De segunda à sexta (e às vezes em finais de semana) é isto: acordo às 7h30, preparo um café e já sento em frente ao computador. Daí em diante, não sei a que horas o dia vai terminar. Pode ser 16h30, mas também pode ser 19h30 ou 22h. Como divido meu tempo entre duas empresas (Economia PR e BASIS Comunicação), a rotina nunca é perfeita.
E sei que essa realidade não é só minha: empreender significa lidar com incertezas, prazos que se acumulam, responsabilidades que não acabam e, muitas vezes, uma carga emocional que não cabe no calendário.
É justamente sobre isso que precisamos falar em setembro, mês de conscientização sobre prevenção ao suicídio. O Setembro Amarelo nos lembra de olhar para a saúde mental com seriedade — e, no caso dos empreendedores, o alerta é ainda mais urgente.
Segundo um estudo da Endeavor Brasil, realizado entre outubro de 2023 e janeiro de 2024, 94,1% dos empreendedores de alto impacto já vivenciaram ao menos uma condição adversa de saúde mental relacionada ao trabalho.
Os números impressionam:
- Ansiedade afeta 85,6% dos empreendedores.
- 37% sofrem de burnout.
- 21% enfrentam depressão.
- Ataques de pânico foram relatados por 22%.
A maioria trabalha mais de 50 horas semanais (64,4%) e considera sua rotina estressante ou muito estressante (56,8%). Não por acaso, os principais fatores de desgaste mental estão ligados a problemas financeiros da empresa (60,2%) e à dificuldade de equilibrar vida pessoal e profissional (43%).
Quando ampliamos o olhar para além do universo dos negócios, o cenário é igualmente preocupante: o Brasil registra cerca de 14 mil mortes por suicídio anualmente, em média 38 casos por dia. A maioria são homens (79%), especialmente entre 20 e 49 anos. Entre as causas mais frequentes estão depressão grave, problemas familiares, uso de drogas e álcool, bullying e traumas emocionais.
No Paraná, os dados, divulgados pelo Ministério da Previdência Social, seguem a mesma tendência preocupante: em 2024, o estado registrou 24,7 mil afastamentos do trabalho por transtornos mentais, com destaque para ansiedade e depressão. Ocupamos a sexta posição entre os estados com mais afastamentos por saúde mental, e em 2025 criou uma campanha permanente de combate ao burnout, após o número de casos mais que dobrar na última década, com 28 casos em 2021, 42 em 2022 e 74 em 2023.
Tudo isso reforça a urgência do diálogo. Não aquele que apenas aponta os problemas, mas um diálogo amplo que traz, ainda, caminhos para a construção de resiliência. Não é só ficar naquele papinho de “aguente firme”, mas sim criar condições para sustentar o desafio de empreender sem se perder no processo.
Alguns pontos podem ajudar:
- Mudar a mentalidade: os erros e contratempos fazem parte da jornada. Em vez de encarar como fracasso, é possível vê-los como aprendizado. Essa mudança de perspectiva diminui a pressão e abre espaço para a evolução.
- Cuidar do corpo para cuidar da mente: movimento físico, pausas conscientes e técnicas simples de respiração ajudam a regular o estresse e clarear o pensamento. É como abastecer o carro antes de uma longa viagem: não dá para ignorar essa manutenção.
- Ter uma rede de apoio: empreender pode ser solitário, mas não precisa ser. Ter alguém com quem dividir angústias — seja um mentor, um colega ou até um amigo próximo — faz diferença para colocar as coisas em perspectiva.
- Definir limites e respeitar o descanso: parar não é preguiça, é estratégia. Reservar momentos de desconexão, seja para refletir, criar algo fora do trabalho ou simplesmente não fazer nada, é essencial para evitar o colapso.
Resiliência é também saber pausar, pedir ajuda, estabelecer limites e criar rotinas de autocuidado. Como mostra a psicologia, é justamente essa capacidade de adaptação que fortalece decisões mais conscientes e lideranças mais eficazes.
No meu caso, ainda não tenho uma rotina perfeita — e talvez nunca tenha. Mas aprendi que pequenos ajustes, como incluir pausas, caminhar entre reuniões, respeitar momentos de descanso e compartilhar dificuldades, fazem diferença.
Se você é empreendedor, líder ou profissional em qualquer área, meu convite neste Setembro Amarelo é: olhe para si com a mesma atenção que olha para o seu negócio.
Invista na sua saúde mental, estabeleça limites saudáveis e lembre-se de que não está sozinho nessa jornada.
Porque empreender é, sim, uma maratona, mas nenhuma maratona se vence sem preparo, sem apoio e, sobretudo, sem cuidar do corpo e da mente no caminho.