. A Unicentro tem 20 alunos estudando fora do país, 11 estão cursando parte da graduação e nove pós-graduandos, que cursam mestrado ou doutorado, em universidades do exterior. Em 2012, foi celebrado um acordo entre a Unicentro e a Université de Mons (U’MONS), na Bélgica, que, entre outras áreas, é referência em Química Aplicada.
O secretário da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Aldo Nelson Bona, comemora a parceria firmada em 2012, quando atuava como Reitor na Unicentro.
“Eu fico muito feliz em ver este resultado, eu estava na Unicentro quando construímos essa parceria com a Universidade de U’MONS. A pesquisa desta estudante mostra que estamos desenvolvendo pesquisas em condições de cooperação com horizontalidade, com pesquisas de ponta no mundo todo”.
“Sem dúvida é uma conquista importante não só para pesquisadora que realizou sua formação em escola pública, mas é uma conquista do sistema porque mostra a maturidade na qual nos encontramos e a condição de estabelecer colaboração científica com instituições de referência”, explica Bona.
Quando identificou a oportunidade, Dienifer elaborou a proposta necessária e submeteu para o programa de interesse e, além de ser aceita no programa de doutorado da Faculdade de Ciências U’Mons, recebeu uma bolsa-auxílio da própria universidade para custear os estudos.
“É uma realidade muito diferente porque eu vim de escola pública, fiz uma graduação numa universidade pública. Foi graças a esse tipo de oportunidade que despertou a vontade de sair do país. Antes eu pensava muito na questão financeira que eu não teria condições, não me ocorria pensar ou desejar estudar fora do país”, complementa.
O Sistema Estadual de Ensino Superior do Paraná é composto por sete universidades estaduais que ofertam cursos de graduação, mestrado e doutorado sem custo para o estudante. Os mais de 80 mil alunos desta rede de ensino têm a possibilidade de receber diferentes auxílios para desenvolver pesquisa, para a permanência no ensino superior ou para a capacitação durante o período que frequentam as instituições de ensino superior.
Uma das instituições que mais oferece bolsas de pesquisa em todos os níveis, desde a iniciação científica à pós-graduação, é a Fundação Araucária, que tem trabalhado para avançar no número de bolsas concedidas. Em 2023 alcançou um recorde histórico com o total de 5.106 bolsas e agora trabalha em um edital para melhorar ainda mais o atendimento aos alunos da pós-graduação do Paraná. Somente em 2023, a Fundação Araucária investiu cerca de R$ 36,5 milhões em bolsas de pesquisa. Deste total, R$ 9.283.600,00 para bolsistas da pós-graduação.
Além do fomento estadual, há incentivos oferecidos pelo governo Federal, como bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação (MEC) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico Tecnológico (CNPq), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.