O Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, atravessa um ano histórico. Em 2025, o atrativo registrou recordes sucessivos de visitação, como os 70,4 mil visitantes em agosto, número que superou o antigo marco de 2019 e representou crescimento de 18,6% em relação ao ano passado.
Esses resultados reforçam o papel do Parque como um dos principais motores do turismo regional, com impacto direto na economia local por meio da geração de empregos (hoje mais de 270 postos diretos) e da movimentação de toda a cadeia produtiva ligada ao setor.
Mais do que atrativo turístico, o Parque das Aves também atua como centro de conservação, destinando recursos para programas de proteção da Mata Atlântica e contribuindo para colocar o Brasil em destaque no cenário internacional da preservação de espécies ameaçadas.
Nesta edição do Economia PR Drops, a diretora financeira Luciana Limanski fala sobre como a gestão familiar equilibra sustentabilidade econômica, conservação e turismo, além dos desafios e oportunidades que se desenham para os próximos anos. Confira:
Em 2025 o parque vem registrando recordes de visitação. Qual foi o impacto financeiro desses resultados e como eles influenciam nas decisões de investimento?
Luciana: Em 2025 o Parque das Aves vem registrando resultados históricos de visitação, o que tem gerado um impacto financeiro extremamente positivo. Para citar alguns números, em janeiro recebemos 93.712 visitantes, em março foram 65.971, em abril ultrapassamos 71 mil, em maio recebemos 60.709 pessoas, e em julho, mês das férias escolares, batemos 113.473 visitantes. Esses recordes mensais sucessivos representam não apenas a força do turismo em Foz do Iguaçu, mas também a consolidação do Parque como um dos atrativos mais relevantes do país. Esse desempenho tem reflexo direto nas nossas finanças. A receita gerada pelo aumento do público fortalece nosso caixa e amplia a capacidade de investimento, garantindo recursos não apenas para a operação, mas também para projetos estratégicos. Com uma operação mais robusta, conseguimos otimizar custos e, ao mesmo tempo, ampliar a previsibilidade necessária para sustentar nossos programas de conservação. Com isso, conseguimos investir constantemente em melhorias no Parque das Aves, sempre com foco no atendimento e recepção dos visitantes, na atratividade das experiências e, em primeiro lugar, no bem-estar animal. Um exemplo concreto é a inauguração do viveiro O Mundo dos Tucanos, que ampliou a experiência imersiva do visitante e reforçou nosso compromisso com inovação e cuidado. Também seguimos investindo em divulgação, em parceria e alinhamento com o trabalho do Visit Iguassu, apostando em mercados nacionais e internacionais já trabalhados pela instituição. Outro ponto essencial é a conservação. A saúde financeira do Parque nos possibilita investir de forma consistente em projetos de conservação, e os resultados são concretos. Em 2025, celebramos dois feitos inéditos na conservação de aves criticamente ameaçadas: o nascimento do uru-nordestino e da rolinha-do-planalto sob cuidados humanos. Esses marcos só foram possíveis porque temos hoje uma estrutura sólida, que garante recursos e equipe altamente especializada dedicada aos cuidados dos animais que vivem no Parque das Aves. Do ponto de vista financeiro, é muito claro para nós que cada visitante que recebemos não significa apenas ingresso e consumo, mas também um investimento direto no futuro da Mata Atlântica. Por isso, esses recordes de visitação reforçam a importância de continuarmos expandindo e inovando, sempre alinhando sustentabilidade econômica com nossa missão de conservação.
O Parque das Aves é uma empresa familiar que se tornou referência nacional em ecoturismo. Como vocês estruturam a gestão financeira para equilibrar conservação, turismo e rentabilidade?
