Miriam Severo nasceu na cidade de Três Passos, no Rio Grande do Sul, e vive em Foz do Iguaçu desde 1997. Filha de pai de descendência bugre e mãe alemã, cresceu em uma família tradicionalmente gaúcha, em que o chimarrão sempre foi símbolo de afeto, encontro e rotina.
Mesmo formada em Direito, nunca se viu atuando na área. O coração sempre bateu mais forte pelo comércio, pelo contato com pessoas e pela venda, habilidade que desenvolveu em diferentes experiências profissionais no Brasil e no Paraguai.
Mas foi após enfrentar uma crise severa de síndrome do pânico que sua vida mudou de rumo.
“Meu psiquiatra disse: você precisa encontrar algo que goste de fazer. E eu encontrei no artesanato uma forma de cura”, lembra. Foi então que comprou uma cuia, uma térmica, pérolas e colas, criando seu primeiro kit de chimarrão exatamente como gostaria de comprar. Daquele momento íntimo surgiu uma nova trajetória, com a Mis Ateliê & Gautchê
Da terapia ao empreendimento
O que começou como um gesto terapêutico virou produção artesanal. Em pouco tempo, Miriam montou um ateliê em casa e passou a personalizar cuias, térmicas e kits completos. Atendia pela internet, sem ponto físico, e aos poucos formou uma clientela fiel que buscava suas peças exclusivas e carregadas de significado.
Para incrementar o novo negócio, a lojista resolveu adquiriu uma máquina de gravação a laser e hoje produz diferentes tipos de artesanatos personalizados.
A oportunidade de expandir surgiu com o Mercado Público Barrageiro, quando seu irmão adquiriu um box e a incentivou a fazer o mesmo. Mesmo relutante, por ter uma filha pequena, aceitou o desafio.
Em novembro do ano passado, inaugurou sua loja e levou para o espaço todos os clientes que antes atendia apenas online — somados aos novos visitantes que circulam diariamente pelo mercado.
Cultura, tradição e acolhimento em cada cuia
Com o negócio consolidado, Miriam abriu também um salão de beleza no mercado, ampliando sua atuação no mercado público. Apesar da rotina intensa, segue dedicada à personalização das peças a laser e ao atendimento corporativo, especialmente no período de fim de ano. Hoje, com apoio de uma colaboradora no turno da tarde, ela administra estoque, pedidos, gravações e gestão financeira.
A essência do seu trabalho, porém, segue ligada à tradição gaúcha que a acompanhou desde a infância. Para além das vendas, ela dissemina cultura: ensina clientes a preparar o chimarrão com a água na temperatura correta, indica o tipo ideal de cuia, orienta o preparo da erva e resgata o ritual afetivo da roda de conversa.
“A hora do chimarrão é momento de reflexão, de pausa ou de prosa boa. É onde a gente se encontra consigo e com o outro. E poder levar isso para as pessoas, através do meu trabalho, é continuar as raízes da minha família”, afirma.
Hoje, Miriam não apenas superou a fase mais difícil de sua vida, como transformou a força da cultura gaúcha em negócio, acolhimento e identidade. No Mercado Público Barrageiro, seu box é mais que uma loja: é um ponto de tradição viva, onde cada cuia conta uma história — inclusive a dela.