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Por que o free flow ainda não vingou no Brasil

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Foto: Divulgação

Por Kassio Seefeld, CEO da TruckPag


Nos últimos anos, temos visto um avanço importante na digitalização das rodovias brasileiras, com o crescimento expressivo das tags veiculares. Segundo a Abepam, mais de 12 milhões de motoristas já aderiram ao pagamento automático, número que cresceu 50% entre 2020 e 2023. É um sinal claro de que o motorista brasileiro está aberto à tecnologia, desde que ela funcione de forma clara e confiável.

Mas, quando falamos em free flow, o cenário muda. O sistema de pedágio sem cancela, apesar de promissor, ainda está longe de conquistar o espaço que poderia. Na prática, o que observo é que essa tecnologia esbarra em três obstáculos principais: falta de familiaridade, dificuldade de implementação e risco de inadimplência.

O primeiro ponto é a desconfiança. O motorista brasileiro, especialmente os profissionais que atuam com frotas pesadas,  ainda não compreende totalmente como o sistema funciona. É natural que surjam dúvidas: “serei cobrado corretamente?”, “como recebo o comprovante?”, “e se houver um erro de leitura?”. Essa insegurança gera resistência e, muitas vezes, leva à recusa da tecnologia.

O segundo desafio é estrutural. Implantar o free flow exige um investimento considerável em infraestrutura: câmeras, sensores, sistemas de leitura de placas e comunicação integrada. Muitas concessionárias simplesmente não têm condições de bancar essa transição, sobretudo em rodovias com baixo fluxo ou retorno financeiro limitado.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Direito Regulatório, apenas 4% dos investimentos no setor rodoviário hoje são destinados à adaptação tecnológica.

Além disso, o modelo de cobrança pós-uso,  por boleto ou meio eletrônico, introduz o risco da inadimplência, algo que não existe no pedágio tradicional. Dados recentes da CCR RioSP, a primeira a operar com o free flow no Brasil, mostram que a inadimplência chegou a 8,8% em março. Esse número acende um alerta: como equilibrar conveniência e viabilidade financeira?

Apesar desses entraves, acredito que o free flow tem potencial para se consolidar no país. É uma tecnologia que traz eficiência, melhora o fluxo viário e reduz impactos ambientais, ao evitar paradas desnecessárias. Mas, para que isso aconteça, precisamos de uma abordagem realista: mais informação, regulamentação clara, testes bem estruturados e, sobretudo, tempo para adaptação.

Não se trata apenas de instalar tecnologia, mas de construir confiança, algo que só se conquista com transparência, previsibilidade e respeito à realidade de quem usa as estradas todos os dias. O futuro do pedágio pode ser mais inteligente. Mas ele só será viável se for também mais acessível, compreensível e justo

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