Luciana: O Parque das Aves nasceu como uma empresa familiar e, ao longo de três décadas, construiu uma trajetória sólida que hoje o coloca como referência nacional em ecoturismo. Esse caminho foi possível porque estruturamos uma gestão financeira voltada para integrar, de forma equilibrada, a conservação, o turismo e a rentabilidade. Trabalhamos com um planejamento orçamentário, que garante a destinação de recursos tanto para a operação quanto para a expansão das nossas iniciativas. A receita proveniente da visitação, do Complexo Gastronômico e das lojas é continuamente reinvestida, de modo a fortalecer a experiência do visitante e, ao mesmo tempo, assegurar os investimentos necessários nos programas de conservação. Nossa lógica de gestão não está em maximizar apenas resultados imediatos, mas em construir sustentabilidade de longo prazo. Isso significa manter previsibilidade de caixa, investir em melhorias que ampliem a atratividade do Parque e, sobretudo, garantir estabilidade financeira para que a conservação seja sempre prioridade. Esse modelo nos permite olhar para frente com segurança, fazendo do turismo um aliado estratégico para a manutenção da biodiversidade e mostrando, na prática, que conservação e rentabilidade não apenas podem caminhar juntas, mas se fortalecem mutuamente.
Qual é o impacto do Parque das Aves na economia local em termos de empregos e movimentação financeira em Foz do Iguaçu?
Luciana: O Parque das Aves exerce uma influência significativa na economia de Foz do Iguaçu, atuando como um importante motor de geração de empregos e movimentação financeira na cidade. Contamos hoje com mais de 270 colaboradores, profissionais que vivem e vibram com nossa missão de proteger a Mata Atlântica e suas espécies, fortalecendo o vínculo entre conservação e economia local. Além do emprego direto, nossa presença mantém viva uma cadeia produtiva relevante, especialmente nos setores de turismo, hotelaria, gastronomia e comércio. O setor turístico em Foz representa mais de 15 % do total de empregos formais na cidade, evidenciando seu papel central no desenvolvimento socioeconômico regional. Estruturas consolidadas acabam atraindo visitantes, gerando renda, circulando capital e fomentando oportunidades de trabalho de forma indireta e ampla.
Como vocês enxergam a complementaridade entre o parque e outros atrativos, como as Cataratas, no fortalecimento do turismo e da economia regional?
Luciana: O Parque das Aves é parte de um ecossistema turístico que faz de Foz do Iguaçu um destino único no mundo. As Cataratas do Iguaçu são, sem dúvida, o grande ícone que atrai visitantes de todos os continentes, mas a força do nosso destino está justamente na complementaridade entre os atrativos. Quando unimos o Parque das Aves, a Usina de Itaipu, o Marco das Três Fronteiras e tantos outros espaços de visitação, criamos um polo robusto de turismo de natureza, ciência, cultura e lazer que incentiva o visitante a permanecer mais dias na cidade, ampliando o impacto econômico positivo para toda a região. Essa diversidade de experiências também é reflexo da nossa localização estratégica na Tríplice Fronteira. Foz do Iguaçu é um destino de natureza, mas também de cultura vibrante, onde convivem tradições brasileiras, argentinas e paraguaias. Esse mosaico enriquece a vivência de quem nos visita. Do ponto de vista econômico, essa complementaridade gera resultados concretos. A cada dia a mais que o visitante permanece em Foz, cresce o consumo em hotéis, restaurantes, transportes e comércio, gerando renda e empregos para a comunidade. Isso mostra que somos todos parceiros e, juntos, conseguimos fortalecer o turismo regional, diversificar a economia e, ao mesmo tempo, valorizar a conservação ambiental e a identidade cultural da região.
Em um mundo onde consumidores valorizam empresas com impacto positivo, como transformar a proteção da Mata Atlântica em diferencial competitivo para o parque?
