Ontem, li um artigo provocador do empreendedor Saulo Da Rós, publicado na Entrepreneur.com, com o título: “Stop Trying to Be the Next Unicorn — and Start Building a Real, Sustainable Business” (em tradução livre: Pare de tentar ser o próximo unicórnio e comece a construir um negócio real e sustentável).
O texto propõe uma reflexão essencial (e talvez incômoda para alguns): será que estamos mais preocupados em parecer inovadores do que em, de fato, construir empresas sólidas?
O alerta de Saulo não é contra a ambição — pelo contrário. Ele defende que o caminho para um negócio realmente bem-sucedido não começa com uma ideia genial ou um pitch brilhante, mas com uma operação simples, eficiente e voltada para resolver problemas reais.
E isso faz todo o sentido, especialmente quando olhamos para o cenário das startups no Brasil — e, mais especificamente, no Paraná.
Por aqui, temos três unicórnios que são motivo de orgulho: Ebanx, MadeiraMadeira e Olist. Mas para cada um desses gigantes, existem centenas (ou milhares) de negócios que estão ainda nos primeiros passos — e que não precisam, necessariamente, mirar no bilhão para ter sucesso.
Um estudo recente do Sebrae/PR traz dados valiosos: das startups mapeadas no estado, 1.548 estão formalizadas, sendo a maioria (58%) microempresas. O estudo mostra ainda que 51% dessas startups estão no estágio de validação — ou seja, testando hipóteses, ajustando soluções, buscando os primeiros clientes. Outras 28% estão na fase de tração, quando já operam com mais estabilidade e começam a escalar.
Esse retrato diz muito.
Mostra que o ecossistema paranaense é jovem, promissor, mas ainda em construção. E que, talvez, o melhor que se pode fazer agora não seja buscar um valuation bilionário, mas sim focar no básico bem feito: produto, operação, gestão, cultura — e, claro, comunicação.
Sim, comunicação. Porque muitas vezes, enquanto se fala em rodadas de investimento, MVPs e escalabilidade, aspectos essenciais como posicionamento, discurso claro e conexão com o cliente são deixados em segundo plano. E isso pode custar caro.
Como costumo dizer, startups (e negócios em geral) não precisam apenas aparecer — precisam ser compreendidas. E isso exige consistência e estratégia em todos os aspectos da construção de marca e negócio.
No fim das contas, os unicórnios inspiram — mas são os cavalos que vencem a maratona. Aqueles que trabalham todos os dias, com os pés no chão, construindo negócios sustentáveis e que fazem sentido para o mercado. Talvez não conquistem manchetes internacionais, mas pagam as contas, empregam, crescem e permanecem.
E isso, por si só, já é um baita sucesso.
P.S: Curiosamente, nesta semana, no dia 09 de abril, foi “comemorado” o Dia do Unicórnio, símbolo nacional da Escócia. Só pra constar.