O varejo vem passando por transformações profundas há algum tempo. Comprar já não significa ir até a loja física. A evolução do e-commerce permitiu que o consumidor compre sem sair de casa ou, sequer, do sofá – afinal, aplicativos e versões mobile tornam a compra pelo celular tão confortável e prática quanto qualquer computador. Segundo o estudo Online Retail Report, da FTI, as vendas online representam 9% do varejo brasileiro.
Já no Paraná, só no ano passado, as vendas online tiveram uma movimentação histórica. De acordo com a Nuvemshop, as pequenas e médias empresas paranaenses se destacaram nesse cenário, faturando R$163 milhões, valor 26% maior que o atingido em 2022.
A tecnologia é o grande fator decisivo para esse crescimento, conforme explica Juliano Martins, consultor e palestrante em marketing e vendas e professor da Fundação Dom Cabral:
“Os consumidores estão mais digitalizados e consumindo em e-commerce, aplicativos de supermercados e serviços de entrega, que oferecem conveniência e economia de tempo. Esse movimento foi impulsionado pela pandemia, mas se consolidou como um novo hábito de consumo. Também não podemos esquecer da omnicanalidade, que permite transitar entre ambientes físico e digital com a mesma fala e aparência. Além disso, a digitalização dos pagamentos com métodos como pagamento por aproximação, carteiras digitais e o Pix trouxeram mais agilidade e praticidade, eliminando a necessidade de lidar com dinheiro físico ou cartões”.
Mesmo em compras físicas, a tecnologia se tornou um recurso indispensável. No acumulado de janeiro a maio deste ano, o comércio do estado apresentou um crescimento de 5,02%, com destaque para lojas de departamentos, supermercados e concessionárias de veículos, áreas que têm implementado tecnologias e estratégias modernas para melhorar a experiência de compra.
“O varejo paranaense vive um momento de transformação positiva, impulsionado pelo espírito inovador e pela rápida adaptação dos nossos empresários às novas demandas do consumidor. Essa alta reflete não apenas o fortalecimento do setor, mas também o papel central que a inovação desempenha nesse cenário”, comemora o vice-governador do estado e presidente da Fecomércio/PR, Darci Piana.
Ele destaca, ainda, que existe um trabalho conjunto para apoiar essa transformação. Um exemplo é o Centro de Inovação do Comércio em Londrina, desenvolvido em parceria com a Confederação Nacional do Comércio, a CNC, e o Sincoval, que capacita empreendedores e desenvolve soluções práticas para um varejo mais competitivo e conectado com o futuro.
“A Fecomércio PR acredita que essa iniciativa é fundamental para consolidar o Paraná como referência em inovação no comércio, contribuindo para a geração de empregos e o desenvolvimento econômico de nossa região”, ressalta.
A transformação tecnológica no varejo abriu portas para startups paranaenses. Por meio de soluções inovadoras, essas empresas vêm aprimorando diferentes aspectos do setor, desde facilitações de pagamento até melhorias em relacionamento com o cliente.
O papel das startups na inovação do varejo no Paraná
Segundo o Mapeamento das Startups Paranaenses do Sebrae, das 1.758 startups no estado, 3,99% são direcionadas ao varejo, as chamadas RetailTechs, com maior concentração em Curitiba e nas regiões Norte e Noroeste.
Um exemplo é o unicórnio paranaense Olist, da capital. Fundada em 2015, a startup é um ecossistema completo para e-commerce, composto pelas empresas Olist Store, Olist Tiny e Olist Vnda. Com uma galeria de cases de sucesso, a curitibana mostra os resultados que a tecnologia oferece aos clientes: agilidade, economia e crescimento acelerado.
Outro caso é a Leanwork Group, de Londrina, que oferece serviços e projetos sob demanda, além de produtos SaaS (Software as a Service) dentro do ecossistema de e-commerce (plataforma, app commerce, arquitetura e integrações escaláveis entre outros) que apoiam varejistas no crescimento de suas operações digitais de maneira mais escaláveis e seguras.
Recentemente, a empresa lançou a plataforma Lean App, que permite que marcas entregarem uma verdadeira experiência de compra mobile para seus clientes, transformando o e-commerce (web/responsivo) em mais um canal estratégico, focado em trazer maior conveniência, fidelização e escala de vendas do operação digital.
“O varejista precisa se adaptar cada vez mais rápido às mudanças do mercado, especialmente às mudanças de comportamento dos consumidores, que hoje têm acesso abundante a informações em poucos cliques. Comparam preços, encontram uma ampla variedade de produtos similares e descobrem outros fornecedores que oferecem o mesmo produto a preços mais acessíveis, o que os torna cada vez mais exigentes e coloca-os no centro da tomada de decisão. Diante disso, além de se preocuparem com a qualidade e preço dos produtos/serviços, os varejistas percebem a necessidade de criar diferenciais na jornada de compra, oferecendo novas experiências de atendimento, suporte e até mesmo diversificando os canais de venda para se posicionarem onde a atenção dos seus clientes está”, pontua Leonardo Sanches, CEO e cofundador da startup.