Luciana: Vivemos um momento em que as pessoas buscam cada vez mais experiências autênticas e responsáveis, e isso se reflete diretamente no turismo. Para o Parque das Aves, a conservação da Mata Atlântica não é apenas parte da missão, é o coração da nossa estratégia e um diferencial competitivo que nos posiciona de forma única no mercado. Enquanto muitos destinos oferecem lazer e contemplação, aqui o visitante tem a oportunidade de viver uma experiência transformadora, conectando-se com as aves da Mata Atlântica e compreendendo, de forma prática e acessível, a importância de conservar um dos biomas mais ricos e, ao mesmo tempo, mais ameaçados do planeta. Esse propósito genuíno é percebido como valor agregado: nossos visitantes entendem que, ao comprar um ingresso ou consumir no Parque, estão contribuindo para ações concretas de conservação. Do ponto de vista econômico, isso gera um processo de fortalecimento contínuo. A transparência em mostrar nossos programas de resgate, reabilitação, pesquisa e educação para conservação gera credibilidade, fortalece a reputação da marca e aumenta a fidelidade do público. Em um mundo onde os consumidores estão atentos a práticas de ESG, esse posicionamento claro nos diferencia não só como atrativo turístico, mas também como agente de transformação socioambiental. Esse é o ponto que nos coloca em vantagem competitiva: não vendemos apenas um passeio, vendemos a oportunidade de fazer parte da proteção da Mata Atlântica. Isso amplia o engajamento, aumenta a disposição das pessoas em nos visitar e nos recomendar, e fortalece parcerias com instituições, empresas e governos que compartilham desse mesmo propósito.
Quais são os maiores desafios de negócios para o Parque das Aves nos próximos 5 anos (competição, regulação, mudanças no turismo, clima)?
Luciana: Apesar dos resultados positivos e do crescimento sustentável, o Parque das Aves encara alguns desafios cruciais que precisarão ser superados com estratégia e sensibilidade nos próximos anos. Em primeiro lugar, há a questão da competição crescente dentro do turismo regional. Embora tenhamos uma posição consolidada como destino de ecoturismo, estamos em permanente diálogo com outros atores. A retenção de visitantes por mais tempo na cidade exige que inovemos nas experiências e reforcemos constantemente nossa comunicação e valor agregado para nos mantermos relevantes e atrativos. A regulação ambiental e turística é outro ponto de atenção. Com o cenário de mudanças climáticas e maior pressão social por práticas sustentáveis, devemos nos antecipar a ajustes legais, certificações ou exigências técnicas que venham a ser impostas, seja na operação das trilhas, na gestão de resíduos, no uso de energia ou no bem-estar animal. A governança ESG ganha cada vez mais peso na avaliação de instituições como a nossa, e precisamos estar preparados para atender a essas demandas com rigor e transparência. Além disso, o Turismo em si tem vivido mudanças de comportamento importantes: o viajante de 2025 não escolhe apenas pelo destino, mas pelo propósito. Deseja experiências transformadoras, autênticas e alinhadas a valores pessoais. Isso requer uma comunicação mais envolvente, mais digital, mais personalizada, e um posicionamento claro em todas as frentes.
E as maiores oportunidades? Existe espaço para atrair mais investimentos privados ou parcerias internacionais para acelerar os projetos de conservação?
Luciana: As oportunidades para o Parque das Aves nos próximos anos são tão significativas quanto os desafios. O turismo de natureza cresce de forma consistente no mundo todo, e Foz do Iguaçu já se consolidou como um destino global nesse segmento. Isso nos coloca em posição privilegiada para expandir nossa atuação e fortalecer nossa missão de conservar as espécies da Mata Atlântica. Um dos caminhos é justamente a ampliação de parcerias nacionais e internacionais. Já temos um histórico de colaboração com instituições que trabalham a conservação em diferentes países, mas principalmente no Brasil, e acreditamos que há muito espaço para intensificar esse movimento. Projetos de conservação complexos, como programas de reprodução de espécies criticamente ameaçadas, exigem troca de conhecimento técnico, inovação e recursos financeiros que podem ser viabilizados por meio dessas alianças globais. Por fim, existe uma oportunidade ímpar em continuar oferecendo uma experiência única para o visitante. Cada vez mais, o público busca turismo com propósito, e o Parque tem credenciais autênticas para oferecer isso. Ao investir em novas vivências, educação para conservação e comunicação, conseguimos atrair mais visitantes, reforçar nossa sustentabilidade financeira e ampliar o alcance dos projetos de conservação.