Dentre as marcas atendidas, estão grandes players do varejo nacional, como Centauro, Ultrafarma, Riachuelo, Walmart, dentre outras. No caso das Lojas REDE, o faturamento aumentou 237% com o uso do aplicativo da Leanwork.
“A tecnologia deixou de ser o fim para ser o meio, onde se torna quase que impossível se pensar em algum negócio ou empreendimento que não possa ser escalado ou apoiado por alguma tecnologia. Assim, é inevitável que o futuro do varejo, tanto no Paraná quanto mundialmente, esteja totalmente conectado à tecnologia, com cada segmento se apoiando nela conforme suas necessidades”, avalia.
Já no Noroeste do estado, o Grupo IRRAH, de Cianorte, tem dois tipos de negócios distintos. O primeiro foca em gestão e vendas, com os produtos Kigi e E-vendi, que oferecem ao lojista uma visão completa da operação e impulsionam as vendas online. O segundo é voltado ao mercado conversacional, com as soluções Dispara Aí, o Plug Chat e o GPT Maker, desenvolvidas para otimizar e simplificar o atendimento ao cliente, melhorando a experiência e a eficiência na comunicação.
“Os varejistas paranaenses buscam cada vez mais tecnologias que integrem plataformas e facilitem a sua operação, integrando as vendas online e offline com um atendimento ágil por canais conversacionais. Nossas ferramentas de atendimento melhoram a comunicação e fidelizam clientes com agilidade e personalização. Nosso objetivo é levar inovação e eficiência ao varejo, antecipando as demandas do setor”, explica Cesar Baleco, CEO do Grupo.
Para Adriane Menotti, CEO e fundadora da Zibá Semijoias, um dos clientes do Grupo, a parceria com a startup foi fundamental para a transformação digital dos negócios:
“No desafio de abrir um novo negócio, foi essencial o suporte para conseguir partir para o digital com o uso da ferramenta Kigi, principalmente pelo fato de ser fácil e intuitiva, nos ajudando no crescimento da marca”.
O ecossistema paranaense e as oportunidades para desenvolvimento
Na visão do Coordenador Estadual de Inovação do Sebrae, Alan Alex Debus, ainda há muito a ser explorado no âmbito tecnológico:
“Temos a questão da tecnologia RFID, outras de reconhecimento facial, controle de tráfego, então, há muita oportunidade ainda para as startups desenvolverem soluções. Hoje, obter essa tecnologia não é mais tão caro. Isso permite que empreendedores e varejistas explorem ao máximo os meios digitais, como vendas online e redes sociais, além de utilizar tecnologia no próprio espaço físico. Ferramentas que monitoram o comportamento do consumidor, como o fluxo de movimento dentro da loja e reações às vitrines, tornam-se cada vez mais acessíveis. Existem startups, por exemplo, que oferecem soluções para entender se o cliente realmente se interessa pelo produto exposto, entre outras possibilidade”.
O Paraná foi eleito o terceiro estado mais inovador do país, atrás apenas de São Paulo e Santa Catarina, na primeira edição do Índice Brasil de Inovação e Desenvolvimento (IBID), divulgada em agosto.
Para este ano, serão aplicados R$ 708,9 milhões em projetos de ciência, tecnologia e ensino superior no Estado, que envolvem financiamentos a iniciativas inovadoras, bolsas de estudo, editais de fomento e expansão do sistema de universidades públicas. Além disso, cerca de R$ 32,5 milhões serão repassados para 147 hubs de inovação instalados no estado.
“O Paraná nunca ficou pra trás no que diz respeito à inovação, seja no varejo ou em outros setores. O cenário de inovação permanece em constante crescimento, sendo destaque em muitos cases nacionais ou até mesmo internacionais, atraindo, desta forma, interesse de compra e/ou fusão de empresas mundiais com startups paranaenses e a tendência é que esse movimento aumente ainda mais, pelo ambiente colaborativo e polos de tecnologia que possuíamos no nosso estado”, destaca Leonardo Sanches.
A forte rede de iniciativas públicas e privadas, aliada ao espírito empreendedor e ao desejo de transformar setores tradicionais como o varejo, vem fortalecendo o ecossistema paranaense como um ambiente promissor para o desenvolvimento de negócios inovadores, com potencial para transformar a economia e a realidade do estado.
Além disso, o estado conta com hubs de inovação em 42 municípios e 15 sistemas regionais com metodologia Sebrae para fomentar o ecossistema.
“O cenário de inovação no varejo do Paraná está em expansão, com um crescente interesse em tecnologias digitais que melhoram a eficiência e a experiência do cliente. A disposição para inovar é positiva, o que promete um futuro mais competitivo e sustentável para o varejo paranaense”, conclui Cesar.